Falta de gás: caminhoneiros passam quase uma semana em fila para recarregar

Trabalhadores dormem nos caminhões e ficam expostos a assaltos nas vias

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  • Wendel de Novais

Publicado em 10 de novembro de 2022 às 05:00

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. por Arisson Marinho/CORREIO

O caminhoneiro Carlos Alberto Santos, 42 anos, chegou em Mataripe no sábado (05) para recarregar seu veículo com botijões de gás de cozinha a serem distribuídos na cidade de Inhambupe e nos municípios de Alagoinhas e Entre Rios. Nesta quarta-feira (09), ele continuava na fila esperando pela carga em uma das distribuidoras que repassam o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) processado na Refinaria de Mataripe, mas sem saber quando iria cumprir o roteiro da viagem. 

A situação, por conta da escassez do produto na Bahia após uma parada de manutenção programada na refinaria, não acontece apenas com Carlos Alberto. "Muitos colegas estão na mesma situação. Eu estou no sexto dia aqui, outros chegaram desde 3 de novembro. Esperamos dias fora do pátio e agora mais tempo do lado de dentro. Toda hora eles dizem que está faltando gás e, quando não é isso, falta botijão", diz.

A demora na fila fez com que 400 revendedoras de gás na Bahia fechassem as portas temporariamente por falta do produto. Na porta dos fornecedores, os caminhoneiros passam aperto e lidam com o desconforto para esperar. 

"No caso da alimentação, na verdade, eles oferecem. Porém, para dormir, a gente precisa do caminhão mesmo. A cama de casa faz falta, mas é algo que precisamos aguentar até a espera se normalizar por aqui no setor de carregamento", acrescenta o caminhoneiro Carlos Alberto.

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Rotina comprometida  Os caminhões maiores, que normalmente levam 24h para pegar a fila, descarregar e carregar, passam, agora, de seis a quatro dias na frente dos distribuidores. Esse é o caso de Samuel Sampaio, 32, que fazia três carregamentos por semana e que, nos últimos dias, faz apenas um. 

"Eu venho para Mataripe e volto para Seabra três vezes por  semana. Agora está difícil. Semana passada cheguei quinta-feira e só saí domingo. Voltei para cá na Segunda e estou até agora. Só esperando a lista para ver se volto sexta-feira ou sábado".

Samuel afirma ainda que, além do problema com a espera longa e a alteração na rotina de carretos que estavam acostumados a fazer, os colegas ficam fora dos estacionamentos dos fornecedores, expostos a assaltos. A insegurança apontada por ele ameaça trabalhadores como o caminhoneiro Fernando Araújo, 41, que aguarda para levar a carga de gás de Mataripe para a cidade de Utinga, na Chapada Diamantina. "Cheguei na quarta de manhã. Às vezes, ficava um dia ou dois quando tem demora, mas assim [quase uma semana] nunca vi. O pessoal falou que vai ser lá para sexta ou sábado [a entrega dos botijões aos caminhoneiros]. Não esperava tudo isso. Para dormir, vai ser no caminhão, e vou ter de usar um dinheiro para comer enquanto espero", conta ele. Samuel não sabe quando vai sair da fila (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Até  quem tem caminhão menor e costuma chegar e sair de Mataripe em duas horas, a espera se estendeu. Carlos Roberto Pereira, 47, chegou ao local anteontem e  vai ficar um dia na espera.

"No meu caminhão fazia isso [o carreto de gás] em menos de duas horas, às vezes. Porém, com essa falta, não vai ser possível e vou ter que passar a noite por aqui", lamenta ele, que leva o carregamento para Alagoinhas.

De acordo com os caminhoneiros, algumas das distribuidoras em Mataripe já chegaram a ter falta total do GLP para encher caminhões.  Fernando espera para levar GLP para Utinga (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O que diz a refinaria

A Acelen, empresa que administra a Refinaria de Mataripe desde o processo de privatização, informou que “está atuando para regularizar o fornecimento” de Gás Liquefeito de Petróleo – GLP.

"Unidades da refinaria estão passando por manutenção programada ou reativação e foi necessário ajustar os prazos originalmente previstos para a retomada de produção por questões de segurança de processo. Estamos desde então buscando meios alternativos para abastecer a todos", afirma a companhia, em nota. A empresa afirma, ainda, que espera regularizar a situação nos próximos dias.  Carlos vai levar carregamento para Alagoinhas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Robério Souza, diretor do Sindicato dos Revendedores de Gás do Estado da Bahia (Sinrevgás), diz que a posição da empresa deixa a situação incerta. "A Acelen diz que nos próximos dias vai normalizar gradativamente. Só que a informação é branda. Nos próximos dias significa quando? Daqui a três, quatro, cinco ou sete dias? Não temos informação muito precisa por parte deles".

Perguntado se há risco de a Bahia zerar o estoque de gás, o diretor do Sinrevgás afirma que a possibilidade é pequena e alerta que as pessoas não devem correr para comprar gás por conta da situação, já que isso pode prejudicar  mais o estoque.

"O risco de desabastecimento na Bahia é brando, embora exista. Agora, o pedido que a gente faz é para que o consumidor não antecipe as compras para que o mercado não colapse. Não precisa antecipar porque não vai haver um aumento no preço, isso é garantido", completa ele.