Falta o parça do 'Vai dar merda'

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  • Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Corria o primeiro governo Lula quando Chico Buarque sugeriu que, entre tantas pastas nascidas para “acomodar aliados”, se criasse o Ministério do Vai dar Merda.

A estrutura proposta era simplíssima: um ministro dotado de algum discernimento para apontar fatos que, cedo ou tarde, por óbvio, dariam merda, uma secretária para as tarefas cotidianas e, se muito, um carro oficial.

À época, todo mundo deu risada do chiste de Chico e fez pouco caso da sugestão. O tempo – e a carceragem da Polícia Federal em Curitiba - mostrou quem tinha razão.

Não quero aqui enveredar pelo mérito da acusação de estupro contra Neymar, pois cada hora surge um fato novo. É possível afirmar, entretanto, que este cidadão, jogador multimilionário que é, já passou da hora de contratar um Assessor do Vai dar Merda.

Observe que Neymar é acompanhado de perto por sei lá quantos caras que, até onde se sabe, não produzem muita coisa para a sociedade. São os “Tóis”, “Parças” ou qualquer outra nomenclatura que já tenha surgido e agora me escapa. Tem, inclusive, um “assessor” que providenciou toda a logística para levar a acusadora do suposto abuso ao encontro de Neymar em Paris, mas não tem uma alma sequer com a carteira assinada pelo grande gestor de carreira Neymar Pai para, no momento devido, premonizar o inequívoco desfecho: vai dar merda.

É claro que algum dia vai dar merda se um jovem talento revelado pelo Santos faz um contrato na surdina com o Barcelona, ajeita uma triangulação financeira mandrake para escapar de impostos e, ao fim e ao cabo, termina enfrentando o mesmo Barcelona já sob contrato com aquele rival. Ninguém disse isso a Neymar.

Também dá merda quando um atleta coloca como principal objetivo da carreira ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo, mas, no meio do percurso, resolve ir para um time da segunda divisão européia simplesmente porque a vaidade fala mais alto (nem vale citar a compensação financeira, porque sua fortuna já era montanhosa). Nenhum parça foi capaz de aconselhar Neymar.

Acumulada devido a outros acontecimentos mais ou menos cotados, a merda começa a transbordar quando uma estrela global do esporte dá um soco na cara de um torcedor em plena arquibancada só porque foi criticado. Na falta do assessor do “Vai dar merda”, o “estafe” de Neymar tratou de justificar a agressão.

Até que chegamos, enfim, à manchete da vez. Não sei se houve estupro, mas sei que Neymar não deveria ter divulgado em rede social a conversa (cheia de fotos íntimas) com a mulher que o acusa. Seus assessores acham o contrário – e já levaram até a culpa.

Um exercício imaginativo: se não houvesse qualquer acusação de estupro, mas fosse a mulher a vazar a mesma conversa, poderíamos estar discutindo agora que Neymar, às vésperas da Copa América, perambulava embriagado e “loco” pelas ruas de Paris, sem ninguém para lhe dizer que isso, um dia, pode(ria) dá merda.

De uns tempos pra cá, as notícias sobre o atacante passaram a ser menos por bola e mais pelas cont(f)usões ou eventos festivos. Essa semana, alcançaram a seção policial. Pior: até agora não apareceu nenhum parça remunerado para advertir Neymar que sua carreira, projetada para ser brilhante, está mudando de rumo. Está desviando para dar em merda.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados