Família de grávida baleada em ação da PM em Paripe será assistida pela Defensoria

Jucilene estava no sétimo mês de gestação do terceiro filho e perdeu o bebê

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  • Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2021 às 12:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

A Defensoria Pública da Bahia vai acompanhar o caso da gestante Jucilene de Santana Juriti, 23, atingida com três tiros durante uma ação policial em São Thomé de Paripe, na última segunda-feira (17). Jucilene estava no sétimo mês de gestação do terceiro filho e perdeu o bebê.

A área especializada em Direitos Humanos da Defensoria atendeu Ângelo Oliveira, 24, marido de Jucilene. Ele recebeu orientações jurídicas da defensora Eva Rodrigues, que vai acompanhar o caso, inclusive em uma audiência marcada na Corregedoria da Polícia Militar.

“Nós não temos condições financeiras, não temos como pagar advogado, estávamos sem saber o que fazer", afirmou Ângelo.

O estado de saúde de Jucilene é grave, mas estável. Ela está internada no Hospital do Subúrbio há quatro dias, em coma induzido. O bebê que estava em sua barriga foi sepultado pela família na última quinta-feira (20).

Relembre o caso Na segunda, Jucilene nem teve tempo de correr. Por volta das 16h30, ela foi atingida por três tiros, um deles na barriga, que atingiu o útero e matou seu bebê. A jovem sofreu lesões no rim, estômago e no baço, além de ter quebrado um braço.  

Jucilene estava na porta de casa ao lado da sogra e de seus outros dois filhos, de 3 e 5 anos. O mais novo estava sentado no colo da mãe quando ocorreram os disparos. Ele não foi atingido por muito pouco, mas ficou sujo com o sangue da mãe.

Mesmo baleada, Jucilene ainda encontrou forças para pegar os dois filhos no colo e levá-los para dentro de casa. Só depois ela caiu e pediu ajuda. O policial militar, que segundo testemunhas foi o autor de todos os disparos que atingiram a gestante, prestou os primeiros socorros e levou a vítima até o Hospital do Subúrbio.

Ângelo disse que os policiais perseguiam um homem que se escondeu no beco onde estavam a mulher, a mãe e os filhos dele. Ele contou que os policiais viram que a rua estava cheia e mesmo assim efetuaram os disparos. 

Caseira O casal Ângelo e Jucilene é evangélico e tinha se casado há oito meses, apesar de já terem outros dois filhos. Essa terceira gravidez era planejada e muito aguardada por todos os familiares.

Jucilene é conhecida por ser uma mulher tranquila, caseira e muito ligada à família. Durante a pandemia, ela evitava até sair para a casa da mãe por medo do coronavírus.

"Estou desacreditada de tudo. Isso está se tornando banalidade. Eu entendo que a bandidagem está grande e que eles não recebem a polícia com flores. Mas os policiais precisam ter treinamento. Eles não podem sair atirando à esmo num bairro em plena luz do dia", desabafa a mãe da jovem, Eliene Assis de Santana, de 42 anos.

Eliene tem problemas de hipertensão e ao chegar no hospital para visitar a filha, precisou ser atendida também pois passou mal.

Ela chegou a conversar com o policial autor dos disparos e ele contou que também é pai e que está colocando a cara à tapa para tentar salvar a vida de Jucilene.

Eliene cobrou alguma atitude do governador Rui Costa e o secretário de Segurança Ricardo Mandarino. "Quantas filhas, mães e crianças inocentes vão precisar morrer antes que alguém resolva esse problema? A gente vê acontecendo isso diariamente. Famílias sendo esfaceladas por conta de ações policiais", cobra.

Protesto Por conta da ação, familiares, amigos e moradores da região realizaram um protesto na manhã desta terça-feira (18) cobrando justiça. O grupo fechou o trânsito da BA-528.

Posicionamento da Polícia Militar Em nota, a Polícia Militar da Bahia informou que uma equipe da 19ª CIPM estava na Rua Adilson Ferreira, em Paripe, na tarde de segunda-feira (17), quando, de acordo com os policiais, se depararam com suspeitos que atiraram contra a guarnição.

As testemunhas ouvidas pelo CORREIO, no entanto, negam que houve um confronto entre policiais e bandidos e que apenas as autoridades efetuaram disparos.

A PM ainda informa que uma mulher grávida foi encontrada ferida e, em seguida, levada pelos policias para o Hospital do Subúrbio.

A nota encerra dizendo que o caso será apurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde a ocorrência foi registrada. "A partir do resultado da perícia técnica, a PM adotará as medidas legais cabíveis", diz a corporação.