Família do Candomblé aproveita feriado para se reunir em almoço

Sexta-feira da Paixão também reuniu famílias católicas em celebrações pela cidade

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  • Da Redação

Publicado em 30 de março de 2018 às 20:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

O tradicional almoço de Sexta-feira Santa não é um evento que reúne, exclusivamente, famílias católicas. Em Salvador, onde o prato principal costuma levar azeite de dendê no preparo, também é a ocasião perfeita para reunir famílias como a da ialorixá Hildelice Benta, 58 anos, moradora do Curuzu. No terreiro que ela comanda, o Ilê Axé Jitolu, esta sexta-feira (30) serviu para colocar, em mais um ano, boa parte dos parentes à mesa.

Segundo a tradição, nesse dia não se come carne vermelha, mas na capital baiana o peixe não foi o único ingrediente indispensável na ceia. Caruru e vatapá, em muitas casas, como a da ialorixá, foram pratos presentes - considerados até obrigatórios por alguns - no cardápio, sejam os comensais católicos ou não. Família reunida celebra a Sexta-feira da Paixão (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Hildelice mostra que o cardápio na casa é variado. Tem até um vatapá branco, especiaria da casa com um sabor tão bom quanto o modelo comum. 

“Minha mãe fazia a ceia e várias pessoas participavam, tanto da família como alguns amigos e conhecidos. Depois que ela morreu, em 2009, mantivemos a tradição porque esse é o momento em que aproveitamos para reunir a família, para celebrar”, contou. Festa é motivo para reunir e aproximar a família (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A Sexta-feira da Paixão, celebrada pelos católicos, não representa nenhuma data específica no candomblé, mas a ialorixá e os quatro irmãos, entre eles Vovô do Ilê, aprenderam a guardar respeito pela data.

Quando crianças, não podiam jogar bola, brincar de boneca ou ouvir rádio nesse dia. Além disso, durante a Quaresma, o terreiro suspende as atividades. Fiéis percorrem ruas do Centro Histórico com a imagem do Senhor Morto (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Procissão e emoção Além dos almoços que reuniram muitas famílias, por toda a cidade, diversas procissões religiosas lembraram a Paixão de Cristo. As homenagens ao Senhor Morto, celebrada toda Sexta-Feira da Paixão, mais uma vez impressionaram pela imagem de Jesus Cristo ensanguentado e carregado, como um corpo morto, sobre o andor.

Nesta sexta (30), paroquianos da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Centro Histórico, representaram alguns dos atos da Paixão durante a procissão que relembrou os passos de Cristo no caminho do Calvário. Demonstrações de fé aconteceram também durante a missa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O grupo deixou o templo por volta das 17h, carregando duas imagens: do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores. Com cânticos líricos e encenações teatrais, comoveram baianos e turistas pelas ruas por onde passaram.

As paulistanas Jaqueline Gouveia, 28 anos, e Larissa Antunes, 26, ficaram comovidas com a procissão. “É uma imagem muito forte, mas que nos dá a dimensão do sacrifício que ele fez para nos salvar. É tudo muito lindo”, contou Jaqueline. Fiéis seguem ao lado da imagem de Nossa Senhora das Dores (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Uma missa presidida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, foi celebrada antes da procissão. Durante a homilia, ele falou sobre as aflições pelas quais Jesus passou, e destacou a importância do sofrimento para a vida humana.

“O sofrimento não tem sentido sem êxito, e somos chamados a evitá-lo. Esse é o ponto de vista cristão. Só é possível invocar sentido no sofrimento quando ele é enfrentado por alguém, por amor. Quando isso acontece, estamos nos aproximando da cruz e começando a entender o que o sofrimento representa, com as várias dimensões: física, psíquica, social e espiritual”, afirmou. Católicos fazem orações durante a missa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Para quem perdeu a procissão e os almoços desta sexta, ainda resta uma oportunidade de participar das celebrações da Semana Santa.

Uma faixa no Curuzu convida para a queima de Judas neste Sábado de Aleluia (31), depois de um baba de saia - uma tradição profana, onde os homens se vestem de mulher para jogar futebol e beber vinho.

Já a Igreja São Pedro dos Clérigos, no Largo do Terreiro de Jesus, fará uma Vigília Pascal a partir das 19h. É só chegar.