Família faz homenagem para jovem autista morto em ação da PRF

Ato acontecerá no mesmo local em que o adolescente foi assassinado

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 21 de novembro de 2019 às 04:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: reprodução

Uma semana depois de perder o filho adolescente violentamente durante um tiroteio entre agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um bandido, o guardador de carros Juarez Conceição, 46 anos, contou que ainda não consegue passar pelo cruzamento da Avenida Cardeal Avelar Brandão Vilela com a Rua da Indonésia, na divisa entre Pirajá e Mata Escura.

As lembranças dos momentos de desespero ainda estão vivas na memória, por isso, a família fará uma ação no local, na manhã desta quinta-feira (21). Natanael de Araújo Conceição era autista e tinha 17 anos quando foi morto, na quinta-feira (14). Corpo de Natanael é sepultado no Cemitério Bosque da Paz (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) O quarto do adolescente permanece do mesmo jeito que ele deixou quando saiu de casa, na semana passada. A mãe dele, a vendedora autônoma Gisele Araújo, 45, fez questão de manter as coisas como estão. As fotos e as roupas no mesmo lugar, assim como as lembranças do filho. Ela é hipertensa e tem problemas cardíacos, por isso, está à base de remédios.

“Ela chora bastante e não está querendo comer. Cada coisa que vê, ela lembra dele. Está sendo muito difícil para a gente”, contou Juarez. Ele tem três filhas de outro casamento. Já Natanael era o único filho de Gisele. Juarez contou que a família está abalada (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Na quinta-feira, o adolescente estava de carro com o pai a caminho de mais uma consulta médica quando os dois foram surpreendidos por um bandido. O criminoso havia acabado de matar o motorista por aplicativo Neidson Brandão da Silva, 41, e estava tentando fugir. Os policiais alegam que o homem atirou primeiro e que, por isso, abriram fogo. Na troca de tiros, Natanael foi atingido e não sobreviveu. O bandido também morreu.

“É difícil esquecer aquele momento. Está tudo muito recente. Eu moro em Sussuarana, então, esse caminho é mais rápido para chegar em minha casa, mas eu não consigo passar por ali. A gente está dando uma volta pela Avenida Paralela. É mais longe, mais demorado, mas eu prefiro”, contou Juarez.

Foi para tentar superar esse trauma que a família planejou uma ação no local. Nesta quinta-feira (21), o crime completa oito dias. Familiares e amigos do jovem vão se reunir a partir das 7h no mesmo cruzamento com balões e pedidos de paz. “Não é para ser um protesto. É mais uma homenagem para meu filho. Ele merece”, disse. Caso aconteceu nas proximidades de Pirajá e Mata Escura (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Juarez contou que foi ouvido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na tarde desta quarta-feira (20), e que foi orientado pela polícia a aguardar o término dos depoimentos das testemunhas e a conclusão dos laudos periciais. Até o momento, nem ele nem ninguém da família foram procurados pela PRF.

Ele também faz parte da direção do Sindicato dos Guardadores e Lavadores de Veículos do Estado da Bahia (Sindguarda) e pediu justiça pelo assassinato do filho. Bandido matou um motorista por App antes de abordar Natanael (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Em nota, a PRF informou que os policiais envolvidos na ação foram afastados das atividades, mas não especificou quantos agentes foram afastados nem quando houve o afastamento. A assessoria disse também que a ação da equipe será apurada, inicialmente, por um procedimento interdisciplinar chamado de Instrução Preliminar. Após essa fase, é possível instaurar um procedimento administrativo.

Se houver comprovação de irregularidades, quando todas as investigações forem concluídas, os policiais rodoviários federais podem ser penalizados. Essa pena pode ser desde uma advertência, uma suspensão de até 90 dias ou demissão.