Farmacêutico que liberou cloroquina para médico morto por covid-19 é demitido

Funcionário trabalhava no Hospital do Cacau

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  • Da Redação

Publicado em 22 de abril de 2020 às 19:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O farmacêutico responsável por liberar a hidroxicloroquina para o tratamento do médico Gilmar Calasans Lima, 55 anos, que morreu em Ilhéus por conta da covid-19, foi demitido.

De acordo com o secretarário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, ele era funcionário do Hospital do Cacau e não poderia ter liberado as caixas do medicamente, uma vez que o protocolo exige que todos os remédios sejam administrados apenas em pacientes internados na unidade hospitalar.

"Não é que a hidroxicloroquina não possa ser comprada em farmácia, ela pode. Mas todos os remédios do hospital devem ser administrados apenas em pacientes internados. Por quebrar o protocolo, o funcionário foi demitido", informou ao CORREIO. Já o médico Rafael Klecius Reis Araújo, que prescreveu a substância, foi advertido.

"Ele foi advertido por ter usado o receituário do Hospital do Cacau. Ele enquanto médico pode prescrever, mas não com a receita do hospital, já que os medicamentos da unidade são de uso exclusivo de pacientes internados", completou.

Gilmar fez uso de hidroxicloroquina e azitromicina para tratar a covid-19. Ele apresentava melhora do quadro, quando teve um mal súbito e foi levado para o Hospital do Cacau, onde já trabalhou. Ele não resistiu e morreu na última segunda-feira (20).

Gilmar foi o 46º óbito confirmado por covid-19 no estado, que já tem 1.645 casos confirmados e 53 vítimas fatais. O médico teve os primeiros sintomas da doença em 11 de abril. 

Em nota, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) esclareceu que libera, mediante prescrição médica, o uso da associação dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina para pacientes exclusivamente internados no Sistema Único de Saúde (SUS) com diagnóstico positivo para o coronavírus. “Cabe ressaltar que outras alternativas terapêuticas também são disponibilizadas para emprego no tratamento de pacientes hospitalizados, tais como Ivermectina e Tocilizumabe”, informa o comunicado. (Foto: Reprodução) Relembre Sabe-se que Gilmar era hipertenso e diabético, mas tomava medicamentos e tinha o seu quadro controlado. Após passar mal com o tratamento domiciliar, o médico foi levado ao HRCC por familiares, onde deu entrada na emergência com um quadro de parada cardiorrespiratória. "Foi submetido a manobras de reanimação por 45 minutos, permanecendo sem estabilizar o ritmo cardíaco, terminando por evoluir para o óbito", explicou o secretário de Saúde.

Vilas-Boas chegou a usar as redes sociais para alertar sobre o uso da substância que vem sendo apontada como uma possibilidade de tratamento para a covid-19. "É sabido que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem levar a arritmias cardíacas graves potencialmente fatais. Seu uso deve ser precedido de avaliação cardiológica e realização de eletrocardiograma", ressalta.

Perguntado se o remédio foi o responsável pela morte do médico, o secretário acrescentou: "Ele estava melhorando da covid. Para mim, o mecanismo de morte é altamente sugestivo de arritmia por efeito adverso da medicação".

Gilmar foi o 46º óbito confirmado pela doença no estado. Segundo a Sesab, o médico teve os primeiros sintomas da doença em 11 de abril. Quatro dias depois foi internado no Hospital Regional da Costa do Cacau (HRCC), mas acabou não resistindo e morreu hoje. 

A direção do HRCC, onde Gilmar também trabalhava, divulgou nota lamentando a morte. "O colaborador permanecia em isolamento domiciliar na última semana quando nas últimas 48hs apresentou piora, sendo internado de urgência no HRCC", diz o texto. "Neste momento de dor e consternação, deixamos os nossos mais sinceros pêsames aos familiares e amigos", finaliza a mensagem.

A unidade de saúde foi procurada, mas ainda não se manifestou sobre a receita prescrita por um médico da instituição. 

Bahia autorizou tratamento com substância O secretário de Saúde da Bahia anunciou no dia 8 de abril que o governo do estado  liberaria, mediante prescrição médica, o uso da associação dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina para pacientes internados no Sistema Único de Saúde (SUS) com diagnóstico positivo para coronavírus (Covid-19). 

A deliberação ocorreu durante reunião da comissão científica criada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) para analisar as evidências científicas envolvendo a Covid-19, que aconteceu na tarde desta quarta.

De acordo com Vilas-Boas, que preside a comissão, “a recomendação é que os pacientes hospitalizados recebam os medicamentos o mais precocemente possível após a internação”, ao apontar que temos estoque suficiente para atender até 50 mil pacientes.