Feirantes de Salvador aumentam preços pela falta de alguns hortifrutis  

Quiabo subiu de R$ 5 para R$ 8, em São Joaquim

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 26 de maio de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto de Betto Jr./CORREIO

Até o caruru de Iansã, normalmente farto, teve que ser limitado a poucos quiabos. Na mão do feirante Carlito Santana, 50 anos, o legume não só quase dobrou de preço de anteontem para ontem, como se tornou escasso. “Ontem vendi a R$5, hoje a R$8. Esses são os últimos”, lamentava, apontando para o último montinho de uma das principais matérias-primas da culinária baiana. 

O que acontecia na banca de Carlito na maior feira livre de Salvador, em São Joaquim, era o resumo do que se viu na cidade. Além das feiras, do mercadinho de bairro ao supermercado, da delicatessen às bancas de frutas, a preocupação com a escassez existia. Com a falta de comida e com a perda de dinheiro. 

A Fecomércio calculou um prejuízo de até R$ 50 milhões por dia nos supermercados da capital baiana e região metropolitana caso persista a paralisação dos caminhoneiros e os estoques sejam esvaziados. A cifra sobe para R$ 150 milhões na Bahia.

Os supermercados soteropolitanos evitam falar em estoques vazios. Mas, há ausência de alguns produtos. Tanto que o setor de varejo já adotou ações. Pelo menos três redes de supermercados limitaram a compra de produtos para administrar o estoque enquanto dura a greve da categoria. Nas sete lojas do Walmart em Salvador, os clientes podem comprar, no máximo, cinco unidades de cada produto. Nos 10 Supermercados Gbarbosa e Atakarejo, o limite na compra é de 10 unidades. 

Isso na teoria, a partir de informações oficiais passadas para o CORREIO. Mas, na prática, observamos muita gente ultrapassando os limites sem qualquer problema. A aposentada Maria de Lurdes Cidreira, 89 anos, antecipou as compras que costuma fazer no final do mês para estocar comida em casa. Caprichou no feijão e colocou sete quilos no carrinho. “Minha família é grande. São cinco filhos, oito netos e dois bisnetos, além dos genros e noras. Todo mundo come lá em casa, né?”, justificou dona Lurdes. 

O gerente da loja Walmart da Avenida Antônio Carlos Magalhães, a maior de toda a rede, disse que a determinação para limitar a compra de produtos é só em caso de baixa do estoque. “O que passaram para a gente é que, caso entrássemos em um nível de estoque baixo, tomaríamos a medida. Mas, por enquanto, estamos tranquilos”, explicou Alex Pereira.

O gerente disse ainda que o Walmart tem uma central de abastecimento própria dentro de Salvador. “Ela que reabastece a gente. Tá chegando caminhão toda hora aqui. Até quando, não sabemos. Até porque, em algum momento ela vai ter que ser reabastecida, né?”. 

Alta de preços

Ele também negou que a loja estivesse praticando alta de preços por conta da greve. “São aumentos pontuais que não tem nada a ver com abastecimento. Mas a cesta básica, em si, não teve aumento nenhum”, garantou.    A principal preocupação dos estabelecimentos (e dos consumidores) era com os hortifrútis. “São perecíveis e chegam de outras regiões”, explicou Alex. 

Nas feiras livres, mercadinhos e nas bancas de frutas, os hortifrútis  já começavam a faltar. Nas Sete Portas e na própria São Joaquim, achar pimentão, por exemplo, era mais difícil que achar quiabo.

A feirante Fátima Moreira, 70 anos, vendia quatro pimentões pequenos por R$ 2. Há 40 anos trabalhando em São Joaquim, disse que nunca viu nada parecido. “Aliás, vi sim. Só na época de Sarney. Faltou carne, faltou feijão e faltou verduras e frutas”, lembra.

A própria dona Lourdes, que reforçou a despensa com feijão no Walmart, observou a falta de alguns produtos. “Não vi cenoura, hortelã, acelga. O pimentão estava no fim. Um horror”, disse.   

A Associação Baiana de Supermercados (Abase) confirmou o que vimos nas ruas. Frutas, verduras, perecíveis e carnes são as principais preocupações durante a paralisação. A associação informou, ainda, que busca, por meio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), “uma sensibilização do Governo Federal, evitando assim, que a população baiana sofra com a falta de produtos”. 

Oásis

Em meio à certa de limitação de produtos, supermercados atacadistas eram um oásis. Primeiro porque seus estoques são grandes. Segundo, porque eles vendem em quantidade. O casal Nelson Martins, 55 anos, e Marlene Moreira, 45, compraram cinco pacotes de dez quilos de farinha de trigo. Eles produzem salgados para festas. “Tivemos que antecipar o abastecimento. É o nosso ganha pão”, disse Nelson, confirmando que já não encontrou alguns produtos nos mercados de bairro. “Frango não tem mais nos abatedouros e carne tá faltando nos açougues”, disse Marlene.

O gerente do Mercantil disse que o supermercado estava cheio para uma sexta-feira ainda longe do final do mês. “Normalmente, eu não teria filas em uma data com a de hoje. O pessoal está se precavendo”, observou Adailton Batista. Ele disse que conseguiria segurar o estoque por pelo menos mais uma semana. “Ainda não pensamos em restringir porque tem estoque, mas nesse ritmo só dura uma semana”. 

*Colaborou Fernanda Lima, com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier