Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Kátia Borges
Publicado em 13 de julho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Estar de férias é como mergulhar. Requer concentração e esquecimento. Debaixo da água, aprendemos: respirar não requer ciência alguma. Parece mais com estar em silêncio. Primeiro abandonamos o peso do corpo. Em seguida nos movemos de outro modo. Quem sabe o tempo, entende o logos, é quase dança. O espaço no qual oscila um mundo em suspenso. Isso se vê na volta. Vai vendo.
No momento, dedico minha vida a observar um pássaro. Mesmo ciente da miséria e dos enganos do mundo. No momento, dedico minha vida a cultivar uma begônia. E é tão devagar que tudo evolui em torno, se é que sim. Então que seja sagrado se guardar um pouco, que seja santo se furtar a tudo que tenha voracidade e até, quem sabe, voltar aos cadernos de desenhos. Em câmera lenta, venceremos, se é que há de.
Sempre que penso em férias lembro a minha mãe e o meu pai. Felicidade a gente aprende, é preciso treino. Levei de herança o improviso dos peixes assados na brasa. Uma maresia que seguia grudada nas roupas o dia inteiro. Os licuris esparramados no assoalho da varanda. O velho Bau chegando em casa e chamando para uma viagem sem planejamento, dirigindo o seu chevette repleto de coisas.
A incompletude que reside nesse conceito de coisas que temos. Pela estrada afora, colhendo frutas maduras e objetos sem utilidade prática. Rumo à fazenda dos tios, em Barro Vermelho. Em direção à praia, uma miríade de primos. Quantas vezes chorei de desejo. Rever o verde, pescar as tardes com o anzol na lagoinha. Olhar o azul sem redes, as ondas espargindo seu salitre nas rochas do quebra-mar.
E aquela confiança no desajeito de chegar a qualquer hora e ter comida pronta, as postas fritas de Dourado fresco, as moquecas de ovos, o feijão perfumando o restaurante pequeno com aroma de família. O riso quase sem dentes das tias mais idosas, sempre se despedindo. A sensação deliciosa que ainda hoje experimento ao escutar a palavra veraneio. Mas onde estão aqueles que mergulhavam comigo, os pés muito brancos e finos, nas águas quase transparentes? Esse rio que passa e leva gente, esse oceano de infinitos.