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Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
De antemão, a resposta: não. Fernandão não é ídolo do Bahia, status que, pelo menos nesta opinião pouco importante sobre o assunto, cabe a Beijoca, Bobô, Zé Carlos, Lima ou Uéslei, para ficar só em cinco. Mas isso é porque recuso banalizar a palavra ídolo, como forma de protegê-la, já que hoje tudo é tão fugaz. Na prática, o sentimento que Fernandão despertou na torcida do Bahia, ontem, no aeroporto, nas redes sociais e na Fonte Nova, foi de idolatria. E muita.
Resta-me então uma situação em que é necessário criar uma nova categoria. Fernandão não é ídolo do clube, mas é da torcida tricolor, o que é muita coisa para quem passou apenas oito meses no Bahia. E não foi em qualquer temporada. Foi em 2013, ano marcado por intervenção judicial, duas goleadas humilhantes para o Vitória (5x1 e 7x3), nenhum título conquistado e quase rebaixamento à Série B.
Aí está o melhor da relação. É por ter sido um valente em meio à tormenta que Fernandão é merecedor de todo o respeito de quem o aplaude. O atacante chegou como terceira opção para um setor que tinha Souza e Obina, conquistou seu espaço na raça e com ela foi em cada dividida, dentro ou fora de casa. Anotou 15 gols na Série A daquele ano, marca fundamental para evitar um rebaixamento que tinha tudo para se concretizar, tamanha era a turbulência nos bastidores.
A recepção eufórica na chegada do jogador mostra que troféu não é pré-requisito para idolatria, por mais estranho que pareça, já que os times mais marcantes são os que vencem campeonatos. Fernandão fugiu à regra.
Talvez tamanha admiração não fosse possível na época sem as redes sociais, que mudaram as relações humanas. Depois que terminou o empréstimo no Bahia e o Atlhetico Paranaense o negociou com o Bursaspor, da Turquia, no início de 2014, o jogador sempre deixou claro seu carinho pelo tricolor: publicava fotos, vídeos, comentava sobre o time. Queria dizer que estava perto, mesmo longe.
E bota longe nisso. O abismo entre o patamar financeiro de um e de outro inviabilizava o retorno. Em alta na Turquia, Fernandão foi para o tradicional Fenerbahçe. Por lá, salário astronômico, Liga dos Campeões da Europa, o holandês Van Persie comendo banco pra ele. Por aqui, o Bahia sentia falta dos gols decisivos e caía para a Série B, onde ficaria pelos dois anos seguintes.
Até que, numa dessas situações que a vida às vezes apronta sem pedir consentimento, o retorno se torna não só possível, como desejado. Uma terrível fatalidade – o atacante e sua esposa perderam uma filha prestes a nascer – faz o jogador querer mudar toda a programação.
Os petrodólares da Arábia Saudita (já não estavam mais na Turquia) compram quase tudo, mas de repente deixaram de dar o mais básico, e o gigante de 1,92 m decide que é hora de voltar para o ninho. Fernandão e família querem afago, acolhimento, querem estar perto dos seus. Em que clube ele consegue ter tudo isso?
Bingo, Fernandão! Só o tempo dirá se a versão 2019 ainda é tão goleadora quando a de 2013 e se o Bahia realmente acertou em cheio na contratação do jogador, agora o mais caro do elenco. Mas se é carinho que faltava, isso ele já tem de sobra. Como um ídolo.
Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras