Festa do excesso: psicóloga fala sobre a euforia desmedida para viver o 'pós pandemia'

Sheyna Cruz Vasconcellos foi a entrevistada de Jorge Gauthier no programa Saúde & Bem- Estar

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  • Felipe Aguiar

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 20:46

- Atualizado há um ano

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A pandemia do coronavírus, apesar de ser um evento sem precedentes, tem gerado efeitos conhecidos pelos estudiosos baseados em outros momentos de pestes. Peste bubônica, varíola, cólera, gripe espanhola e gripe suína (também conhecida como a H1N1) foram outras epidemias que interferiram nas dinâmicas mundiais. E o que elas têm em comum com a pandemia da covid-19? Todas foram sucedidas por excessos - financeiros, sociais, sexuais etc. A psicóloga, psicanalista e professora da Unijorge, Sheyna Cruz Vasconcellos, explica que a euforia da população com o pós cenário caótico é comum. “Na literatura histórica, é o que acontece após pandemias”, completa.

A psicóloga, que foi a convidada do programa Saúde & Bem- Estar, do CORREIO, comandado pelo jornalista Jorge Gauthier, desta terça-feira (26), reforça que a frase  “a pandemia não acabou, mas tem gente agindo como se ela nem tivesse começado” é justificada por essa ânsia da população por viver o que o isolamento impediu. Sheyna ainda brinca que as pessoas estão vivendo na “pegada Lulu Santos”. E é nessa história de “viver tudo que há pra viver” que os excessos e os perigos se estabelecem. A pandemia ainda não acabou e, apesar das baixas taxas de ocupação, ainda é necessário usar máscara, álcool e manter o distanciamento como forma de proteção.

De acordo com a especialista, o isolamento e a falta de contato somados ao luto interrompido das pessoas geram esse processo eufórico e desmedido. Mas, ao mesmo tempo que se tem os excessos, no outro lado da moeda estão as pessoas que criaram uma fobia do contato. Sheyna alerta que um novo dilema da retomada da vida é o querer e o não querer manter qualquer tipo de contato físico. A psicóloga comenta que o vírus, para além de biológico, é um vírus social que interfere na forma de lidar com sua relação com o outro. Ela também afirma que o momento é de readaptação das relações - sejam elas interpessoais, românticas, acadêmicas ou familiares.

Ainda sobre o tópico das adaptações às dinâmicas dos novos tempos, Sheyna fala sobre os dilemas das crianças voltando para as escolas. “Elas são crianças; querem brincar e correr”, comenta sobre a falta de concentração relatada por pais e professores do ensino infantil. A psicóloga diz que é normal essa falta de costume por parte das crianças e a priorização delas pelo contatos com os amigos. Ela ainda comenta que é preciso tomar cuidado com a patologização da situação. “Espero que não comecem a dizer que todos estão com déficit de atenção”, declara.

Como professora, Sheyna também descreve sobre as mudanças no ensino. “Entramos na casa das pessoas e passamos a ver realidades que antes não chegavam para nós”, afirma. Além desse escancarar das individualidades, outro desafio da educação à distância é a mudança na relação entre professores e alunos no espaço virtual. As reflexões sobre o ensino ainda se estendem para o cansaço das telas, como pontua a especialista. Por fim, ela pontua que o momento de inseguranças é uma chance de perceber o que não está certo em nossas vidas. “A pandemia é um momento de reflexão para a gente perceber que a gente não tava vivendo bem”, conclui.

*com a supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier