Festa do pijama: marca baiana criada na pandemia fatura R$ 8 mil com peças infantis

Encorajado pela filha Manuela, de 10 anos, o advogado Guilherme Gottschall conseguiu recuperar a renda que a família havia perdido por conta da crise

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  • Priscila Natividade

Publicado em 9 de agosto de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo pessoal

Era uma vez uma menina chamada Manuela que viu o pai, o advogado Guilherme Gottschall, meio abatido num momento em que o escritório precisou ser fechado, devido à necessidade de ficar em quarentena. O número de clientes caiu bruscamente com a redução da movimentação de ações na Justiça, o que o levou a perder 70% da sua renda. E foi ela quem encorajou Guilherme a transformar em negócio, a vontade antiga de apostar numa marca infantil. Até o nome, Manuela, de 10 anos, sugeriu:

“Sempre tive o sonho de ter uma loja de roupas infantis e compartilhava essa vontade com a minha filha. Eu estava trabalhando pouco, sempre em casa e bem desmotivado. Ela perguntou por que eu não aproveitava para abrir a loja. Sentamos no computador e fiz a arte de uma logotipo com três crianças, ainda pensando no nome que daria. Aí ela falou: Threekids. Foi assim que a empresa surgiu há quase três meses”, afirma Guilherme. Os pijamas são personalizados e feitos sob medida. Dá para escolher a estampa, tamanho e modelo (Foto: Acervo pessoal) A Threekids (@threekids.br) se especializou no item queridinho da temporada de confinamento — o pijama — e agregou mais valor ainda com a produção sob medida, do tamanho, modelo e estampa que a criança quiser. Com um investimento inicial de R$ 2,5 mil, a festa começou após a primeira venda no fim do mês de maio. De lá para cá, são vendidos oito pijamas infantis por dia, uma média de 56 por semana, somando 224 peças por mês.

Manuela costuma ainda fazer as entregas com o pai e adora gravar os vídeos. A ideia surpreendeu tanto, que o crescimento nas vendas chegou um pouco mais que 100% nos últimos dois meses, com faturamento de R$ 8 mil. O valor permitiu que Guilherme recuperasse a renda que tinha como advogado, antes do escritório fechar. E essa coisa do isolamento social ajudou muito, como ele garante.“A produção inicial foi de 25 pijamas, que vendemos numa semana. A peça tem sido bem demandada e o isolamento social reforça isso, visto que passamos a ficar mais em casa. O chamado ‘pijama que não tem cara de pijama’ ganhou força, sobretudo, por ter se tornado um item que pode ser usado pelas crianças até nas aulas virtuais”, conta. Nesse momento em que a casa se transformou em tantas coisas ao mesmo tempo, passando a ser não só o lar doce lar, mas, também, o escritório, o restaurante e até a sala de aula, a marca já cogita expandir já neste mês a produção de pijamas para os adultos também. “Temos vários pedidos programados, principalmente, na proposta de combinar com os filhos, tornando o pijama uma roupa de família”, pontua Gottschall.

Bons sonhos  A produção própria com a proposta de personalização, segundo o advogado, proporciona momentos que esquentam o coração na pandemia. “Houve um pedido muito especial, que foi da nossa primeira bebê, a Analu. Nunca tínhamos feito um pijama para bebê”, diz.  

O advogado conta que a mãe da bebê não encontrava a peça, devido ao tamanho, já que ela só tinha três meses. “Quando soube que fazíamos, nos procurou. Porém, faltavam uns três dias para um aniversário virtual que a família iria participar. Lutamos contra o tempo e produzimos o pijama, que ainda combinou com o da irmã mais velha, Maria Flor. Isso mostrou o quanto é fundamental essa conexão com cada cliente”, lembra.

O desafio hoje é manter a produção sob medida, que fica cada dia mais difícil de ser atendida devido ao aumento do volume de pedidos. “Porém, estamos dispostos a produzir menos, a favor da permanência desta que é a  nossa marca pessoal. Isso deve se refletir, desde o cuidado da preparação, até o atendimento e a entrega. Na verdade, tudo vem do trabalho com amor. Por mais clichê que pareça, a receita é esta mesmo”, ressalta.

Entre as estampas mais pedidas está a de vaquinha verde e preta que conquistou não só meninos e meninas, como também a família inteira.“Queremos saber quem é nosso cliente e qual a roupa que ele deseja vestir. Tomei cursos de marketing digital, dormia de madrugada assistindo a vídeos de como movimentar empresas nas redes sociais. No primeiro momento, funcionou mais pelos grupos de condomínios e vendas, divulgação de amigos e clientes. Hoje já vendemos pelo Instagram. Tem que ter postagem todo o dia”.A festa do pijama continua mesmo com a reabertura do escritório de advocacia. “Aumentamos, inclusive, o número de costureiras. Começamos com uma só, estamos com duas, mas planejamos contratar mais. A ideia é dar continuidade e investir ainda mais na Threekids. Para além da questão do retorno financeiro — que impressiona, se pensarmos que vivemos num cenário de crise — é algo que tem dado muito prazer, principalmente, por ser uma marca que idealizei com a minha filha. O significado disso é muito grande”, completa Guilherme. 

CINCO DICAS PARA ENXERGAR UMA OPORTUNIDADE DE RENDA NA PANDEMIA

Enxergue  o problema  “Podemos crescer no momento de caos. Perdi a maior parte da minha renda e num momento que a minha filha me viu chateado. Ela me lembrou que eu tinha outros sonhos”, diz Guilherme Gottschall.

Entenda as necessidades Mais que as roupas, os pijamas se tornaram itens de extrema necessidade e difíceis de encontrar em uma versão mais personalizada. “Trouxemos uma solução para o mercado”.

Preferências Quanto maior a possibilidade de personalização, melhor. “Qualquer tipo de personalização ganha destaque, atualmente, em um momento em que aspessoas querem se sentir valorizadas e únicas”.

Não precisa ter loja física O online está aí e cheio de oportunidades. Dá para vender até sem criar um site, pelas redes sociais. A pandemia deixou isso claro para todo tipo de empreendedor desde o micro até as grandes empresas.

Acredite no seu produto  “Inicialmente, tentamos comprar as peças junto a um fornecedor, mas incomodou muito os tamanhos ‘engessados’. Não sei costurar, mas decidi que faríamos a nossa própria produção”, destaca Gottschall. 

Quem é Guilherme Gottschall  é advogado cível do escritório Costa e Gottschall e criador da marca de pijamas Threekids