Festa Literária de Cachoeira coloca a Bahia na rota do debate cultural

Evento gratuito que começa nesta quinta-feira (24) destaca a memória e a história; veja a programação

Publicado em 23 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Falta pouco para começar a 9ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), um dos principais eventos de literatura do país que movimenta, de quinta-feira (24) a domingo (27), a cidade de Cachoeira (a 110 km de Salvador). A programação gratuita reúne autores de diferentes gerações e gêneros literários em torno de dois grandes eixos: a memória e a história.

“É sempre importante a gente trazer essa memória e essa história, pra gente se reconhecer como povo que produz”, destaca a curadora da Flica, a poeta, jornalista e colunista do CORREIO, Kátia Borges, 51. Por isso, duas mulheres e dois homens abrem o debate, na quinta, em mesas distintas que abordam esses temas de alguma forma.

A partir das 15h, a historiadora e antropóloga paulista Lilia Schwarcz se encontra com a escritora carioca e colunista do site The Intercept Brasil, Eliana Alves Cruz, para se debruçar sobre as contradições e peculiaridades do Brasil contemporâneo. Em seguida, às 19h, quem entra em cena é o escritor baiano Itamar Vieira Junior, vencedor do prêmio LeYa 2018, cuja obra mergulha no sertão profundo. Ao seu lado, estará o escritor paulista Marcelo Maluf, finalista do Prêmio Jabuti (2016), para debater a subalternidade na ficção.

“É o momento de se olhar no espelho, de ver o próprio rosto, se assombrar e se conscientizar. A partir daí, se reconstruir como Brasil. Espero que essas primeiras mesas sejam marcadas por diálogos saudáveis, porque a gente está precisando”, deseja Kátia. A ideia, segundo a curadora, é colocar esses autores em contato e, a partir de mesas gratuitas, aproximar os leitores do debate. Kátia Borges é curadora da Flica 2019 (Foto: Marina Silva/CORREIO) Olhar feminino Primeira curadora mulher a tomar conta da programação geral do evento, Kátia compõe o time ao lado das veteranas Lília Gramacho e Mira Silva, responsáveis pela Fliquinha, e da novata Bárbara Sá, convidada para ser curadora do novo espaço Geração Flica. “São vários olhares femininos, atuando cada um na sua perspectiva. É uma abertura positiva em um universo antes dominado pelo olhar quase exclusivamente masculino”, comemora Kátia.

Única atração a participar da mesa principal e da Geração Flica, a escritora e jornalista carioca Thalita Rebouças será vista duas vezes na sexta-feira (25). Às 10h, ela bate um papo com o escritor baiano Saulo Dourado na mesa A Leitura não Precisa ser Essa Coisa Chata. “Muita gente passou a me conhecer, a gostar de ler por causa do humor dos meus livros. Então, é difícil pensar em trabalhar de outra forma”, conta Thalita.

Já às 14h, a autora conversa sobre as adaptações de livros no cinema, como porta de entrada para os jovens na literatura. Filme que está em cartaz, Ela Disse, Ele Disse, é baseado em seu primeiro livro, por exemplo, que tem mais de 100 mil exemplares vendidos. “A cada filme que lanço, é mais uma nova galera que ganho, que começa a conhecer o universo dos meus livros”, vibra a escritora.

Potência Refletir sobre o poder da literatura é, portanto, uma das provocações da Flica esse ano. Seja na escolha da homenageada, a escritora baiana Gláucia Lemos, seja na seleção de autores. No primeiro caso, segundo Kátia, Gláucia reúne os atributos necessários a um bom escritor: “produtividade, versatilidade, criatividade e persistência”, afinal, em 2019, ela completa 40 anos de produção ininterrupta.

Já quando o assunto é a programação, a maioria dos autores trabalha com história e memória a partir da ficção. “Sem representação no mundo, a gente não sobreviveria. O dia a dia é difícil e a literatura nos leva a aprender a lidar com a diversidade, com o outro. A gente está passando por uma fase crítica, mas acredito que a gente vai sair mais forte. Acredito na força da arte, da literatura. Tenho essa mania”, diz Kátia.

Programação da Flica/Mesas

Quinta-feira (24) 15h: Lilia Moritz Schwarcz e Eliana Alves Cruz na mesa Cartografias do Brasil Contemporâneo. Mediação: Zulu Araújo. 19h: Itamar Vieira Júnior e Marcelo Maluf na mesa Cartografias da Subalternidade: a Construção do Lugar do Outro. Mediação: Wesley Correia.

Sexta-feira (25) 10h: Thalita Rebouças e Saulo Dourado na mesa A Leitura não Precisa ser Essa Coisa Chata. Mediação: Ronaldo Jacobina. 15h: Mariana Komisseroff (Argentina) e Natália Borges Polesso na mesa A Literatura que Ousa Dizer o Seu Nome. Mediação: Mariana Paim. 19h: Maria do Rosário Pedreira (Portugal) e Antonio Brasileiro na mesa Estratégias do Eu-lírico, Esse Eterno Fingidor. Mediação: Mônica Menezes.

Sábado (26) 10h: Bráulio Bessa e Antônio Barreto na mesa Pra Cada Canto que eu Olho, Vejo um Verso se Bulindo. Mediação: Maviael Melo. 14h: Lande Onawale e Jovina Souza na Mesa Sobrevivências: a Poesia Frente ao Mundo. Mediação: Lívia Natália. 17h: Marcelo D` Salete e Hugo Canuto na Mesa Quer que Desenhe? Perspectivas Negras nos Quadrinhos. Mediação: Luana Assiz. 20h: Gláucia Lemos – Autora homenageada 2019 na mesa Contemplação, Criação e Mergulhos. Mediação: Carlos Ribeiro.

Domingo (27) 10h: Irmandade da Palavra Convida Slam das Minas Bahia na mesa A poesia Apresenta suas Armas.

Serviço O quê: Festa Literária Internacional de Cachoeira – Flica 2019 Quando: 24 a 27 de outubro de 2019 Onde: Cachoeira (a 110km de Salvador) Entrada gratuita