Festival de Capoeira reúne brasileiros e estrangeiros na Pedra de Xangô

Local sagrado para religiões de matriz africana recebe 8ª edição do evento

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  • Fernanda Meneses

Publicado em 4 de agosto de 2019 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

“Vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou”. Acompanhado de palmas e berimbau, o trecho da cantiga entoada na grande roda na Pedra de Xangô, em Cajazeiras, formada na manhã deste domingo (4), talvez tenha inspirado os dois capoeiristas a deslizar com mais facilidade para lançar golpes e se esquivar de outros.

Pensando em juntar a luta pela preservação cultural e ambiental da pedra e o festival de capoeira, os organizadores do Festival Utra de Capoeira Regional, que recebe praticantes do Brasil e do exterior, realizaram a oitava edição do evento num espaço considerado sagrado. Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO A Pedra de Xangô, localizada na Avenida Assis Valente, em Cajazeiras 10, está ali há mais de 2 bilhões de anos. É um símbolo de luta e resistência para a população negra e os adeptos as religiões de matrizes africanas, tombado pela Fundação Gregório de Mattos em 2017 e reconhecido como Patrimônio Geológico do Brasil.“É preciso dar visibilidade a todas essas conquistas que o povo de Salvador, o povo negro, conseguiu viabilizar para essa área, que é remanescente de Mata Atlântica e Quilombo”, explica Maria Alice Silva, integrante do Grupo de Pesquisa Etnicidades, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba. Maria Alice Silva faz parte do Grupo de Pesquisa Etnicidades (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O mestre Jegue Alex reforçou a importância de o evento acontecer na Pedra de Xangô e disse estar muito feliz por terem conseguido registrá-lo no calendário oficial de Salvador.

“A gente fica feliz de estar trazendo a capoeira para esse local de referência de Cajazeiras, por uma questão ambiental, preservação histórica, ancestralidade mesmo”, afirma Mestre Jegue.

Comitiva internacional Todos os anos, o Utra reúne capoeiristas de vários lugares do mundo e, neste ano, os organizadores trouxeram 20 capoeiristas de países europeus como Portugal e Espanha.

O festival dura uma semana, e o encerramento acontece no próximo domingo (11), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba, com a formatura dos graduandos de capoeira, além de duas palestras.

Depois de Salvador, a cidade de Santiago de Cali é a que conta com o maior número de negros fora da África, e a presença do candomblé por lá também é muito forte. Pensando em se aprofundar ainda mais na sua cultura ancestral, o ator colombiano John Alex Castillo está na capital baiana gravando um documentário sobre as duas cidades e, neste domingo, compareceu para entender um pouco mais desse movimento.

“Para mim, está sendo um processo enriquecedor. Estou tendo a oportunidade de conhecer o trabalho de líderes, mulheres e homens, que têm uma identidade muito clara. Temos problemas parecidos e um desejo de um lugar melhor para nossa população afro”, conta. John Alex Castillo fica na cidade até o dia 15 de agosto gravando um documentário (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O projeto é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Etnicidades com a Casa dos Olhos do Tempo e tem apoio do Ministério Público do Estado (MP-BA) no projeto APA Municipal Vale do Assis Valente e o Parque em Rede Pedra de Xangô.

*Com orientação do editor João Galdea.