Festival do Acarajé distribui neste domingo 6 mil bolinhos na Praça da Cruz Caída

Evento é em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado dia 25

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 28 de julho de 2019 às 15:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

O cheiro da massa frita no azeite guiava todos aos tabuleiros espalhados na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico, na manhã deste domingo (28).  Como numa espécie de transe, muitos estavam ávidos na fila pela iguaria mais famosa da Bahia. A chuva que caia vez ou outra era o menor dos problemas: o maior era sair dali com sensação de ter comido apenas um dos 6 mil quitutes ofertados no 3º Festival de Acarajé de Salvador.

“Não é por falta do acarajé. Este ano estamos ofertando o dobro do ano passado”, deixou claro ao CORREIO Rita Santos, presidente da Associação de Baianas do Acarajé (Abam). “Verdade. É porque preciso trabalhar. Dei uma escapulida do serviço só para matar a vontade”, disse a Magnólia Prates, 39, balconista de uma cafeteira no Centro. “No ano passado, vim também, só que comi uns três. Hoje vai será só um por que só tem duas pessoas na loja, eu e uma colega. Mais tarde ela vem buscar o dela”, emendou Magnólia.  Frequentadores da Cruz Caída fizeram fila para experimentar os bolinhos (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O evento é uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado dia 25 de julho. A ação é promovida pela Abam e conta com o apoio da prefeitura, através da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ). “É um dia para reforçar a preservação de nossa cultura e valorização dessas profissionais, baianas de acarajé, que muitas vezes passam despercebidas nos tabuleiros”, declarou Rita. 

Tabuleiros Pouco depois das 11h o evento foi aberto ao público e a distribuição gratuita de acarajé contou com mais de 10 baianas em cinco tabuleiros. O executivo francês de uma empresa de consultoria, Hervé Gartnousset, 58, estava na fila pela segunda vez. “É muito bom. Venho à Bahia há 10 anos, porque minha mulher é baiana, e sempre como o acarajé, às vezes mais do que devia”, disse. Durante a entrevista, ele interrompia a fala para saborear o quitute. “A sensação é maravilhosa. Um bolinho de rua muito crocante e saboroso, diferente der qualquer coisa lá na França. Vocês baianos são sortudos”, disse o francês antes de retornar à fila.  Acarajé quentinho da hora, como manda a tradição (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) A farmacêutica carioca Andréa Vilar, 30, passeava com a mãe, Sônia Vila, 65, quando foram seduzidas pelo cheiro do quitute. “A gente estava andando, quando sentimos um cheiro diferente e convidativo. Então, viemos conferir e nos deparamos com essa maravilha de herança deixada pelos escravos na Bahia”, disse, pouco depois de ter experimentado seu primeiro acarajé.

“Muito bom. Divino. A primeira vez a gente nunca esquece”, brincou. Andréa estava no tabuleiro da baiana Alessandra Souza Braga, 39, que estreou no evento. “Nunca havia participado e acho importante por que é a forma de mostrar para todos que nós baianas de acarajé temos o nosso valor como mulher, negra e empreendedora”, justificou a baiana, que tem um ponto na orla de Itapuã. 

Além de muito vatapá, caruru e pimenta, o evento contou com apresentações culturais, feira de empreendedorismo e uma roda de conversa para discutir temas como violência contra a mulher, racismo e empreendedorismo. Para montar toda a estrutura, a Abam teve um orçamento R$ 20 mil, dos quais a associação entrou com R$ 4 mil. “O restante foi de doação. Uma distribuidora de gás deu os botijões, alguns feirantes da Feira de São Joaquim deram ingredientes para o acarajé, por exemplo”, explicou Rita.  As baianas se vestiram à caráter para homenagear o Dia da Mulher Negra (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Políticas  A presidente da Abam ressaltou a falta de polícia públicas para a categoria. “Todo mundo quer comer o acarajé, mas não há políticas públicas para as baianas. Precisamos de um mapeamento para saber onde estão as baianas de Salvador, salvaguardar o ofício de baiana de acarajé, pois não é qualquer pessoa que pode exercer o ofício, é preciso a indumentária, conforme decreto municipal e o Ministério do Trabalho no quesito profissão. Em alguns eventos, os organizadores contratam modelos para usarem os uniformes de baiana. Eu mesma já tive que emprestar”, declarou Rita. 

O dia também foi para lembrar do preconceito aos adeptos do candomblé. “Sou de Iansã. Um rapaz de uma igreja evangélica disse que não ia comer do meu acarajé porque eu usava minhas contas.  Neste dia chorei muito no tabuleiro”, contou a baiana Sandra Nascimento, 45, que tem um tabuleiro montado na Avenida São Cristóvão.