Festival transforma samba em arrasta-pé no Garcia

Festa em meio às comemorações juninas ganhou status de patrimônio cultural em Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 25 de junho de 2022 às 07:00

. Crédito: Paula Fróes
Grupos de toda a cidade participam de tradicional festival por Paula Fróes

Bandeirolas e balões enfeitando a praça, gente usando roupa quadriculada e chapéu de palha, bebendo licor e dançando ao som do samba duro. Esse foi o cenário do 5° Festival de Samba Junino, no Final de Linha do Garcia, nesta sexta-feira (24), para mostrar que Salvador também tem São João, e com identidade própria. 

Mas, se para você falar de samba no mês do arrasta pé é estranho, saiba que essa é uma manifestação tão soteropolitana que virou até patrimônio cultural da cidade, depois do registro pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), em 2018. Este ano, a tradição completa 50 anos e o festival aproveita a sua quinta edição para celebrar a data e o São João.“O samba é a nossa raiz, a nossa cultura. O São João e o samba combinam tanto porque nos traz recordações e alegrias dos momentos em família. Além de poder juntar todo mundo pra dançar e se divertir, tem a nossa paixão por esse ritmo. Foi assim que eu cresci, sambando na época do São João”, disse Juliana Dantas, 38, no Festival com a filha Natália Dantas e outros quatro familiares. [[galeria]]

O evento contou com a apresentação de diversos grupos de samba que, além dos shows, estavam participando dos concursos de canção, rainha e melhor banda. Antes da entrada dos competidores, o grupo Leva Eu, composto por 12 integrantes, que já tocam o samba junino há 43 anos, realizou a abertura da festa."Ficar dois anos sem essa celebração foi insuportável para quem gosta de curtir o São João em Salvador, mas a gente entende que em primeiro lugar vem a saúde. Hoje, está sendo o dia de resgatar o que está no nosso sangue, muito samba e São João. A gente toca com tanta alegria, que às vezes nem precisa ensaiar", contou Hamilton Barros, 58, vice-presidente do Leva Eu.No palco, usando um vestido quadriculado, meia calça preta, botas brancas e com muito samba no pé, Pocket Nery, figurava a rainha do Samba Junino. No papel de soberana, ela destaca a importância de ser uma mulher trans e poder ser evidenciada positivamente.“Eu venho desde criança observando o samba duro junino e me apaixonei. Hoje, como uma mulher trans, me sinto privilegiada de ser a rainha e poder dar uma visibilidade melhor para as trans e homossexuais, há cinco anos nesse papel”, destacou Pocket. 

Ela foi uma das pessoas que estiveram de olho nas candidatas ao concurso de rainha do Festival, mas antes os avaliados foram os grupos de samba. Concorreram: Sambão da Mucumg, Samba Fogueirão, Samba Jaké, Samba Neguinho, Samba Duro VS, Hody Bamba, Samba Chama, Sambalança, Off Scalla, Samba Skorpio, Vai Kem Ké, Samba do Índio Tamoios, Samba Dú Papelão, Samba Duro de Terreiro, Samba Chile, Samba Coral, Balão de Ouro, Samba Zumbaê, Samba Tororó, Samba Futuka, Samba do Morro.

Para concorrer a categoria de melhor música em grande estilo, o grupo Hody Bamba até lançou uma canção nova, chamada de “Arraiá do Hody Bamba”. Apesar da novidade, o diretor avisa que, mais do que competir, a participação no concurso é para mostrar a força do samba junino na capital. 

"Saímos da Sussuarana e estamos aqui competindo, mas não é apenas em prol de ganhar, o que queremos é estar juntos e mostrar a tradição do samba junino, a força que ele tem e a alegria da nossa presença em Salvador, porque esse ritmo é só daqui, é pura representação do que somos. Não é porque é Hody Bamba, não é porque é bonito mesmo”, ressaltou Milton. 

Para Vagner Shrek, Diretor Administrativo e Gerente de Projetos da Liga do Samba Junino, é a união e a diversidade de bairros soteropolitanos que formam a cultura. "Nós temos representação de toda Salvador, fazendo jus ao samba junino, que é patrimônio imaterial da nossa cidade e que nos garante a possibilidade de fazer esse São João de uma forma diferente”, afirmou Vagner.

A quinta edição do festival, promovido pela Liga do Samba Junino, é um projeto contemplado na categoria Festival, do Prêmio Samba Junino – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (FMG), um fomento que, de acordo com o gerente de Patrimônio Cultural da FGM, Vagner Rocha, é importante para preservar a tradição.“Estimular festivais como esse é mostrar a força dessas manifestações que nascem nos bairros, que nascem da periferia e trazem a essência desse povo que samba e celebra São João do seu jeito”, destacou o gerente.O resultado dos concursos será apresentado no domingo (26), a partir das 16h, na Avenida Almirante Alves Câmara no Engenho Velho de Brotas. No dia, também acontecerá o desfile dos campeões, com os já tradicionais arrastões dos grupos vencedores.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela