Fiéis se aglomeram em primeiro dia de visita da representação do corpo de Irmã Dulce

Santa ficará definitivamente exposta a partir desta quarta-feira (18)

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  • Tailane Muniz

Publicado em 18 de setembro de 2019 às 16:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Até o raiar dos próximos dias - e com as bênçãos do Senhor, garante o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger -, os restos mortais de Irmã Dulce “irão repousar em virtude de nossas bênçãos”, em urna de vidro. Marcada por um momento de oração celebrado por Dom Murilo, a exposição do novo túmulo, com direito a uma representação em tamanho real da freira baiana, começou nesta quarta-feira (18), na Capela das Relíquias, dentro do Templo da Bem-Aventurada, no Largo de Roma.

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Já nos primeiros minutos da visitação, os devotos fizeram fila no entorno no templo, tudo para poder ver de perto da futura santa. Quem chegou ao local, no entanto, não viu os restos mortais de Irmã Dulce, e sim um simulacro - uma réplica, feita de terracota, envolta por uma urna de vidro."O que podemos ver aqui é um simulacro, que foi preparado em Nápoles, na Itália. A relíquia, que é o corpo de Irmã Dulce, está nessa urna logo abaixo. Não vamos expor para conservá-lo", explicou o Frei Giovanni Messias, reitor do Santuário.No mês passado, o Frei afirmou ao CORREIO que tanto o legista quanto o postulador do Vaticano ficaram perplexos ao constatar a preservação do corpo, assim como da primeira vez em que o túmulo foi aberto, em 2010. Na ocasião, Frei Giovanni afirmou que o corpo seria exposto.

Mas, em nota enviada nesta quarta (18), as Obras Sociais Irmã Dulce informaram da decisão de não mais expô-lo: “O frei que deu entrevista para o CORREIO achou que o corpo estava intacto ou tão conservado quanto em 2010, mas, quando foi aberto, verificou-se que estava com um desgaste natural do corpo. Por conta disso, houve uma decisão do Vaticano de não expor os restos mortais”.

Réplica italiana As relíquias estão lá, explica o frei. Mas, o que está visível é uma representação feita em terracota, uma espécie de argila manufaturada e cozida no forno, muito utilizada na simulação de corpos de santos. A réplica foi feita na cidade de Nápoles, na Itália, a pouco mais de 200 quilômetros do Vaticano, e demorou um mês para ficar pronta.

A representação em tamanho real recebeu os acessórios que pertenceram à religiosa. “O anel, por exemplo, é dela. Já o terço foi um presente que veio do Vaticano”, afirmou Frei Giovanni.

Segundo Giovanni, o corpo será preservado, mas um pedaço foi retirado para que seja entregue ao Papa Francisco no dia da canonização, marcada para 13 de outubro. A celebração, acontece às 10h, no Vaticano, e seria realizada na Igreja Santo Antônio dos Portugueses, mas, em função da capacidade, foi alterada e será celebrada na Igreja Santo André do Vale, também em Roma.  Urna ficará denitivamente exposta na Capela das Relíquias, em Roma (Foto: Betto Jr/CORREIO) Os dois postuladores italianos que acompanharam a preparação do protótipo, Paolo Vilotta e Paolo Lombardo - os mesmos que participaram das exumações do corpo - também estiveram presentes no momento de inauguração, mas não falaram com a imprensa. Espécie de guias da canonização, eles participaram de todo o processo de reconhecimento de Dulce enquanto santa.

Prática comum na Igreja Católica, destaca Dom Murilo, a exposição de réplicas é um modo de eternizar a imagem dos santos. "É um costume da Igreja, colocar sobre as relíquias [restos mortais] um rosto que lembre e exprima a morte dos justos, e que agora está em paz com Deus. O que vocês vão ver foi feito em Nápoles, por artistas talentosos", comentou, pouco antes da abertura da capela.

O arcebispo de Salvador acrescentou que o relicário contendo partes do corpo da baiana chegará ao Papa acompanhado de uma pedra ametista em formato de coração: "Como aquela que foi feita e viveu para amar".  Sobrinha de Dulce, Maria Rita agradeceu 'empenho' de postuladores do Vaticano (Foto: Betto Jr./CORREIO) Orações A cerimônia comandada por Dom Murilo foi diferente de uma missa comum. Com duração de 30 minutos, começou às 15h, exatamente no momento em que os fiéis puderam acessar a Capela das Relíquias e ver de perto o protótipo, em tamanho real, vestido com as roupas e os acessórios originais de Irmã Dulce.

“Que sirva para relembrar a todos a vida futura do nosso anjo bom, em Cristo”, disse Dom Murilo, ao final da celebração em que estiveram presentes a sobrinha da religiosa e superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita Pontes, o prefeito de Salvador, ACM Neto, o vice-prefeito, Bruno Reis, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Anselmo Brandão.

Em aparente esforço para conter as lágrimas, Maria Rita classificou o momento como um dos dias de “maior emoção”, desde o sepultamento da tia, em 1992, na Igreja da Conceição da Praia. Do local, o corpo de Dulce foi transferido, em 2000, para a Capela de Santo Antônio, também no Santuário.  O prefeito ACM Neto considera a exposição 'emoção única' (Foto: Betto Jr./CORREIO) Dez anos mais tarde, os fiéis puderam ver os restos mortais pela primeira vez, durante dois dias, no ritual de transferência para a Capela das Relíquias, onde permanecerá em exposição. “Um momento único de alegria e realização viver uma coisa inédita de cuidar de uma santa”, disse, com a voz embargada.

Rita explicou que o Santuário segue em obras e só será reaberto no dia 11 de outubro, para receber a vigília. A capela onde está a urna, contudo, segue aberta à visitação, assim como o Café e o Memorial de Dulce.

O prefeito ACM Neto, que se aproximou e tocou na urna, disse ao CORREIO que a representação da santa, ali, aos olhos dos fiéis, é "mais um ponto importante de uma história de fé". "Para nós, uma emoção única termos aqui uma santa brasileira, que é baiana e é de Salvador. Sem dúvida nenhuma, é sua obra e história de fé edificada na história". Alcione já esteve com Dulce e aprovou o protótipo: 'Igualzinha' (Foto: Betto Jr./CORREIO) 'Igualzinha' Ao ser descoberta, a urna de vidro envolta pelas bandeiras de Salvador, da Bahia e do Brasil revelou a olhos desacostumados uma imagem que, de tão próxima da realidade, emocionou aos mais saudosos.

Quem viu Dulce de perto - e com vida - detaca a semelhança: “Linda, como sempre. Igualzinha, a mesma coisa, é uma emoção como nunca antes vivi, nem quando estive ao lado dela falando e sorrido”, comenta a aposentada Alcione Carneiro, 70 anos. 

Faz 30 anos que Alcione mora em Monte Serrat, região vizinha à Roma de Dulce. Ela contabiliza as vezes que esteve com a freira. "Ela não era uma mulher de convento, mas da rua, subia e descia ajudando aos pobres. Um privilégio enorme tê-la aqui conosco", comenta, sob a emoção de quem garante ter sido agraciada por um milagre. Irani Santana se emocionou ao ver 'corpo' (Foto: Betto Jr./CORREIO) Mais que gratidão e fé, à futura santa a também aposentada Irani Santana, 79, atribui a própria vida. Mesmo com a saúde debilitada, confessa, fez questão de visitar as relíquias no primeiro dia. "Se estou aqui hoje, é graças ao nosso anjo bom. Eu não sou nada sem ela, devo tudo, tudo, tudo", se limitou a dizer, paralisada em frente à urna. 

A professora Rosângela Rodrigues, 58, acredita que foi curada de um problema no intestino após ajoelhar-se "aos pés de Dulce". "Algumas pessoas vão dizer que não, mas não me importo. Eu sei que eu fui curada por ela, depois de inúmeros tratamentos é graças ao nosso lindo anjo que estou aqui", disse.

Novamente ajoelhada em frente à urna que guarda os restos mortais da futura santa, Rosângela promoteu que fará visitas regulares ao local. "Estarei sempre por perto, pra cuidar, agradecer, porque isso é divino, ela é o nosso poder". Rosângela se ajoelhou e garantiu visitas regulares (Foto: Betto Jr./CORREIO) Exposição permanente O corpo de Irmã Dulce já foi exposto, em junho de 2010, numa das fases da beatificação, quando os fiéis puderam ver Dulce na Capela das Relíquias, na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

A exumação é um dos processos envolvidos da beatificação à canonização. A realizada em julho deste ano foi a última de três no total. A primeira, ainda na Igreja da Conceição da Praia, onde a religiosa foi sepultada, foi acompanhada por oito pessoas. O procedimento era necessário antes da transferência para a Capela, em 2011. 

Canonização  O dia 13 de outubro entrará para a história do catolicismo brasileiro. Será nesta data que a freira baiana será proclamada como santa pela Igreja Católica. A partir dessa data ela será chamada de Santa Dulce dos Pobres. Além disso, haverá um evento festivo em Salvador no dia 20 de outubro, na Fonte Nova. 

Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a futura santa nasceu em Salvador, em 26 de maio de 1914. Na capital, morreu em 22 de maio de 1992. Irmã Dulce foi beatificada em 22 de maio de 2011, em cerimônia no Parque de Exposições. 

José Maurício, baiano que mora em Recife, foi o objeto do segundo milagre de Irmã Dulce. Através das orações para Dulce, José voltou a ver. Cadáver foi exposto por dois dias, durante cerimônia de transferência de túmulo, em 2010 (Foto: Antonio Queiroz/CORREIO) Além de Irmã Dulce, serão canonizados os seguintes beatos: John Henry Newman, cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri na Inglaterra; Giuseppina Vannini (no século Giuditta Adelaide Agata), fundadora das Filhas de São Camilo;  Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família e Margherita Bays, Virgem, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis.

A Canonização de Irmã Dulce começou em janeiro de 2000. Com o início do processo, seus restos mortais, que desde 1992 (ano de seu falecimento) estavam na Igreja da Conceição da Praia, foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), também em Salvador. José Maurício era cego e voltou a enxergar (Foto: Thais Borges/CORREIO) A validação jurídica do virtual milagre presente no processo foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Já em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heróicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título foi o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heróico, as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Caridade.

Irmã Dulce
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O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos, que levou ao título de Venerável, havia sido concedido em 2008 e anunciado em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras de Irmã Dulce a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a Beata de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.

O título de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres foi concedido depois que foi reconhecido como milagre a salvação, pela intercessão de Irmã Dulce, da sergipana Cláudia Cristiane Santos. Em janeiro de 2001, ela sofreu durante 18 horas com sangramentos após o parto do seu filho, Gabriel, na Casa de Saúde e Maternidade São José, na cidade de Itabaiana. Após o padre José Almí de Menezes rezar por Irmã Dulce, Cláudia se viu curada instantaneamente.  Cláudia e seu filho Gabriel: salvos no primeiro milagre de Irmã Dulce (Foto: Reprodução) No dia 9 de junho de 2010 é realizada a exumação e transferência das relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos) da Venerável Dulce para sua capela definitiva, localizada na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, situada ao lado da sede da Osid, no Largo de Roma. A Capela das Relíquias foi construída na própria Igreja da Imaculada Conceição, erguida no local do antigo Cine Roma e do Círculo Operário da Bahia, construídos pela freira na década de 40.