Filhos de Gandhy desfilaram no circuito Dodô na tarde desta segunda (12)

Bloco teve a participação do cantor Jorge Vercillo

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  • Nilson Marinho

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

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"Corre, meu irmão, que lá vem toró", gritava um dos filhos de Gandhy. Foi um pé d'água danado. Aqueles que não queriam molhar os trajes procuraram um abrigo em algum sobreiro de um ambulante. Às 16h30, 15 minutos antes dos filhos entrar na avenida, uma chuva, para ser otimista, lavou o circuito Dodô para chegada deles. Depois de desfilarem no circuito Osmar (Campo Grande), no domingo (11), nesta segunda (12) o bloco partiu da Barra até às Gordinhas, em Ondina, com a participação do cantor Jorge Vercillo. 

Mas a chuva de Verão, como já é de se esperar, durou pouco menos de 10 minutos. E depois que as nuvens densas tomaram um outro rumo, o que se podia ver era um mar de filhos se aglomerando no Farol. O som dos atabaques, pontualmente às 16h45, convidou o bloco para o cortejo.  Cortejo saiu do farol às 16h45 em direção às Gordinhas (Foto: Mauro Akin Nassor / CORREIO) Muitos dos filhos já estavam por lá desde cedo, na beira de algum isopor aquecendo o motor com uma gelada para enfrentar os 4,5 km até às Gordinhas. Outros já iam na espreita, comendo pela beirada, à procura de alguma mulher que, gentilmente, aceitassem seus colares. 

Mas, é preciso deixar claro, o Afoxé Filhos de Gandhy é bem mais que um paquera de avenida. Sim, existe os mais 'putões', temos que admitir. Mas os mais antigos ressaltam que a religiosidade e a tradição é o que importam por lá. 

"Isso foi criado ao longo do tempo. Mas a nossa intenção é trazer a cultura do candomblé, do axé paras ruas. Inclusive, nós, associados, conversamos e orientamos aos mais novos que se for para trocar que não seja forçado. Ambas as partes devem querer", disse Decivaldo Sales, 46 anos, integrante do grupo há 15 anos.

Aqueles que um dia já gostaram de destribuir os colares mas que já perderam a carta de alforria, hoje, apenas vão a passos lentos, seguindo o cortejo sem muita pressa. Até porque tem muita gente de olho no que é seu.

Muitas das mulheres, já sabendo da má - ou boa - fama dos filhos, ficam na cola, acompanhando o cortejo com as crias ou, também, no grupo Filhas de Gandyh que desfilou logo em seguida, às 17h15, também no circuito Dodô. 

Preparação E muitos já no meio do ano começam a pensar no traje que chega a custar R$600 na véspera do Carnaval. Inclusive, estar de turbante na avenida acaba dando acesso livre aos blocos pagos. Muitos dos filhos se perderam no meio dos foliões do Camaleão, comadado por Bell Marques, que saiu 20 minutos antes do grupo. "Oxe, tem 'nego' que paga R$500, R$600 para sair no Camaleão", disse o pintor Boaventura Brás, 49.  Cerca de 4 mil associados do bloco desfilaram no circuito Dodô (Foto: Ag. Haack) "Rapaz, eu começo a me organizar um ano antes. Vou tirando R$100 aqui, R$50 ali para pagar a fantasia. Quem sai todos os anos sempre dá um jeito de fazer um esforço. Sempre dá pra ir, nunca ficamos de fora", conta o vigilante Vinícuis Santos, 43. 

Diversidade  "Ô pá lá, vei. Dois Gandhy se pegando, que descaração", dizia um folião do lado de fora da corda. O fato é: o espanto existe, mas os desavisados precisam entender que a diversidade marca presença no Gandhy. 

"Rapaz, eles ficam mais lá no fundo, aqui na frente, não", informou um dos integrantes do bloco. Muitos se esquivam da pergunta, não querem falar sobre e dizem desconhecer a ala "gay" dos filhos.

"O Gandhy é um bloco predominantemente masculino porque assim veio da sua origem. Eram estivadores do cais do porto e, naturalmente, eram homens forte pela sua força de trabalho. Mas não fazemos nenhuma objeção a questão do beijo, ou do amor entre duas pessoas do mesmo sexo. O Gandhy prega a paz, então, é melhor ver dois homens se beijando do que dois saindo na mão", opinou Decivaldo Sales.

O bloco também tem espaço para os cadeirantes. O músico Jorge Lemos, 57, veio do Rio de Janeiro para participar do desfile. "Eu já havia participado de outros bloco como o Camaleão, mas aqui é diferente, as pessoas se ajudam mais, abre espaço, no maior conforto. Também sempre foi um sonho meu sair de Gandhy", contou. Outros cadeirantes também foram convidados a participar do cortejo. 

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