Finados: O luto de quem perdeu seu bichinho de estimação

A dor pela morte de um cachorro ou gato pode ser semelhante à perda de um familiar

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  • Da Redação

Publicado em 2 de novembro de 2019 às 12:29

- Atualizado há um ano

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Gustavo guarda na memória momentos como esse com Zeca (Foto: Rodrigo Oliveira / Divulgação) De repente, fim! Aquele amor incondicional, aquele amigo fiel, aquele ser brincalhão, extremamente atencioso e sensível às suas demandas desaparece da sua vida. Foi tudo tão rápido! Eles só vivem 10, 15, 20 anos. Às vezes muito menos. E deixam uma marca profunda. O momento da partida - e um indeterminado período subsequente - pode ser muito doloroso. É o luto! Sim! Ou você acha que a morte de um animal de estimação não traz sofrimento? Nesse dia de finados, mostramos que a dor da perda de um um cachorro, gato ou qualquer outro bichinho pode ser semelhante a de um familiar. Sobre esse assunto, primeiro apresentamos o lindo artigo da psicóloga Joyce Gomes Ribeiro, que muitas vezes atende seus pacientes junto com a sua Golden Retriever, a cãoterapeuta Olívia (olivia_caoterapeuta).

Depois, se emocione com as histórias de Léo Jaime, Zeca, Vivi e Pretinha, que deixaram muitas saudades. Em julho desse ano, Léo Jaime teve as cinzas jogadas no mar por sua tutora, a produtora de eventos Liliane Araújo, em uma cerimônia na praia. As cinzas de Zeca foram parar no jardim do seu "pai", o cuidador de cães Gustavo Gribel. O corpo de Vivi foi enterrado pela farmacêutica Camila Pimentel no sítio de um amigo. Já Pretinha, uma gata comunitária, foi cremada e até homenageada com uma estátua. Por fim, conheçam a Bye Bye Pet, empresa de cremação que pode te ajudar no momento em que faltam as palavras. 

Artigo: "Seria estranho não sentir falta com a perda de uma vida que fez tanta diferença na sua" - A psicologia entende como luto aquela dor de uma perda irreparável que de alguma forma tira nosso chão e balança nossas estruturas. Viver o luto em todas as suas fases é de extrema importância e necessidade para reestruturação emocional do indivíduo. Se permitir ficar triste, poder chorar e sentir a perda são, entre muitas necessidades, uma das mais básicas para resolução do luto. Porém, infelizmente, muitas vezes diante de uma sociedade um tanto cruel, essa dor pode ser julgada como “besteira” se for, por exemplo, por um animal.

Mas, porque você tem que atender a uma sociedade que te exige comportamentos e não vive a sua dor como ela existe? Perder um animal de estimação é, para muitos, a mesma dor de perder um ente querido. A significância que aquele animal teve e ainda pode ter na vida de alguém é tanta que a perda dele também remete a perda de um sentido na vida. Em diversos momentos, com sua capacidade inalcançável de não julgar, criticar e cobrar, o animal se torna capaz de fazer tudo para que determinado indivíduo se sinta amado e amparado.

Seria no mínimo estranho não sentir falta e sofrer com a perda de uma vida que fez tanta diferença na sua vida.Enquanto psicóloga, atendo diariamente pessoas que sofrem por diversos motivos, nenhum deles pode ser considerado pouco importante, cada um tem sua história e sabe o que sente. Olívia, minha coterapeuta canina, entre muitas funções, é um suporte emocional para esses que sofrem e é incomparável o poder que ela tem de acolher absurdamente melhor que a minha capacidade humanamente falível. 

Então, nesse dia de finados, lembre-se  com permissão genuína daquele grande amigo que te fez um ser melhor por ter vivido na sua vida e foi feliz por ter tido você na vida dele. Com toda certeza poder sentir essa saudade e reconhecimento já te faz um ser humano melhor.

Joyce Gomes Ribeiro Psicóloga comportamental 31 anos

"Confesso que ainda dói" - Liliane Araujo, 40 anos, especialista em Organização  de Eventos

Leo Jaime chegou em minha vida em um momento que eu estava me sentindo muito sozinha e triste. Em fevereiro de 2009, decidi adotá-lo em um abrigo de animais de São Paulo, onde eu morava. Ele já tinha 5 anos e foi como um anjo da guarda, sempre amoroso e companheiro, zelava por mim. Eu sempre falei que ele era especial porque conseguia conquistar até mesmo aqueles que não simpatizavam muito com animais. A perda de Léo Jaime abalou muito Liliane (Foto: Divulgação) Apesar de se mostrar muito saudável, em dezembro do ano passado apareceram alguns sintomas que, após exames, constatou-se tratar de uma cardiopatia grave. Uma arritmia em um de seus ventrículos e o coração estava crescendo. Eu até brincava que era de tanto amor que não cabia dentro de si. Coincidentemente fui desligada da empresa que trabalhava e de lá para cá ele foi ficando cada vez mais debilitado e eu passei a ter tempo para cuidar dele mais de perto, todos os dias. Leo foi ficando cada vez mais cansado.

Ao completar 15 anos, 10 ao meu lado, eu nunca consegui imaginar a minha vida sem ele. Leo sofreu um AVC e uma convulsão e ambas as vezes eu implorei que ele não partisse. Infelizmente, depois dessas crises ele não foi mais o mesmo. Tinha lapsos, não me reconhecia. O acompanhamento da veterinária passou a ser mais intenso, com visitas em nossa casa.Ele fazia uso de medicação controlada, mas, sobretudo, eu dei a ele muito amor, todo o amor que eu tinha. Costumava dizer que ele era meu filho mais velho.No dia 07/07 Léo sofreu outro AVC, só que desta vez foi mais sério. Eu deitei ao lado dele no chão e pedi que, por favor, ele não me deixasse, mas ele estava sofrendo. Em 10/07, quando todos estavam fora, resolvi fazer uma tosa nele e dar um banho porque ele tinha amanhecido melhor. E passei exatas 2 horas sozinha com ele dando carinho, conversando, a gata Paçoca brincando com os tufos de pelos... E ele morreu em meus braços.  Liliane durante cerimônia na praia (Foto: Divulgação) Decidi que Leo seria cremado e chamei um crematório de animais para recolher seu corpinho. Olhei para ele pela última vez ainda em casa. No dia seguinte trouxeram uma urna com suas cinzas e no final de semana seguinte realizamos uma singela cerimônia: apenas eu, meu esposo, minha filha e uma amiga, madrinha de Leo, para distribui-las no mar. Fomos todos de branco e tocamos uma música que me fazia lembra-lo. Na semana seguinte visitamos uma feira de adoção e doamos tudo que era de Leo para os cãezinhos abandonados.Não consigo mensurar a dor que eu senti. Passei um mês em luto. Ele foi o ente querido mais próximo que já perdi e o vazio que deixou dentro de mim nunca será preenchido. De vez em quando eu vou a essa praia e faço uma oração. Às vezes acho que superei, mas só em falar sobre ele eu sinto uma saudade imensa e dolorosa. Eu tento não chorar porque me disseram que não é bom para o espírito dele, mas não é fácil. Confesso que ainda dói e eu espero que um dia reste apenas a saudade.

Um câncer levou Zeca - Gustavo Gribel, 42 cuidador de cachorro

Uma dia fui num canil, um amigo meu queria comprar um filhote de boxer. Chegamos la, só tinha uma filhote, só meu amigo ia levar. Enquanto isso eu ia andando olhando todos os canis. Lá no canto me levanta um Dálmata de 6 meses. Fiquei doido, perguntei: "E aquele dalmata?!". O cara me disse: "Foi o último da ninhada, ninguem quis ele". Respondi na hora: "Eu quero!". Chegando em casa, eu ja tinha Fia, uma vira-lata "discarada". Zeca ( ele tinha cara de Zeca) ficou fascinado por Fia. E Zeca se foi... (Foto: Bruno Cardoso/Divulgação)   Desse dia em diante ficamos juntos por 11 anos, ele nunca ficou doente, nunca teve uma gripe, nunca me deu trabalho nenhum, sempre grudado em mim, dormia com a cabeça no meu travesseiro.Um dia, do nada, ele começou a pisar diferente com a perna da frente. Levei ele no veterinário e foi diagnosticado com um câncer ósseo que, mesmo se amputasse a pata, o câncer tinha 90% de chance de voltar. Decidi que não amputaria e que no momento que ele começasse a sofrer muito, eu chamava o veterinário para eutanaziar ele. Infelizmente, depois de 54 dias, a perna dele estava muito inchada, ele já nao conseguia mais levantar e precisei tomar essa decisao.Minha mãe faleceu faz 6 anos, foi bem sofrido, porque ficou doente também por um bom tempo. Foi um sofrimento bem parecido.A perda de Vivi - Camila Pimentel, 29 anos, farmacêutica

Victória (sinônimo de guerreira) chegou para mim após uma cruza que eu fiz com a mamãe dela, Megguinha. A intenção não era fica com nenhum filhote e somente ter a experiência de Goldens fofinhos em casa até o destino de seus novos lares. Mas Vivi era diferente. Ela era aquele filhote cativante, meu carrapato! Foi uma ninhada de 8 mini ursinhos. O tempo foi passando e chegou a hora deles irem ao seu lar, mas Vivi não podia ir, não podíamos deixar ela ir, ela tinha que ficar conosco!  A saudade em um abraço (Foto: Divulgação) Vivi cresceu e aos poucos foi tomando sua parte no coraçãozinho de cada um da família. Ela era aquela cadela que estava sempre junto. Eu saía para a faculdade e ela levava minha bolsa até a porta. Quando voltasse ela trazia de volta. Era a alegria em "pessoa". Impossível não se apaixonar por esse serzinho.  Com somente 2 anos ela me deixou, foi a pior dor de minha vida, isso posso afirmar de mãos juntas. Numa madrugada de quarta-feira, ela começou a apresentar vômitos, na quinta mesmo foi ao veterinário, ficou internada e não adiantou. Em menos de 48h após o aparecimento dos sintomas, da doença do carrapato, ela me deixou, virou uma estrelinha as 1:40h, de  27 de março de 2016.

No dia seguinte foi o seu sepultamento,  não tive condições de ir. Mas mandei o brinquedo que ela mais gostava (um elefantinho) junto com sua Bandaninha escrita o seu nome para amarrar na árvore que a iria cobrir por toda a eternidade, a árvore do sítio de um amigo. A Vivi foi muito amada e não tinha como ser diferente em sua partida, foram muitas pessoas me dando os sentimentos e vindo me visitar, era realmente uma pessoa que estava partindo. Minha eterna Vivi.

Uma estátua para pretinha - Ana Carolina Belluci, 31 anos, fotógrafa

Pretinha era a gata comunitária do condomínio Vila Anaiti, no imbuí. Era uma gata castrada, extremamente dócil e brincalhona e que era cuidada e alimentada por diversos moradores. Eles dividiam entre si as despesas com comida, remédio e o que fosse necessário para a qualidade de vida da Pretinha Pretinha era cuidada diariamente (Foto: Divulgação) No dia 27/09, por volta de 9 da manhã, nossa amada Pretinha foi atropelada dentro da Vila. A pessoa que passou por cima dela não parou pra prestar socorro e mesmo com a mobilização dos moradores ela morreu em minutos. Diante de todo sofrimento nos mobilizamos, arrecadamos dinheiro e enviamos o corpo Pretinha  para uma cremação individual. Pretinha ganhou estátua: "Saudades eternas" (Foto: Divulgação) Nos reunimos na praça, fizemos uma homenagem a ela e jogamos as cinzas no local que ela mais gostava e onde se alimentava diariamente. Para completar a homenagem, a artesã Renata, moradora da Vila, nos presenteou com uma estátua da Pretinha que será colocada na praça! Pretinha foi e sempre será muito amada! E viverá pra sempre na nossa memória

Empresa faz cremação

A Bye Bye Pet foi criada em 2006 para dar um final digno a quem só nos dá amor. Muita gente fica sem saber o que fazer no momento da morte de um animal de estimação. Com a cremação, os tutores podem dar um destino mais personalizado. As cinzas são entregues em uma urna, que pode ser colocada em um altar (foto) ou os restos mortais jogados no mar, no jardim ou até mesmo colocados em um pingente ou caqueiro. Urna com as cinzas de "Skol" (Foto: Divulgação) "A Cremação, além de ser um ato de amor aos animais, é também ao meio ambiente pois não existe nenhum tipo de contaminação do solo", diz Fernanda Travassos Brandão 32 anos, que é sócia da Bye Bye Pet junto com o veterinário Bruno Lopes Vieira. A empresa trabalha com cremação individual e coletiva. O valor médio para a cremação individual é de R$ 400 e cremação coletiva R$200, podendo variar de acordo com o porte do animal. A Bye Bye Pet fica na Estrada do Coco, atende Salvador, Lauro de Freitas e região. Instagram: @byebyepet. Contatos telefônicos no banner abaixo.