'Foi a gota d'água', diz irmã de homem que levou tiro ao sair para trabalhar em Valéria

Polícia iniciou operação no bairro para desmobilizar tráfico

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Apesar de toda a circunstância, a família do ajudante de mecânico Ytalo de Jesus dos Santos, 25 anos, está um pouco mais aliviada. O rapaz é uma das duas pessoas baleadas nesta quarta-feira (18) em Valéria e está fora de perigo. Ele vai passar por uma cirurgia para extração da bala alojada na perna esquerda. No entanto, o pavor ainda é latente. "A gente fica com medo desta guerra que parece não ter fim", disse uma irmã do jovem.  Ytalo foi baleado a caminho do trabalho na rua das Palmeiras, por volta das 6h, durante confronto entre o Bonde do Maluco (BDM) e a Katiara. Ele foi socorrido para a UPA de Valéria e posteriormente levado ao Hospital do Subúrbio, onde permanece internado. "Ninguém merece passar por tudo isso. Meu irmão estava indo trabalhar como a maioria das pessoas quando aconteceu a briga entre eles [os traficantes]", disse ela por telefone.  A irmã da vítima espera que o rapaz tenha alta logo, pois a família pretende adotar uma medida extrema para garantir a vida de todos. "A gente não tem paz, ninguém dorme por causa dos tiros. Tememos pelas nossas vidas. Assim que meu irmão sair do hospital, minha mãe quer ir embora daqui. Não tem mais clima para tolerar isso tudo. Foi a gota d’água", desabafou.  Muitas famílias, como a de Ytalo, vêem como única solução o abandono de suas casas. O problema foi mais uma vez mostrado pela reportagem, que contou o drama de uma mulher também na rua das Palmeiras, que aproveitou a presença da polícia para pegar o que havia deixado para trás, quando saiu às pressas há dois meses.    “Isso é mais comum do que se imagina. Se a polícia raramente vem aqui, eles tomam conta de tudo, andam para cima e para baixo exibido as armas, para intimidar também os moradores, que não têm nada a ver com essa guerra. Quem pode, vai embora, larga tudo. Vai pra casa de parente, de amigos, alugar uma outra casa num outro lugar e vai. Mas no meu caso, que não tenho pra onde ir, o jeito é ficar e pedir proteção a Deus”, disse uma moradora da rua das Palmeiras.   

Horas depois de Ytalo ter sido baleado, Alenilson Medeiros de Souza, 32, deu entrada no Hospital do Subúrbio. Ele foi atingido no abdômen durante um tiroteio na tarde do mesmo dia. A vítima estava sentada na porta de casa, na Rua das Andorinhas, em Boca da Mata de Valéria.  Segundo a polícia, o estado de saúde dele é grave.  

Ocupação A Polícia Militar informou nesta quarta-feira (18) que iniciou uma operação especial no bairro de Valéria e adjacências, sem previsão de fim. A região vive momentos de tensão com vários tiroteios sendo registrados em meio a uma disputa entre facções criminosas.  Policiamento é reforaçado com a participação de várias unidades da PM (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Em nota, a PM diz que a determinação partiu do comandante geral, coronel Paulo Coutinho. A operação vai reforçar o policiamento em toda região, com presença da Companhia de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) do Batalhão de Choque, da Operação Gêmeos, do Grupamento Aéreo (Graer), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), dos Pelotões de Emprego Tático Operacional (Peto) do Comando de Policiamento Regional da Capital (CPRC) – Baía de Todos os Santos (BTS), além das guarnições da 31ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), que faz a segurança na área. Não há previsão para retirada da tropa, que ficará sob coordenação do coronel Paulo Guerra, comandante da CPRC-BTS. O objetivo é "manter a ordem pública e tranquilizar a comunidade local". diz a PM.Contenção ValériaDurante a Operação Contenção Valéria, deflagrada nesta quinta, a polícia prendeu um suspeito de uma tentativa de latrocínio, ocorrida no início de julho deste ano,  na região conhecida como Zona Expansão, em Sergipe. Segundo a polícia, o homem, investigado pela polícia civil sergipana teve o mandado de prisão preventiva cumprido em uma empresa de construção civil, naquela região. Durante a operação, mandados de busca e apreensão foram cumpridos, com a coleta de informações sobre suspeitos de envolvimento com grupos criminosos.  Homem procurado por diversos crimes em Sergipe é preso em operação (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Equipes do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) e da Coordenação de Operações Especiais (COE) apoiaram policiais, Delegacia de Repressão a Roubo e Furto (Derof), da Polícia Civil sergipana, durante a Operação Contenção Valéria. Rotina  Com a ocupação da PM, moradores tentaram voltar à rotina em Valéria, após uma semana tensa com diversos tiroteios. Alguns comerciantes se sentiram mais seguros de reabrir os estabelecimentos nesta quinta (19). "O medo ainda existe, mas com a polícia mais presente dá um certo alívio. Hoje mesmo, abri meu estabelecimento no horário, às 7h, porque a polícia madrugou no bairro. De minha casa dava para ouvir o helicóptero da PM sobrevoando as casas. Situação diferente de ontem, que ninguém abriu por causa do tiroteio", disse o dono de uma padaria da Rua Nova Brasília de Valéria. Nas ruas do bairro, o policiamento ostensivo continua, com policiais fazendo abordagens na Rua das Palmeiras e Penacho Verde. "Seguro, seguro ninguém está, mas com o tanto de viatura subindo e descendo, dá um pouco de tranquilidade. Eles (policiais) estão revistando as pessoas, carros a todo momento. Isso intimidade a bandidagem. Ontem, não abri e logo cedo liguei para as minhas funcionárias não virem. Hoje, está todo mundo trabalhando", declarou a dona de um salão de beleza. Moradores e comerciantes tentam voltar à normalidade no bairro (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Já na Escola Estadual Professora Noêmia Rêgo, as atividades continuam suspensas. Segundo o diretor da unidade, Edson Lima, a previsão é de que na próxima segunda-feira (23), os estudantes que não têm acesso à internet possam voltar a frequentar a escola para cumprir as atividades. As aulas semipresenciais ainda não têm previsão de serem retomadas. O conselho escolar da unidade deve se reunir hoje para decidir.

Na fábrica Gerdau, que teve o funcionamento suspenso nessa quarta por causa dos tiroteios, a movimentação de funcionários parecia normalizada na manhã desta quinta-feira. O estacionamento estava lotado, fluxo intenso de caminhões e a movimentação de entrada e saída de pessoas na portaria, o cenário completamente diferente na quarta-feira.