‘Foi tudo muito rápido’, diz padrasto de criança que morreu afogada em Piatã

Corpo foi enterrado nesta terça-feira, no Cemitério Municipal de Paripe

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  • Eduardo Dias

Publicado em 30 de julho de 2019 às 18:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O que era para ser mais um domingo alegre, com direito a piquenique em família na praia, terminou em tragédia. Enquanto se despediam das estudantes Yasmin Adriane Brandão da Silva e Maria Clara Santos Souza, ambas de 11 anos, que morreram no último domingo (28), após terem se afogado na praia de Piatã, a família ainda tentava entender como foi possível tudo acontencer em um intervalo tão pequeno de tempo. Os corpos das duas foram velados e sepultados no Cemitério Municipal de Paripe, na manhã desta terça-feira (30). As mães das crianças não quiseram falar. Delas, só foi possível ouvir os gritos de desespero.

Padrasto de Yasmin, João Pereira Leite, 56, lembrou com detalhes de como tudo aconteceu. Segundo ele, a enteada e a amiga estavam brincando próximo ao mar enquanto ele e a mulher, de costas para o mar, arrumavam as coisas do piquenique na areia. Só perceberam que algo fora do normal ocorria quando ouviram os gritos dos barraqueiros que trabalhavam próximo ao local que eles estavam, alertando que havia duas pessoas se afogando no mar. Yasmin foi a praia com os pais e acabou morrendo afogada (Foto: Reprodução/Mauro Akin Nassor/CORREIO) Logo, João e a mulher resolveram conferir se algo tinha acontecido com as meninas. Não vê-las na areia, no local que brincavam, foi o primeiro sinal de que havia algo errado. “O dia estava normal, não havia sol nem chuva. Decidimos ir à praia. Era um passeio de família, coisa simples. Tudo aconteceu enquanto ainda estávamos nos ajeitando, por volta de 16h. Foi tudo muito rápido, os barraqueiros começaram a gritar, avisando que tinha duas pessoas se afogando e corremos para ver quem era”, contou o padrasto, que alegou ainda que no momento não havia mais salva-vidas no local. Segundo João, o afogamento ocorreu antes das 17h, horas depois de chegarem à praia. 

A Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar) afirmou que os salva-vidas trabalharam até às 17h no último domingo. Enquanto João e a mulher, que não quis falar com a imprensa, não viram problema em ir à praia naquele domingo, a técnica de enfermagem Sueli Oliveira Brandão, tia de Yasmin, não concordava com o passeio da família, por conta do mau tempo e da força do mar nos últimos dias. Segundo ela, a família não se atentou aos avisos dados na TV sobre o temporal.

“Sei que foi uma fatalidade, mas não podemos descartar a falta de responsabilidade dos pais dela. A TV estava dando os avisos todos os dias, para as pessoas não irem à praia nesses dias de chuva, ainda mais com criança. A família toda está muito triste, a Yasmin gostava de todo mundo. Uma pena”, contou a tia, que soube da tragédia envolvendo a sobrinha ao ver a notícia ser veiculada na TV.

As vítimas são moradoras do bairro da Sussuarana, mas as famílias não conseguiram vagas para os sepultamentos no cemitério mais próximo do bairro, que é o de Pirajá. Segundo membros da família de Yasmin, ela era estudante do 6º ano no Colégio Estadual Ruth Pacheco, em Sussuarana, e Maria Claria seria sua colega de sala. Procurada, a Secretaria de Educação do Estado confirmou que Yasmin estava matriculada na unidade, mas informou que Maria Clara não estudava lá.

Ainda segundo a família, Yasmin era uma garota tranquila. Além de estudar, ela participava de um projeto social no bairro, o Centro Afro de Promoção e Defesa da Vida Ezequiel Ramin (Capdever-Motumbaxé). Os familiares de Maria Clara não falaram com a imprensa durante o enterro.

A reportagem entrou em contato com o titular da 12ª Delegacia (Itapuã), delegado Nilton Tormes, que está à frente da investigação. Ele informou que os afogamentos foram registrados na unidade e que, nos próximos dias, deverá ouvir testemunhas e familiares das vítimas.

Balanço De acordo com a Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar), em 2018 foram registradas 990 ocorrências de afogamentos nas praias de Salvador, com duas mortes. Já em 2019, até o mês de julho, incluindo as ocorrências do final de semana, os números totalizam 619 afogamentos e cinco mortes. O Salvamar alerta ainda que a praia campeã em ocorrências é a praia de Piatã, seguida de Stella Maris, Itapuã e Jardim de Alah.

Segundo a capitã do Grupamento Marítimo do Corpo de Bombeiros Militares, Ana Gleide dos Anjos Pêpe, os banhistas devem procurar uma praia que tenha um ponto de guarda-vidas. Ela orienta também que se evite o uso de bebidas alcoólicas para que não ocorra uma situação de vulnerabilidade durante o banho.

Em relação a crianças, a capitã alerta que os pais devem identificá-las para evitar que fiquem perdidas e permitir que elas fiquem numa distância de, no máximo, um braço, em relação aos pais.

Já para os banhistas que não conhecem a região na qual estão visitando, ela propõe que eles busquem orientações sobre os pontos mais seguros para o banho com o guarda-vidas mais próximo. Além disso, devem evitar profundidades acima da altura do umbigo.  

Previsão do tempo De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia, Heráclio Alves, a previsão para os próximos dias é de tempo aberto, mas com chuva fraca e passageira. No entanto, após a passagem de uma frente fria sobre o mar, os sistemas de alta pressão sobre o oceano deixam os ventos mais intensos e, consequentemente, o mar mais agitado nesta época do ano.

“Por isso, muitas vezes se faz necessário emitir alertas de mau tempo e mar agitado, para orientar a navegação, tanto em relação as chuvas, quanto em relação ao mar, mas nos próximos dias vão estar calmos”, garantiu o meteorologista.

Previsão Meteoceanográfica A Marinha do Brasil informou que a frente fria que atua sobre a área Sul Oceânica se deslocará rapidamente para Sudeste/Leste nos próximos dias, mas ainda manterá o tempo instável com pancadas de chuva fraca/moderada e ventos fortes naquela região. Ainda segundo a Marinha, na região Nordeste, instabilidades continuam provocando pancadas de chuva na costa, desde o Sul da Bahia até Pernambuco. 

Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier