Força-tarefa vai ser criada para evitar aumento de casos de covid-19 no Verão

Especialistas alertam que, se não houver cuidado, estação do ano pode enfrentar aumento de casos da doença

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

O Verão nem chegou ainda, mas o clima já é de praias e bares cheios. É justamente isso que acende o alerta das autoridades da saúde para os riscos de uma segunda onda da covid-19. Já que não tem como cancelar ou adiar a estação mais quente do ano, a saída é mobilizar diversos atores sociais, desde as autoridades de saúde ao trade turístico, numa grande força-tarefa para pensar em garantir as medidas de segurança e evitar que o comportamento dos baianos facilite a propagação do vírus nesse período. 

Verão Responsável é o nome provisório que foi dado para esse grupo por Fábio Vilas-Boas, secretário de Saúde da Bahia. Ele vai se reunir com outras secretarias e com o trade turístico para desenhar o projeto. "Nossa ideia é reunir as Secretarias de Saúde da Bahia (Sesab) e de Turismo (Setur), Bahiatursa, União dos Municípios da Bahia (UPB), Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA) e desenhar um projeto para garantir as medidas de proteção no verão”, diz. 

Uma vez feita essa reunião, ainda segundo o secretário, serão convidados o trade turístico para se juntar à equipe e contribuir com o cumprimento das medidas de segurança.  “Nós queremos garantir nesse período que haja distanciamento, higiene e uso de máscara, além de todas as medidas que precisam ser implantadas no trade turístico. Queremos também normatizar as festas de Réveillon que foram anunciadas e que correm o risco de não acontecer, pois elas infligem o decreto estadual. Quem comprar essas festas que prometem multidão corre o risco de perder dinheiro”, alerta o secretário. Capital  Em Salvador, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também tem se preparado para lidar com o vírus no Verão. Segundo Ana Paula Pitanga, sanitarista do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE), será intensificado o monitoramento do vírus na cidade. “Nós fazemos reuniões diárias, análise de dados e estudo de projeção para saber como vai estar a situação lá na frente e adotar uma medida de segurança, se necessário”, declara.  

Ana Paula também prometeu aumento de testagem através de um inquérito epidemiológico que será aberto para testar pessoas em casa. “Em cada etapa do inquérito serão alcançados pelo menos 3 mil domicílios. Em cada casa, pelo menos uma pessoa será testada e, se der positivo, testaremos os demais moradores”, diz. O exame realizado será o teste rápido e domicílio de todos os 12 distritos sanitários da cidade serão alcançados. "Em cada distrito, nós sorteamos os bairros e as ruas e, em cada rua, testaremos pelo menos cinco casas”, acrescenta.   

A sanitarista ainda afirmou que, em pleno Verão, é possível que algumas medidas de flexibilização do isolamento social sejam suspensas para que haja um maior controle da doença. “Isso não é definido apenas por um possível aumento de casos, mas também avaliamos se vai haver aumento de casos graves, de mortes e da taxa de internação”, explica. “O que nós temos falado direto para as pessoas é que a pandemia não acabou. Elas devem cumprir no Verão os protocolos divulgados pela prefeitura. A gente vai estar acompanhado o cumprimento e toda situação epidemiológica, mas precisamos da cooperação de todos”, conclui Ana Paula.    Segurança  Matheus Todt, infectologista da S.O.S. Vida, explicou que o mito do não efeito da doença no verão já caiu por terra e que é importante superar esse pensamento para combater o vírus. “Em fevereiro de 2020, a gente esperava que o vírus tivesse um comportamento mais benigno nas regiões tropicais. Mas quando ele chegou nas Américas, vimos que tinha a mesma letalidade de outros lugares mais frios. Temos que encarar essa realidade”, explica. 

Todt afirmou ainda que há no horizonte a possibilidade de um aumento de casos no país durante o Verão, mas isso não significa necessariamente uma nova onda da doença. “Se a gente considerar um possível comportamento displicente das pessoas e somar com o aumento de casos, teremos um resultado perigoso”, alerta.  

Já Fábio Vilas-Boas aponta como principais dificuldades para barrar o contágio do vírus as tradicionais confraternizações feitas nesse período. “As pessoas vão estar de férias, vão se encontrar com amigos, em praias, casas de campo, festas, ambientes que as pessoas tiram a máscara e isso vai prolongar a permanência do vírus”, diz. Confira a lista com o potencial perigo dessas atividades no final do texto. 

Durante o período eleitoral, foi observado na Bahia uma série de aglomerações e redução na testagem de covid-19. Essa realidade fez a Sesab se preparar para um possível aumento de casos, o que ainda não aconteceu. “Nós estamos nos preparando para esse crescimento e para enfrentar o pior, mas torcemos que a situação só melhore”, conclui Vilas-Boas. 

Repercussão   Por mais que haja essa preocupação com o aumento da propagação do vírus no Verão, o setor turístico está confiante com o período. Fabio Godinho, CEO da GJP Hotels & Resorts, grupo ao qual pertence o Wish Hotel da Bahia, no Campo Grande, que reabriu nessa semana, disse que tem visto uma alta procura pelo período de Réveillon na Bahia. “Estamos apostando no Verão dada a nossa infraestrutura e programação de lazer que os hóspedes poderão usufruir sem precisar sair do hotel”, declara.   

Já Flávio Monteiro, diretor de experiência operações da Aviva, detentora do resort Costa do Sauípe, garantiu a segurança de toda a família e da equipe. “Nossa expectativa para o Verão é muito positiva, com uma procura dentro do que esperávamos, considerando nossa ocupação máxima de 70% atualmente. A alta estação, com base no nosso Réveillon, que já está quase esgotado, promete ser de recuperação e de novo fôlego e ações", diz.  

Tereza Paim, dona do restaurante de cozinha brasileira Casa de Tereza, no Rio Vermelho, está com expectativa “altíssima” para o Verão. “O turismo está voltando com força total. A cidade está pronta para acolhê-los e a gente vai saber conviver com o vírus”, afirma Tereza, que reduziu em 50% a capacidade do estabelecimento para manter o distanciamento, além de cumprir as medidas do protocolo municipal.  

O mesmo fez Javier Rozas, 35 anos, dono dos restaurantes Its Gastronomia e Its Rock, localizados em Praia do Forte. Para ele, a expectativa é boa, embora esteja preocupado com um possível aumento de casos. “O que estamos fazendo é manter todos os protocolos desde o início. As pessoas estão entendendo que dá para voltar a vida normal com segurança. Desde que abrimos, os casos não dispararam. E acho que se manter a segurança, permanece assim”, afirma.  

Lista de hábitos do Verão e o perigo associado:   

Ir à praia: Risco: Pode ser alto a depender se vai haver ou não aglomeração. O mal da praia não é ela, pois é um local ventilado. Mas muitas pessoas próximas umas das outras é perigoso.  

Bater o baba: Risco: É perigoso por o futebol ser um esporte de contato e nesse período são recomendados esportes individuais ou em dupla. Se praticado num local aberto, é mais seguro.   

Ir ao clube:  Risco: Sendo um local ventilado, é o mesmo princípio da praia. Se for cheio de gente, o risco sobe. Se manter distanciamento, diminui.   

Nadar na piscina do condomínio: Risco: Não há risco se a pessoa não tocar em nenhuma superfície contaminada e se não tiver outra pessoa na piscina.  

Ir pro barzinho  Risco: É alto, pois você tira máscara, bebe, perde o senso crítico, faz coisas que não faria normalmente e fica próximo de outras pessoas.  

Ver o pôr do sol no Farol  Risco: é possível que gere aglomeração e isso ajude a propagar o vírus. Mas se todos manterem distanciamento, o risco diminui.  

Participar de alguma festa popular  Risco: altíssimo, pois aglomeração é algo perigo. Até janeiro, no mínimo, isso deve estar fora de cogitação. 

Fazer piquenique no Parque da Cidade Risco: Baixo, pois é um local arejado e, se for com pessoas do seu convívio familiar, é ainda mais tranquilo. É um problema se isso gerar aglomeração.  

Fazer trilha no Parque São Bartolomeu  Risco: Também é baixo se não houver aglomeração 

Confraternizar com a família:  Risco: é menor a depender da quantidade de pessoas e se são pessoas do mesmo convívio familiar. O problema são os idosos e pessoas do grupo de risco, que devem evitar isso. As pessoas que vão se reunir no final do ano devem estar em local aberto e manter as medidas de segurança. Evitar beijos, abraços, usar máscara e ter cuidado com a higiene. 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.