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Empresa doa 50 cabeças do animal por ano para treinar equipes que realizam transplante de córnea
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 09:00
- Atualizado há um ano
Foto: Divulgação O Frigorífico JF Agropecuária, na rodovia CIA Aeroporto, é o único da cidade que abate suínos. De lá, sai a carne de porco que vai parar nas mesas de muitos baianos. Mas, uma parte do porco, não tão cobiçada para o consumo, é destinada a uma causa nobre. A cabeça do porco é usada pelo Banco de Olhos da Bahia para treinar os profissionais que fazem transplante de córnea em todo o estado.
O frigorífico doa, por ano, cerca de 50 cabeças de suíno para realização do treinamento dos profissionais. Nesta terça-feira (11), o estabelecimento recebe o troféu “Amigo do Transplante”, criado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), como reconhecimento a pessoas e instituições que contribuem para o desenvolvimento das ações relacionadas ao processo de doação e transplante de órgãos.
Só este ano foram realizados mais de 500 transplantes de córnea na Bahia e há 639 pessoas na fila de espera. De acordo com a coordenadora de enfermagem e responsável pela educação permanente no Banco de Olhos da Bahia, Marli Souza Nascimento, o olho do suíno é utilizado no país inteiro para essa prática porque tem uma consistência semelhante ao humano.
"Usamos a cabeça do suíno para o treinamento dos profissionais para a enucleação, que é a retirada do globo ocular. A cavidade orbitária do porco é semelhante à do humano. Há 12 anos o frigorífico faz essa doação", explica a enfermeira Marli. Foto: Divulgação A cabeça do animal é usada também no treinamento da reconstituição da cavidade orbitária do olho. "Após a retirada do globo, a gente entrega o corpo para a família sem nenhuma deformação. O globo ocular é retirado, mas é feita a reconstituição. Colocamos uma prótese no lugar, de forma que não altera o rosto do doador. Esta é uma das maiores negativas das famílias em doar, por achar que vai receber o corpo do familiar com um buraco no lugar do olho", explica Marli.
Ainda de acordo com ela, a cabeça do suíno é levada para o treinamento no mesmo dia que o animal é abatido e usada por um período de até cinco horas, sendo descartada em seguida. "O curso tem duração de três dias e tem a parte teórica e a prática. Sem a prática não consigo validar a teoria", explica, acrescentando que todo o treinamento é monitorado por oftalmologistas do Banco de Olhos.
No estado, cerca de 40 enfermeiros são treinados por ano para realizar o procedimento. O último curso foi realizado no mês de outubro. Na Bahia, os transplantes de córnea são realizados em Salvador, Feira de Santana, Itabuna, Jequié, Vitória da Conquista, Teixeira de Freitas e Camaçari. Além desses municípios, em Alagoinhas, Santo Antônio de Jesus, Itapetinga e Barreiras há equipes habilitadas para realizar captação de córnea.
Diretor-presidente do frigorífico, Júlio César Melo de Farias informou que desde que foram procurados pelo Banco de Olhos passaram a fazer a doação das cabeças. Ainda segundo ele, o estabelecimento já ajudava outras entidades. "A gente não faz isso para aparecer, é pelo social mesmo, mas ficamos felizem com a homenagem".
Segundo Júlio César, da parte da cabeça eles comercializam as orelhas, a carne industrial e os ossos. "A orelha hoje tem o preço de um quilo de carne", conta.
Veterinária responsável pela área de controle e qualidade do frigorífico, Lorena Rabelo Brandão explica que costuma escolher as cabeças de acordo com o peso e a saúde daqueles animais.
"Somos uma empresa católica e sempre buscamos atender aquilo que Deus nos chama. Essa é a nossa filosofia", disse.
A cerimônia será 19h, na sede da Associação Bahiana de Medicina (ABM), em Ondina. Além do frigorífico, em sua sétima edição, o troféu será entregue às seguintes pessoas e instituições: à cantora Katê; ao médico Jorge Motta, representando o Hospital do Subúrbio; ao provedor da Santa Casa de Feira de Santana, Luiz Carlos Seixas de Souza; ao médico Roberto Sidney Côrtes Quadros, representando o Hospital de Olhos de Conquista.