Funcionários e hóspedes se despedem neste domingo (18) do Bahia Othon Palace

Confira os detalhes do fechamento do hotel e os impactos para o trade turístico de Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Bahia Othon Palace foi inaugurado em Salvador em 1975 (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Nostalgia, tristeza e emoção. Os quase 240 funcionários do Bahia Othon Palace enfrentam, talvez, uma das piores semanas de trabalho no lugar. Após 43 anos em funcionamento, o hotel recebe hóspédes, neste domingo (18), pela última vez. Na segunda-feira (19), se despede da Bahia. O anúncio do encerramento das atividades foi feito pela Rede Othon no início de outubro.

Os últimos dias de uma das primeiras hospedarias de luxo de Salvador - que está na cidade desde 1975 - teve direito a casa cheia. A ocupação ultrapassou os 90% devido a um congresso no Centro de Convenções do local, além do feriado do Proclamação da República. O CORREIO esteve no local e conversou com hóspedes e funcionários.

“Há quanto tempo que eu trabalho aqui? Pouquinho... Só uns 25 anos”, disse um dos mensageiros do hotel enquanto auxiliava um hóspede com sua mala. No primeiro contato, ele hesitou em falar com a reportagem, mas logo desabafou. “(O hotel) fecha no domingo mesmo. Os hóspedes saem e…acabou, mas vida que segue. Estou procurando um emprego, mas até agora nada”, lamentou ele, que preferiu não se identificar.

Apesar de ter firmado compromisso de homologar as demissões de todos os funcionários, o hotel não deu maiores informações sobre possíveis negociações para compra do equipamento e real motivo para o fechamento da unidade, tendo em vista que o Othon é um dos melhores hotéis em média de ocupação do estado. Além do Bahia Othon Palace, o Belo Horizonte Othon Palace também fechará as portas nesta segunda.

Surpresa Para os hóspedes, a notícia do fechamento era desconhecida. Já entre os funcionários, que em sua maioria já trabalham no hotel há mais de 20 anos, o sentimento era de tristeza e incerteza sobre o futuro.

Um hóspede que veio do Pará para o Congresso Nacional de Infectologia Pediátrica foi apenas um daqueles que não sabiam do fechamento “Fecha no domingo? Eu fico até sábado. Mas por que que vai fechar? A estrutura é excelente”, disse. Turistas mineiros, Priscila e Hélio não sabiam do fechamento do hotel, onde ficam hospedados até este sábado (17) (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) De bermuda, chinelo e óculos escuros, o técnico em radiologia Hélio Pinho, 31 anos, disse, enquanto voltava da piscina do hotel, que é difícil de acreditar que o Othon Palace está fechando. O local foi o escolhido para ficar com a esposa na primeira viagem do casal a Salvador e ele disse não estar arrependido.

“A estrutura é ótima, o pessoal é atencioso e prestativo. Não dá para acreditar que um hotel desse porte está fechando. É uma pena para Salvador, porque ele está muito bem localizado e tem uma estrutura perfeita”, disse.

A esposa dele, a pediatra Priscila Veloso, 30 anos, também lamentou o fechamento do hotel. O casal, natural de Minas Gerais, chegou na capital baiana na terça-feira (13) e vai retornar para casa neste sábado (17). “O hotel é bem localizado. Conseguimos sair e ver a cidade com facilidade. É triste que esteja fechando”, contou.

Do outro lado da portaria o segurança Alan Francisco, 26, orientava os motoristas que chegavam. Ele contou que soube do fechamento do hotel através da imprensa e que os funcionários foram pegos de surpresa.“Trabalho para o hotel através de uma empresa terceirizada, durante três ou quatro dias na semana, mas aqui funciona como um extra porque tenho outra atividade. Agora, muitos funcionários antigos na casa e que têm apenas esse trabalho estão preocupados e com medo de não conseguir outra coisa”, disse Alan Francisco. O segurança Alan Francisco trabalha no hotel de três a quatro vezes por semana e soube do fechamento pela imprensa (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Direitos trabalhistas O último dia em que o hotel terá a presença de hóspedes será no domingo (18). Os trabalhadores assinarão o aviso prévio já na terça-feira (20). Em reunião entre o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Restaurantes e similares de Salvador e região (Sindhotéis) e a diretoria do hotel foi determinado que as homologações ocorrerão entre o dia 26 e 29 deste mês na sede do sindicato. “Por força da convenção coletiva de trabalho, a empresa é obrigada a fazer a homologação no sindicato”, explicou Almir Pereira, presidente do Sindicato.

De acordo com ele, além de pagar os direitos dos trabalhadores, a empresa irá estender o plano de saúde em quatro meses e fornecerá dois meses de cesta básica para os funcionários. Aqueles que têm menos de um ano de trabalho, irão quitar o termo rescisório no próprio hotel. “Tudo que foi discutido na reunião com o jurídico e RH do Othon Palace Hotel certamente será cumprido”, disse.

Dois funcionários da limpeza e um segurança patrimonial afirmaram estar procurando outros empregos, mas que a tarefa não está fácil.“Tem até um hotel que vai abrir que está levando uns funcionários daqui para lá, mas não é todo mundo”, contou um deles, que não quis se identificar.O hotel é o Fasano, que irá inaugurar no começo de dezembro na Praça Castro Alves, ao lado do Cinema Glauber Rocha, com com 70 quartos. A indicação de contratação dos funcionários do Othon foi do Sindhotéis.

“Tive pessoalmente com o pessoal do RH (Recursos Humanos) do novo hotel Fasano e pedimos para eles avaliarem a possibilidade de colocar alguns funcionários do Othon lá para trabalhar. Os funcionários [do Othon] têm uma grande chance porque são profissionais de mão cheia, conhecem o serviço de hotelaria como ninguém, e o próprio Fasano precisa de bons profissionais por ser cinco estrelas. O hotel deve ter um quadro de 70 funcionários”, contou o presidente do Sindhotéis, Almir Pereira.

O presidente destaca que o Fasano está aceitando currículos, que podem ser entregues pessoalmente no hotel. A equipe do RH já está avaliando e fazendo seleção para as vagas que serão abertas. O CORREIO não conseguiu contato com a assessoria do Fasano. O CORREIO também entrou em contato com a assessoria do Othon, mas novas informações não foram fornecidas. Semana tem sido de nostalgia, despedida e emoção para cerca de 240 funcionários que trabalham no local (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O secretário estadual de Turismo, José Alves, afirmou que acredita que alguma rede hoteleira internacional já esteja em negociação com o Othon.“Eu entendo que eles tenham um termo de confidencialidade nesses casos, mas acredito que, pelo hotel ter um excelente estado de conservação, ser muito bem localizado e com clientes, eles já devem estar em negociação”, disse José Alves.“A gente [o governo] até ofereceu recursos para ele para capital de giro para credenciar a rede, mas não houve avanço nesse quesito e eu acho que a expectativa é positiva para novas redes se instalarem aqui”, disse Alves, que destacou que a melhora do turismo do estado pode atrair novos investidores para o local.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco, foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

“Gigante do turismo” Quando nasceu, em 1975, o Othon foi oriundo de um plano para aquecer o turismo da capital baiana. “Naquela região [de Ondina], foram instalados vários hotéis. Era um plano de turismo para Salvador. Se aproveitou o fato de estar à beira mar para explorar o local. O Othon chegou a ser o hotel mais importante, um gigante do turismo, e uma das principais características dele foi ter fomentado indiretamente no turismo de negócio. Ele acabou se especializando em evento e em negócio”, explicou Nelson Cadena, jornalista, pesquisador e colunista do CORREIO.

Cadena explicou que, mesmo nos tempos áureos do Centro de Convenções da Bahia (CCB) - que sofreu um desabamento parcial em setembro de 2016 -, o Othon conseguia atrair eventos e alcançar ocupação máxima.“O hotel foi muito importante. Teve vários eventos internacionais, vários presidentes se hospedaram ali, inclusive”, contou Cadena.O pesquisador demonstrou preocupação com o impacto do fechamento do Othon para o Carnaval de Salvador. O hotel abriga um dos camarotes mais tradicionais do circuito Barra-Ondina e serve como ponto de cobertura de televisão, por estar próximo ao fim do circuito.

Trade turístico lamenta fechamento e destaca situação de Centros de Convenções em Salvador Além da demissão de mais de 240 funcionários, o trade turístico acredita que um dos maiores impactos do fechamento do Bahia Othon Palace Hotel é a perda de mais um Centro de Convenções na capital baiana.

O Centro de Convenções da Bahia (CCB) não tem um destino desde que desabou parcialmente, em 2016. Um novo Centro de Convenções - dessa vez do município de Salvador - está sendo erguido próximo ao antigo CCB, na orla da Boca do Rio, e será inaugurado no fim de 2019. Mas, agora, a cidade perde mais um espaço: o Centro de Convenções do Othon pode receber 2,5 mil pessoas.

“Além do CCB, nós tínhamos quatro Centro de Convenções para atrair congresso para cá: o do hotel de Stella Mares, o do Fiesta, Pestana e do Othon. Havíamos perdido 25% com o fechamento do Pestana, há três anos, e agora perdemos metade. Sem Centros de Convenções na cidade nós ficaremos muito prejudicados, principalmente na baixa estação. Alguns eventos ou terão que mudar de data ou de cidade”, explicou Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação do Estado da Bahia (FeBHA). Centro de Convenções do Othon é um dos quatro da cidade e tem capacidade para 2,5 mil pessoas (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Pessoa ainda explicou que Salvador e o próprio estado ficam prejudicados na concorrência com outros destinos do Nordeste. O presidente do Salvador Destination, Roberto Duran, criticou o “grande silêncio” da diretoria do Othon, que não explicou o motivo do fechamento. “O mercado vai sentir bastante agora porque [o Centro de Convenções do Othon] é um equipamento de fundamental importância a este segmento [de negócios e eventos] em Salvador”, destacou Duran.

Para o coordenador da Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio-BA (CET), José Manoel Garrido, o Othon é um “ícone da hotelaria baiana” e deixa uma “imensa lacuna”.“Essa lacuna só será suprida com a inauguração do Centro de Convenções de Salvador no final de 2019”, disse Garrido.O vice-presidente da Agência Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abav-BA), Jorge Pinto, explicou que para agências organizadoras de turismo, de congresso e negócio, o fechamento do Centro de Convenções tem um impacto muito negativo.

“Estamos torcendo para que essa situação seja logo resolvida. Tem alguma coisa que, na realidade, está fora de sintonia para saber do motivo do fechamento ou se tem negociação envolvida que a gente não sabe”, disse.

Jorge Pinto destacou, no entanto, que novos empreendimentos estão vindo ou já chegaram na capital, como o hotel Riviera, Fasano e Faro Inn. “O impacto do Othon, no entanto, é explícito quando dizemos que ele está com mais de 90% de ocupação por conta de um congresso que está sendo realizado no local”, destacou.

Fechamento de Othon terá impacto em 50 segmentos ligados ao turismo, diz trade Cerca de 50 segmentos do turismo serão impactados diretamente com o fechamento do  Bahia Othon Palace Hotel nesta segunda-feira (19). De acordo com a Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação do Estado da Bahia (FeBHA), os principais bairros que serão impactados serão Ondina, Barra e Rio Vermelho.“Toda uma cadeia produtiva sofre em cima disso, principalmente a hotelaria. São quase 50 segmentos que são impactados pela redução dos congressistas aqui na Bahia”, destacou Silvio Pessoa, presidente da FeBHA.A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) afirmou que não é possível mensurar o impacto do fechamento do hotel justamente por conta do impacto em outras áreas.

“É toda uma economia associada ao turismo. Impacta nos receptivos, nas companhias aéreas, nas empresas organizadoras de eventos, na área de segurança, nos taxistas, na baiana de acarajé, nos ambulantes, no comércio como um todo, como na área de alimento e bebidas, entre outros”, explicou José Manoel Garrido, coordenador da Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio-BA (CET). O taxista Rubem Ribeiro trabalha há mais de 20 anos no ponto de táxi do Othon (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O taxista Rubem Ribeiro, 53, está pensando na perda de receita. Há mais de 20 anos com ponto fixo no Othon, ele disse que o local concentra parte significativa das corridas de táxi da cidade.“O movimento sempre foi muito grande, principalmente, em épocas de eventos no centro de convenções do hotel. A gente sempre pegava corrida do aeroporto para o Othon e do hotel para os pontos turísticos da cidade. Então, o fechamento é muito triste e preocupante, porque nos afeta diretamente”, contou, enquanto aguardava por um passageiro.O trade turístico afirma que o impacto não será sentido de forma significativa quanto à quantidade de leitos. “Não vejo problema quanto a isso porque estamos com 40% de ociosidade esse ano. Já melhoramos do ano passado, mas ainda temos leitos que podem ser preenchidos”, disse Sílvio Pessoa.