Funcionários terceirizados da limpeza da Ufba assinam aviso prévio para outubro

Profissionais assinaram aviso prévio na última segunda-feira (2) e só trabalham até 10 de outubro

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  • Da Redação

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Os funcionários responsáveis pela limpeza interna da Universidade Federal da Bahia (Ufba) só trabalharão até o próximo dia 10 de outubro. Nesta segunda-feira (2), todos os terceirizados pela empresa Liderança, que detém o contrato dos serviços de limpeza interna da universidade, assinaram o aviso prévio.

Entre os funcionários, o clima é de incerteza e medo. Depois da assinatura do aviso, os funcionários seguirão trabalhando por pouco mais de um mês. Eles ainda não sabem se serão recontratados por outra empresa ou pela própria Liderança.“Estamos sem saber o que vai acontecer com a gente. São por volta de 600 funcionários que estão com medo de ficar sem emprego. Trabalho na limpeza da Ufba há 25 anos e é comum, na troca de empresa, que a gente seja demitido e recontratado pela nova empresa. Mas, o boato é que não tem uma nova empresa para entrar”, disse uma funcionária, sem se identificar.Procurada, a Ufba respondeu por meio de nota que, desde que foi informada da entrega dos avisos prévios, tem mantido diálogo com a empresa. “A Reitoria tem buscado solucionar a grave situação atravessada pela universidade, deixando claro o agravamento do quadro orçamentário, que frustra o planejamento de redução do passivo da Ufba, mediante um conjunto de medidas já tomadas de redução de contratos e limitação de gastos”, diz a nota da universidade.

A Ufba afirma, ainda, que o cenário atual está relacionado ao bloqueio de verbas sofrido pelas instituições de ensino superior este ano. O contrato não inclui o Hospital das Clínicas (Hupes), que é atendido pela Locserv.“Apesar de todos os esforços já realizados, com o bloqueio de nossos recursos de custeio, a ausência de garantia de execução orçamentária plena do montante aprovado na LOA (Lei Orçamentária Anual) para 2019 e o quadro indefinido acerca da reposição plena do orçamento no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) para 2020, a Ufba vê-se confrontada com um cenário de possível ampliação drástica do passivo e de imediata dificuldade para a gestão de contratos, com a ameaça inclusive de interrupção de serviços”, diz. Vigilantes paralisaram as atividade por dois dias na semana passada (Mauro Akim Nassor/CORREIO) Além dos serviços de limpeza, a Ufba já esteve ameaçada de ficar sem vigilância, semana passada. Os funcionários chegaram a iniciar uma greve, que suspendeu aulas, sobretudo no noturno.

Contrato Procurada, a empresa Liderança não respondeu aos questionamentos do CORREIO sobre o contrato. Em julho, a Ufba informou que o contrato, vencido no dia 9 daquele mês, havia sido prorrogado por mais seis meses. Na ocasião, a universidade informou que estava reduzindo a metragem a ser limpa nas áreas externas para economizar, diante do bloqueio nos recursos, mas que tinha mantido a metragem original nas áreas internas.

O contrato assinado com a empresa Liderança data de 9 de julho de 2014, com validade de um ano e podendo ser prorrogado por 60 meses - cinco anos. O último termo aditivo disponível no site da instituição estendia o serviço até o dia 9 de julho de 2019.

A Pró-reitora de Administração da Ufba, Dulce Maria Carvalho Guedes, confirmou que a pró-reitoria entrou em contato com a Liderança. Ainda de acordo com ela, cerca de 300  terceirizados trabalham na limpeza. O Ministério da Educação (MEC), por sua vez, informou, nesta segunda-feira (2), ter liberado recursos para 115 institutos federais.  Impacto na universidade Na comunidade acadêmica, a notícia pegou muitos de surpresa. “E agora? Vão ser quantos pais e mães de família chorando sem emprego?”, questionou um dos funcionários da Liderança, que não quis ser identificado. “É muito preocupante essa situação. A Ufba não está deixando porque quer. Se essa empresa sair, o que vai acontecer?”, se preocupa a estudante Sthefany Lima, de Produção Cultural. Francisco Barbosa acredita que limpeza nas unidades deve piorar (Marina Silva/CORREIO) A maior preocupação dos estudantes é com a manutenção das atividades da universidade sem serviços básicos como o de limpeza. “Já temos dificuldade nos banheiros, até com materiais, sabão, papel higiênico. Fica tudo sujo. Imagine agora”, afirma o aluno de Engenharia Francisco Barbosa, 20.“O papel destes servidores é essencial para a universidade. Eles dão o bem-estar para a gente. Além de que são pessoas muito importantes, têm famílias, estamos bastante preocupados com a situação”, disse a vice-diretora do Instituto de Geociências da Ufba, Simone Moraes.Envio de verbas A situação orçamentária da Universidade Federal da Bahia é apontada como a causadora dos problemas de infraestrutura e de manutenção dos serviços na instituição. Durante a paralisação dos vigilantes terceirizados, a Ufba afirmou estar em diálogo com o Ministério da Educação (MEC) para viabilizar o “desbloqueio total do orçamento previsto na Lei Orçamentária Anual, que lhe permitirá regularizar os pagamentos a seus fornecedores”.

Em nota enviada ontem, o MEC informou ter liberado um total de R$ 614,4 milhões para 115 institutos federais, na última segunda (2). O texto informa que as verbas vão ser destinadas para a manutenção e o custeio das instituições.“A prioridade são as despesas com água, energia elétrica, vigilância, limpeza, terceirizados em geral, aluguéis, bem como assistência estudantil e funcionamento de restaurantes universitários”, informou a pasta.Do total, foram repassados R$ 376,7 milhões para as universidades federais. “O percentual de liberação foi de 7% do valor total da dotação inicial (LOA) de cada instituição”, esclareceu. Até a última quinta-feira (29), a pasta informou que havia enviado R$ 75,6 milhões para a Ufba, em 2019.

Contenção de gastos Também em nota, a Federal da Bahia alegou que a reitoria busca solucionar a “grave situação atravessada pela universidade, deixando claro o agravamento do quadro orçamentário, que frustra o planejamento de redução do passivo da Ufba”.

A universidade ressalta que tem tomado medidas de redução de contratos e limitação de gastos. Mesmo com as ações já tomadas pela administração da universidade, a instituição afirma possuir dificuldade para a gestão dos contratos, o que a gera ameaça de interrupção de serviços.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro