Fundação Odebrecht lança sistematização de tecnologia social ligada à agricultura

Projeto já formou cerca de 1,3 mil alunos e beneficiou 12 mil pessoas no baixo-sul baiano 

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Depois de beneficiar mais de 12 mil pessoas em quase 20 anos de projeto, a Fundação Odebrecht lançou nesta quarta (2/12) a instrumentalização do seu Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado à Sustentabilidade (PDCIS). A ideia é disponibilizar um documento detalhado com o passo a passo que possibilite a implementação da tecnologia social criada pela entidade em diversas regiões do estado. No baixo sul da Bahia, onde o programa acontece, cerca de 100 jovens concluem anualmente a formação que agrega ao ensino médio clássico a  capacitação técnica ligada à agricultura e ao empreendedorismo. 

Criado em 2003, o projeto acontece em três cidades do interior da Bahia: Presidente Tancredo Neves, Nilo Peçanha e Igrapiúna. Ao todo, cerca de 1,3 mil alunos já foram formados pelo projeto que já beneficiou, direta e indiretamente, 12.749 pessoas, considerado, além dos estudantes, suas famílias e comunidades. A tecnologia social ainda implementou 365 projetos educativos nas comunidades e diversas outras melhorias. 

Agora, a intenção é que o mesmo passo a passo que trouxe benefícios para os três municípios possa ser aplicado em outras localidades. Para isso, a fundação transformou a tecnologia social em um documento de mais de 500 páginas que detalha tudo o que foi implementado com sucesso nos anos de projeto. Durante o processo de elaboração da publicação, que começou no último mês de setembro, foram levantadas as principais mudanças ocorridas nas cidades onde o projeto já acontece. 

Entre os resultados estão a redução de 65% na dependência de programas assistencialistas como o Bolsa Família, provocada pelo aumento de renda familiar conseguida   pela formação dos jovens que aplicam os conhecimentos adquiridos no projeto; renda média anual com agricultura de R$ 25 mil, além da redução do número de jovens que deseja deixar o campo e morar em grandes cidades. Resultados estes atestados por consultoria externa que analisou o projeto em campo. “Ao disponibilizar nossa tecnologia social, damos o primeiro passo para a expansão responsável do nosso Programa se tornar uma realidade. Nosso objetivo é poder contribuir para o equacionamento de desigualdades sociais em outras regiões a partir de uma tecnologia que foi testada e validada”, explica Fábio Wanderley, Superintendente da Fundação Odebrecht, sobre o porquê de sistematizar a aplicação do projeto. “Nosso intuito é o de trabalhar de forma ampla a publicação junto ao poder público e iniciativa privada e suprir instâncias governamentais e institucionais, passando a ser referência brasileira como modelo para o desenvolvimento e crescimento integrado com sustentabilidade, desejo antigo da Fundação Odebrecht”, diz Cristiane Nascimento, responsável por Sustentabilidade, Parcerias e Comunicação na Fundação, .

A publicação, em sua versão de visibilidade, está disponível para toda a sociedade no site da Fundação Odebrecht. Para ter acesso à versão de reaplicação, destinada a gestores públicos, empresas privadas e suas lideranças, investidores e empreendedores sociais que desejem implementar o PDCIS de forma contextualizada às suas realidades, basta entrar em contato com a Fundação Odebrecht pelo e-mail [email protected].

Baixo-Sul  Nos 17 anos desde que foi criado, o projeto sempre foi executado nas cidades do baixo sul baiano. É que um dos objetivos da tecnologia social é a promoção do desenvolvimento territorial sustentável. Por isso, é necessário que a implementação se dê em uma determinada região. “O baixo sul é uma região que apresenta algumas carências, mas sobretudo um grande potencial agrícola. Por meio do programa estamos conseguindo fomentar o desenvolvimento econômico de centenas de jovens e suas famílias por meio da educação e com o fortalecimento da agricultura familiar. O programa acaba viabilizando que a população local permaneça no campo, forma novas gerações, empreendendo em projetos agrícolas sempre em harmonia com o meio ambiente”, explica Wanderley 

Além das questões gerais da região, uma relação da própria Odebrecht com a área acabou influenciando a escolha. “A região do baixo sul era onde nosso fundador já tinha uma vivência, conhecendo suas necessidades, suas carências. Então, com o desejo de ajudar essa região decidiu implementar esse programa para que ele pudesse ser também um instrumento de redução de desigualdades”, diz o superintendente. “Essa era uma região que também tinha algumas obras da construtora acontecendo na época da implementação do projeto, e como era um modelo que precisava ser experimentado, ajustado, para incorporar melhorias e aprendizados, esse território acabou sendo escolhido”,completa Cristiane.  

Depois do programa, a intenção é que cada vez mais a região se desenvolva a partir da atuação dos jovens formados pela tecnologia social. “O programa serve ao desenvolvimento da agricultura familiar, fomentando no jovem o desejo de permanecer no campo e possibilitando que suas famílias tenham mais qualidade de vida, empreendendo com a agricultura familiar”, diz Nascimento. 

Formação e compromisso Para os jovens que são diretamente beneficiados, o programa oferece formação técnica que é integrada ao ensino médio clássico. Durante três anos,  além dos estudos comuns a qualquer jovem de ensino médio, o aluno ainda ganha formação técnica ligada à área de agricultura e empreendedorismo.

O curso é realizado através da chamada pedagogia da alternância, quando  o aluno passa uma semana inteira em regime integral na escola, com atividades escolares, de lazer, além de ter garantidas todas as refeições e um alojamento. Depois de uma semana, o aluno volta para casa por 15 dias, onde, ainda em contato com professores e monitores, pode implementar os conhecimentos técnicos adquiridos. “É uma formação completa, que visa não só dar ao jovem o conhecimento técnico, mas uma visão crítica do todo. O jovem acaba se tornando liderança da comunidade, há um desenvolvimento social, emocional, o jovem acaba se tornando protagonista”, opina Francisvaldo Roza, diretor da Casa Familiar Rural de Igrapiúna (CFRI), uma das escolas do projeto, que recebe jovens entre 14 e 21 anos. O objetivo da metodologia, segundo a Fundação, é abranger no processo não somente o aluno, mas todo seu entorno. “Essa metodologia foi pensada para impactar não só quem é formado nas escolas, mas ampliar esse impacto. Então o jovem assume o compromisso de dividir, disseminar esse conhecimento na própria comunidade”, explica Cristiane. 

Além do retorno mais imediato, dado a cada volta em casa, o jovem assume ainda o compromisso de, durante toda a formação, aplicar o conhecimento adquirido para melhorar a própria comunidade. No primeiro ano ele faz uma pesquisa, uma espécie de diagnóstico, onde ele levanta as principais dificuldades e carências que a comunidade que ele faz parte possui. “A gente entende que o jovem só permanece no seu lugar de origem se ele se identifica com aquele lugar, se enxerga sua identidade lá e esse processo é muito importante para isso, fortalece essa identidade fazendo esse jovem se apropriar das dificuldades e forças da sua comunidade e território", diz Nascimento. “O objetivo é que o jovem possa repartir esse conhecimento, transformar tudo que foi aprendido num ciclo virtuoso, de prosperidade, para que a comunidade cresça junto”, finaliza Wanderley.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro