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Paulo Leandro
Publicado em 3 de março de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Quantos brasileiros o futilbol contribuiu para matar, com a infecção de jogadores, treinadores e afins, a distribuir o coronavírus, ajudando também a selecionar cepas mais transmissíveis e letais? Impossível calcular.>
A mordaça impede aprofundar a questão, limitando-se os comunicadores a banalizar o mal, ao informar tal jogo foi cancelado porque o time todo e mais os reservas pegaram a covid-19.>
Em vez do hipócrita minuto de silêncio, deveríamos promover, antes de todos os jogos, um culto a Koalemos, deus da Estupidez, levando também a deídade o nome de todas as taças disputadas no país.>
País não, para representar melhor o que a coisa é, na ação mental chamada “realidade”, o mais fidedigno seria nomear de adensamento populacional: um rebanho de gente de mentalidade tosca.>
A semeadura é opcional, mas a colheita, pode contar como obrigatória: vejam no mapa quantos países já rejeitam brasileiros em seus aeroportos e fronteiras e percebam a imagem negativada dos portadores da torpeza de caráter.>
Sabemos o quanto o dinheiro é o ídolo de dirigentes, patrocinadores, jogadores medíocres com ordenados de alphaville e suas assessorias oportunistas: no reino do capital, o money ganha da vida de goleada. >
Mas, gente, como podemos gritar gol e comemorar conquistas, enquanto a peste prolifera, esgana mais de 255 mil brasileiros, em números subnotificados? Não há algo estranho nesta distopia?>
Estamos todos habitando grande hospício futilbolístico, como também os mentalmente indefesos aglomeram em farras, cultos para enriquecer pastores, e agora ainda queriam até reabrir as escolas? Re-abrir as escolas! Estamos todos loucos?>
Não, nada, é o amor ao dinheiro, à ganância, ao lucro, ao acúmulo de capital, aliado ao desespero dos informais sem auxílio, dos microempreendedores individuais, esta figura horrenda criada para derrubar a carteira de trabalho de Getúlio Vargas.>
Fica, então, a sugestão: sigamos estufando as redes, contribuindo para a variante brasileira circular no planeta e conquistar para o país o título de campeão mundial da estupidez.>
Seria tão terrível assim, parar a bola um mês ou dois, e esperar pela aquisição de vacina pelos governos estaduais, considerando como um intervalo da vitória parcial de Himmler, Mengele e Rommel, ao incentivarem remédio errado, aglomeração e rejeição às máscaras?>
Ademais, partimos de premissas falsas, logo, nossas inferências, mesmo respaldadas pela lógica clássica, tomam aparência de verdades, estruturalmente aprovadas pelos bons autores.>
Eis algumas delas das quais inferimos conclusões erradas: há craques em campo; os treinadores orientam bem; os jogos são bons espetáculos; os jogadores estão protegidos contra a covid; eles não transmitem a doença aos familiares e amigos...>
Pode-se desconfiar de outros pressupostos: o VAR tira a dúvida do árbitro; os resultados de jogos correspondem à neutralidade do juiz; a crônica esportiva é vigilante, atenta e denuncia o horror da infestação.>
Continuemos fazendo do Brasil este hexacampeão de linhagens, vamos celebrar nossas vitórias em louvor ao deus Koalemos, assim doaremos sentido apropriado a nosso perfil: um rebanho louco, pastando em verdes campos, à espera de ser abatido.>
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.>