Gabinete de Carlos Bolsonaro pagou R$ 7 mi a 11 funcionários supostamente ‘fantasmas’

MP-RJ investiga filho do presidente por desvios de dinheiro público na Câmara do Rio

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Publicado em 5 de setembro de 2020 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: AFP

Movimentações financeiras do gabinete de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro pelo partido Republicanos, estão sendo investigadas pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ). A suspeita é de que o gabinete do filho 02 do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido) tenha contratado uma série de funcionários a fim de construir um esquema de desvio de dinheiro público operante desde 2001, a movimentação, sem correção monetária está avaliada em R$ 7 milhões.

Os funcionários contratados deveriam repassar parte de seus respectivos salários para Carlos Bolsonaro em troca de receber uma parcela do dinheiro e não desenvolver nenhuma atividade para o gabinete. Cerca de 11 funcionários foram identificados como atuantes no suposto esquema e são investigados por serem “fantasmas”, dentro da equipe de servidores da Câmara.

Carlos Bolsonaro está sendo investigado por crime de peculato, quando um funcionário público desvia dinheiro dos cofres da união para fins particulares. O relatório da investigação foi obtido pela GloboNews e divulgado pelo portal G1 nesta sexta-feira, 4. Além do suposto uso de funcionários fantasmas, a investigação pontuou que alguns envolvidos sequer moravam no Rio de Janeiro.

Uma das citadas na investigação é a idosa Diva da Cruz Martins. Ele tem 72 anos e mora no município de Iguaçu, a 54 km de distância da capital carioca, local onde supostamente trabalharia para Carlos Bolsonaro. Em depoimento a investigação, ela porém confirmou que não sabia o cargo que ocupava. “Eu não encontrava com ninguém. Eu ia lá e voltava, não sei nem quem trabalhava lá”, declarou aos investigadores.

Diva foi contratada pelo gabinete de Carlos Bolsonaro entre os anos 2003 e 2005 e recebeu R$ 3 mil por mês durante o período. Ela era paga para supostamente distribuir panfletos a favor do filho 02 do presidente. Outro funcionário do gabinete de Carlos Bolsonaro que está sendo investigado sob a suspeita de ser um funcionário fantasma foi o militar da reserva Edir Barbosa Goes, que ainda é assessor do vereador.

Cadastrado na Câmara com a função de entregar relatórios mensais e trimestrais na Zona Oeste do Rio sobre as atividades de Carlos, ele recebeu R$ 1,5 milhão ao longo de 11 anos. Em maio do ano passado, Edir recebeu R$ 17 mil em troca das suas funções.

Supostos 'fantasmas' O casal Guilherme e Ananda Hudson também são apontados como possíveis funcionários fantasmas no esquema de desvio de dinheiro do gabinete de Carlos Bolsonaro. Hudson acumulou um total de cerca de R$ 1,5 milhão em quase 10 anos de serviços ao filho 02 do presidente. Ele ocupa o cargo de chefe de gabinete que antes pertencia a Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, pai de vereador. Desde 2001, Ana reuniu um total de quase R$ 670 mil em salários por serviços prestados ao gabinete do filho do ex-marido.

Enquanto estava contratado pelo gabinete de Carlos Bolsonaro, Guilherme Hudson precisava dirigir por cerca de 5 horas por dia para levar e buscar sua esposa na faculdade que ficava em um município na Região Metropolitana do Rio. Fato que inviabilizaria o trabalho no gabinete.

Ele afirmou em depoimento que prestava assessoria jurídica ao gabinete de Carlos, analisando a constitucionalidade dos projetos de lei apresentados e que pouco teve contato com Carlos, mesmo em dez anos de trabalho, e que não tinha nenhum arquivo guardado que pudesse comprovar o trabalho prestado.

Ainda que estudassem em outro município, passando todo o horário comercial fora do Rio e ocupada com outras atividades, Ananda Hudson também chegou a fazer parte do gabinete de Carlos Bolsonaro, conforme aponta o relatório da investigação. Ele reuniu um montante de R$ 117 mil em um ano e cinco meses.

Argumentos da defesa Procurados pela Globonews, o defesa de Carlos Bolsonaro não quis se pronunciar sobre o assunto, assim como o militar aposentado Edir Góes. O advogado de Guilherme e Ananda Hudson disse que todos os esclarecimentos necessários já foram prestados ao Ministério Público e que seus clientes são inocentes.

Com relação a Ana Cristina, a equipe de defesa pontuou que não há qualquer indício de irregularidades nos serviços prestados por ela para o gabinete de Carlos Bolsonaro e que o montante acumulado de salário associados a ela pela investigação na verdade fazem referência “a vários funcionários que trabalharam por quase 20 anos no gabinete” do filho 02 do presidente. O caso corre em segredo de justiça.