Gambito do 'tchaki'? Como Gilberto usa a Teoria dos Jogos a seu favor no BBB 21

Tese de que 'Gil do Vigor' utiliza método da matemática aplicada para jogar o BBB viralizou nas redes sociais

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  • Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 13:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago José Paiva/CORREIO e Divulgação

A Teoria dos Jogos é um dos ramos mais formidáveis da ciência moderna. Permeando áreas como matemática, economia e até mesmo a biologia evolutiva, a área que estuda situações estratégicas para que jogadores tomem as melhores decisões possíveis para melhorar seus ganhos alcançou um outro patamar: o Big Brother Brasil 21, através do microeconomista Gilberto — ou, para íntimos, Gil do Vigor.

Para exemplificar melhor o que é a Teoria dos Jogos, é bom recorrer ao Dilema do Prisioneiro, formulado em 1950 por Merril Flood e Melvin Dresher, e formalizado posteriormente pelo matemático Albert W. Tucker. Eis a situação: “Você e um conhecido são presos preventivamente, acusados de cometer um crime. Cada um é colocado em uma cela individual e interrogado separadamente. A polícia te dá algumas opções: se você delatar seu suposto comparsa, você é solto na hora, enquanto o conhecido ficará por anos na cadeia. Por outro lado, se nenhum dos dois falar, terão de enfrentar mais alguns dias de prisão, mas depois ambos saem livre. No entanto, se o seu conhecido te delatar e você optar por não fazer o mesmo, você ficará no xilindró por anos. Caso ambos optem pela delação, passarão menos tempo na cadeia do que no caso de apenas um ser delatado.”Nesse cenário, a Teoria dos Jogos indica que o melhor cenário possível é ser sempre o traidor. Inicialmente, não há motivos para ser simpático com seu conhecido, nem como negociar algo em conjunto, já que ambos estão separados. Levando esses fatores em conta, você sempre vai ganhar mais — ou na pior das hipóteses, perder menos — caso opte por delatar o outro. O risco de tentar ser "legal" e acabar se dando mal é alto demais, não compensando a exposição.

Essa é a tese defendida pelo economista baiano Pedro Menezes em uma thread que viralizou no Twitter. Com uma diagnóstico minucioso das ações e decisões  do "tchaki-tchaki", que levam em contas fatores como concorrência e competição, além de análises situacionais, é possível concluir que Gil é o próprio John Nash — economista vencedor do Prêmio Nobel, que teve sua vida retratada no filme Uma Mente Brilhante — pernambucano. Qualquer semelhança não é mera coincidência. (Fotos: Divulgação) Mas vamos ao que interessa: para Pedro, uma pessoa que domina e utiliza a Teoria dos Jogos ao seu favor inicialmente teria consciência de duas coisas, são elas: a importância de ter uma estratégia pensada conforme o seu objetivo e a importância de usar informações externas para atualizar sua estratégia. Sem isso, todos os fatores seguintes seriam impossibilitados de serem tão eficientes como foram até o momento.

Utilizando estes dois pontos, vamos para a parte de conhecimento do jogo, que é fundamental para o sucesso do uso da teoria. Antes de tudo, Gil do Vigor é um fanático pelo reality show global, tendo consumido horas e horas de informação sobre tudo o que acontece lá. Logo, ele sabe que a primeira semana é difícil, que o público não te conhece e qualquer deslize pode ser fatal. Então, o primeiro ponto é não ir de maneira nenhuma ao paredão.

A estratégia utilizada pelo nosso John Nash pernambucano foi optar por uma atitude expansiva e evitar brigas a todo custo na casa. Não à toa, Gilberto foi tido como o recepcionista oficial da casa, fazendo festa a cada entrada de um novo participante, e posteriormente, mantendo boas relações com todos os integrantes da casa mais vigiada do Brasil.

Como todo bom fã do BBB e de realities em geral, Gil do Vigor também sabe que você pode ser tudo nesses programas, menos inautêntico. Com isso em mente, o pernambucano conseguiu de maneira magistral deixar suas marcas registradas — como pulos, danças ou chamar todo mundo de "bicha" — sem se passar como forçado. Sendo amigo de todos, o economista pode evitar brigas e o paredão, além da valiosa possibilidade de esperar antes de se posicionar. Já sua personalidade permitiu se aproximar de desconhecidos e conquistar o público, caso fosse emparedado.

No entanto, nem só de paz vive o homem. Com o know-how afiado da Teoria dos Jogos, o "tchaki-tchaki" adotou uma estratégia clara, fazendo melhorias nela a cada nova informação que recebia. Com isso, veio seu primeiro movimento: após o Jogo da Discórdia sobre os canceladores, Gil flagrou Karol Conká falando mal de Lucas Penteado, lembrou-se do mote do jogo e saiu do quarto, sendo o primeiro com coragem para contrariar — ainda que de forma sutil — a cantora.

Jogando y jogando, desta vez literalmente, com um arcabouço intelectual acerca de tomadas de decisões do seu lado, Gilberto sabe que quando a casa se divide, o público escolhe um lado. Com essa informação em mãos, o microeconomista e doutorando percebeu que se Lucas fosse um vilão, Kerline não teria sido eliminada; ao invés disso, Sarah e Rodolffo, que brigaram com Lumena, continuaram na casa.

Agora, Gilberto sabe que o público não gosta de Karol Conká. Novas informações, novas atualizações no plano de jogo. Sem medo de ser feliz, o pernambucano dobrou sua aposta e seguiu confrontando a cantora. Com aquela velha máxima de que quanto mais preparo, mais riscos podem ser tomados, Gil do Vigor forrou a mesa: com a imunização de Juliette dada por Arcrebiano através do Big Fone, ele percebeu que o joguinho psicológico feito por pessoas da casa contra Juliette (e contra Lucas, Carla e o próprio Bil) não seria tolerado pelo público.

Tal qual o próprio Dr. Manhattan, ou como alguém que saiu da Matrix, Gilberto deu all-in (quando alguém aposta todas suas fichas em um jogo). Agora, sua guerra contra Karol Conká é aberta e explícita. E mesmo tendo apenas os apoios de Sarah e Juliette para enfrentar mais de uma dezena de "inimigos", o John Nash pernambucano está mais convicto do que nunca para sair como vencedor desta batalha.

Pedro finaliza seu fio afirmando que, como economista, Gilberto provavelmente passou horas lendo e resolvendo jogos finitos com assimetria de informação, calculando as jogadas ótimas em cada estágio, algo que pode ser novo para nós, reles mortais, mas não para ele. Não à toa, quando sua função-objetivo mudou de sobreviver para vencer o programa, sua estratégia mudou da água para o vinho. Será o gambito do "tchaki-tchaki"? Descobriremos nos próximos capítulos.

* Sob orientação da subeditora Carol Neves