Gente grande: Figueiredo completa 18 anos e projeta futuro no Vitória

Promovido ao time principal durante a pandemia, volante é o mais jovem do elenco rubro-negro

  • Foto do(a) author(a) Daniela Leone
  • Daniela Leone

Publicado em 24 de maio de 2020 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Joabe Cruz/ Divulgação

Nada de festança e carro na garagem. Figueiredo estava ansioso para atingir a maioridade, mas o aniversário de 18 anos, completados em 25 de abril, foi bem diferente do planejado. A pandemia de coronavírus não permitiu que o jogador mais novo do elenco principal do Vitória comemorasse como desejava. “Eu queria fazer um negocinho maior, com os amigos, mas essa pandemia chegou. Então, eu, meu pai e minha mãe compramos uns salgados na vizinha e fizemos só a gente e meus três primos que moram aqui na frente. Meus 18 anos não rolou mesmo, só um bolinho, salgados e refrigerantes pra enganar, mas quando passar essa pandemia, eu vou comemorar”, avisa o volante revelado na Toca do Leão.

O marco que simboliza o encerramento da adolescência e o começo da vida adulta não venho acompanhado da tão sonhada carteira de motorista. Figueiredo estava contando os dias para se matricular na autoescola antes do isolamento social se tornar a maior arma da população contra a covid-19. “Eu gosto bastante de carro e quero ter o meu logo. Tô esperando mesmo é tirar a carteira pra comprar. Já estou dando uma analisada, talvez eu alugue um, pois está mais barato. Eu pesquiso direto”, conta. A busca na internet pelo possante ideal é uma das diversões do jovem atleta durante a pandemia. “Meu pai não quer deixar eu dirigir sem tirar a carteira. Ele está me ensinando direitinho, mas sair mesmo ainda não posso”. Seu Durval, 63 anos, é quem levava e pegava ele nos treinos da Toca do Leão diariamente antes da pandemia. Figueiredo comemora o aniversário de 18 anos ao lado da mãe Elienaide e do pai Durval (Foto: Acervo pessoal) A festa e o carro ainda não rolaram, mas Figueiredo ganhou um presente ainda melhor. Poucos dias após o aniversário, ele recebeu a notícia de que havia sido promovido ao time principal do Vitória, comandado pelo técnico Geninho. "Foi meu presente de aniversário. Eu fiquei feliz demais. Lá tinham vários caras experientes, rodados, que já passaram em vários clubes”, afirmou o volante, que no começo da temporada integrava o elenco de aspirantes, desfeito em meados de março em consequência da pandemia do novo coronavírus. Com as atividades na Toca do Leão suspensas e as competições paralisadas, a diretoria encerrou o projeto para reduzir custos. 

Figueiredo foi um dos sete jogadores promovidos ao elenco principal. Além dele, subiram o goleiro Yuri Sena, o lateral direito Wellisson, o zagueiro Carlos, o volante Gabriel Bispo e os atacantes Negueba e Eron. “Eu estava gostando bastante do sub-23, só que essa pandemia destruiu muita coisa. Fiquei um pouco chateado, porque eu estava fazendo bons jogos, de titular, e, do nada, acabou, mas pensando no meu lado, não foi tão ruim, porque teve a minha subida”, ponderou Figueiredo, que tem contrato com o Vitória até dezembro de 2021. A extensão do vínculo, bem como um aumento salarial, estão sendo negociados entre o empresário do jogador e a diretoria rubro-negra.

Morador do bairro de Itinga, onde fica localizado o Fazendão, antigo centro de treinamento do Bahia, Figueiredo conta que chegou a fazer teste no rival tricolor quando tinha 11 anos de idade. “Eu estava fazendo teste e aí a categoria terminou. Acabei sendo dispensado, todo mundo, na verdade, tanto quem já estava na base quanto quem estava fazendo teste. Aí fui fazer teste no Vitória”. Aprovado na Toca do Leão, ele veste vermelho e preto há seis anos e começou a chamar mais atenção na temporada passada, quando marcou 10 gols em 11 jogos com o time sub-17.

As boas apresentações fizeram com que o volante fosse alçado em janeiro direto ao elenco sub-23 sem passar pelo sub-20. Acabou sendo uma das surpresas do Vitória no Campeonato Baiano. Ainda com 17 anos, Figueiredo estreou como jogador profissional na primeira rodada do estadual, dia 22 de janeiro, quando o rubro-negro venceu o Jacobina por 1x0, no Barradão. Foi escalado como titular e manteve a vaga no time contra Fluminense de Feira, Juazeirense e Vitória da Conquista. Por opção técnica, o volante ficou entre os reservas contra o Atlético de Alagoinhas e não foi relacionado diante do Bahia.

A ausência no clássico foi bastante sentida pelo jogador. “Eu estava na expectativa grande de jogar meu primeiro Ba-Vi profissional e fiquei sem entender nada, mas o coordenador, que era auxiliar de Agnaldo, conversou comigo, pra continuar na batida, que eu estava indo bem e foi mais pela descida de Eduardo e Maykon Douglas. Eu entendi, de boa, mas lógico que eu queria ter ido. Várias pessoas ficaram sem entender e eu também, mas faz parte”. Voltou a ser titular no jogo seguinte, contra a Jacuipense, o último antes da paralisação do Campeonato Baiano.

Apesar da fama de artilheiro do ano passado, ele não conseguiu balançar a rede em nenhuma das cinco vezes em que esteve em campo nesta temporada. “Teve um jogo que chegou perto, contra a Juazeirense. Marcar um golzinho é sempre bom. Eu estava jogando um pouco mais atrás, pegando aquela confiança, estava indo na frente, mas não achei oportunidade”, justifica o volante, que tem o português Cristiano Ronaldo como principal referência dentro das quatro linhas. “É um cara muito batalhador, me identifico muito com ele”, diz.

Figueiredo nunca foi relacionado pelo técnico Geninho para partidas do time principal, mas treinou com o grupo no primeiro trimestre deste ano. “Eu fiz dois treinos que ele me chamou pra ir, mas agora é que eu vou conquistar ele de verdade. Fiquei sabendo que ele gosta muito do meu estilo de jogo, então eu vou manter e melhorar mais ainda pra ele continuar gostando”, projeta. Figueiredo bate bola no quintal da casa onde mora, em Itinga (Foto: Joabe Cruz/ Divulgação) As atividades na Toca do Leão estão suspensas desde o dia 17 de março para evitar a propagação da covid-19. O clube aguarda liberação das autoridades governamentais para retomar os treinamentos, mas a vontade de mostrar serviço quando voltar aos gramados é tão grande que Figueiredo deu um jeito de furar o isolamento social para se manter em forma.

“Aqui perto de onde eu moro tem um campo de terra e eu tô mantendo o trabalho como se estivesse no Vitória. Um tio meu é formado em educação física e ele está treinando com bola comigo todo dia, menos no domingo. Finalização, bola parada, pênalti, falta. A gente treina tudo", conta. "Ficar parado nessa quarentena é horrível e voltar sem ritmo também é ruim, mas a gente está treinando com distanciamento”, pontua. “Eu não sei como estão os outros atletas do elenco. Se eles não tiverem treinando, é evidente que eu chegarei com uma certa vantagem. Futebol é minha paixão. Ficar esse tempo todo fora do Vitória dá uma agonia retada”.