Gestores de escolas particulares discutem soluções para volta às aulas presenciais

Para o GVE distância do espaço escolar têm afetado a saúde mental das crianças 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 21:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Youtube

O Grupo de Valorização da Educação (GVE), entidade que reúne cerca de 60 escolas particulares em Salvador e Lauro de Freitas, discutiu soluções para a volta do ensino presencial nas escolas baianas, que estão há mais de 10 meses fechadas, por decreto municipal e estadual, devido à pandemia do novo coronavírus. Uma das principais justificativas para o retorno, defendido pelo grupo, é que a falta de aulas nos espaços das instituições afeta, sobretudo, a saúde mental das crianças e adolescentes. O tema foi discutido durante uma live do GVE, realizada, nesta quinta-feira (21), pelo canal do Youtube do Grupo. O debate (reveja aqui) teve participação da pediatra Rita Mira, chefe do serviço de pediatria do Hospital Santa Izabel, e do psicólogo doutor em ciência da educação, Alessandro Marimpietri.  

A diretora do colégio Módulo Criarte, Teresa Brasileiro, que também esteve presente, ressaltou que discutir soluções para o retorno das aulas presenciais é urgente. “É preciso colocar a educação na centralidade. É preciso entender que é na escola que as crianças, através de seu brincar, de suas atividades, do exercício de se relacionar com o outro, de viver conflitos e saber negociar, que ela cresce e se constrói como sujeito, que ela constrói sua singularidade”, defende Brasileiro. Além disso, ela ressalta que é necessário se colocar no lugar desses jovens e entender as mudanças que a pandemia trouxe a eles. “A gente precisa considerar o sofrimento das nossas crianças e a privação que elas estão tendo”, disse.  

Para o psicólogo Alessandro Marimpietri, não é ideal que o ensino remoto se perpetue por muito mais tempo, porque o espaço escolar é essencial para a construção do ser humano. “Ouvimos um discurso de que a escola vai agora pra dentro de casa e isso é impossível. O que se pode fazer é dar uma chance de uma sobrevida socioeducativa, mas a escola não se pode fazer em casa, não por conta do edifício escola, dos muros e paredes, mas, fundamentalmente porque a escola é um organismo vivo. É um lugar de relações, de troca afetiva, de experimentação com o corpo, de encontro com pares, de ampliar relações que se constrói nas vivencias familiares, de valorização do projeto social de civilização, onde a gente coloca pessoas de credos, raças, pensamentos, realidades para coexistir e sem se destruir”, defende.  

Por isso, Marimpietri sugeriu três medidas para que o retorno das aulas presenciais seja feito da melhor maneira possível. Para ele, o caminho deve ser o de constante diálogo entre os agentes de educação, funcionários da escola, pais e alunos. “É preciso que as escolas abram espaços para escutar os professores, auxiliares, agentes socioeducativos, as famílias, para que falem de suas angústias e medos”, orientou o especialista em Ciência da Educação. As três ideias sugeridas por ele durante a live são a criação de fóruns de discussão ou escuta individual dessas pessoas que integram o corpo escolar, antes e durante a abertura. O terceiro ponto é adaptar os protocolos às necessidades dos alunos e professores.  

A pediatra Rita Mira complementou as possíveis soluções para à volta das aulas presenciais também com três sugestões: a testagem regular para covid-19, rastreamento de casos novos e monitoramento dos infectados pelo vírus. “É preciso de testes de covid com uma assertividade boa para passar confiança aos pais e aos professores. Só aí dá a segurança de que não estou com o vírus e posso ficar mais tranquila de transitar melhor”, explicou a médica. Em relação ao rastreamento de casos, Rita diz que é para não haver a falsa associação de que foi a reabertura dos colégios que causou um possível aumento do número de infectados pelo novo coronavírus. Em terceiro lugar, ela afirma que é recomendado que as escolas tenham médicos a disposição da instituição para acompanhar a evolução dos que foram contagiados.  

Pensar e planejar o retorno, segundo a pediatra, é garantir um cuidado com a saúde desses jovens. “É muito presente esse desgaste que estamos tendo da saúde infantil. As crianças estão sendo jogadas e a sociedade não tem dado a importância devida. E a escola faz parte de sua saúde, de seu desenvolvimento. Elas precisam de estimulo social, precisam estar em ambiente escolar, de conhecimento, de aprendizado, que não são só conhecimento didático, é um desenvolvimento cognitivo, psicológico e emocional”, afirma. 

A pediatra diz ainda que valorizar o sentimento da criança, que, em maioria, quer voltar à escola, é valorizar o futuro.” É preciso dar importância ao sentimento da criança, valorizar, porque vai ser nosso futuro depois. Me preocupo com isso. Estou vendo crianças depressivas e o número de acidentes em casa aumentou, estou tendo mais suturas, mais traumatismo craniano.  

O presidente do GVE, Wilson Abdon, apontou que, mesmo com as escolas fechadas, as crianças estão frequentando outros espaços, onde podem, do mesmo jeito, se contaminar pela covid-19. “As crianças estão frequentando e buscando essa interação social em outros espaços, espaços esses sem o menor nível de segurança. E a gente acredita que as escolas, não só do GVE, têm todo o protocolo criado, aplicado, contratado, através de epidemiologistas, infectologistas e pediatras, com toda a responsabilidade”, argumenta.  

Abdon diz ainda que o protocolo foi pensado não só para os alunos, mas para toda a comunidade escolar. O presidente do GVE também disse que disponibilizou o protocolo sanitário para a prefeitura de Salvador, Lauro de Freitas e para o Governo do Estado, a fim de ajudar os órgãos públicos a construírem as medidas de segurança nas escolas públicas.   

*Sob orientação da subeditora Fernanda Varela