Grávida baleada por PM passa por cirurgia e está em coma induzido

Jucilene de Santana Juriti, de 23 anos, perdeu o seu terceiro filho numa gestação de 7 meses

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  • Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2021 às 20:22

- Atualizado há um ano

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Baleada quando estava sentada na porta de casa no bairro de São Tomé de Paripe na última segunda-feira (17), Jucilene de Santana Juriti, de 23 anos, permanece internada em coma induzido no Hospital do Subúrbio. Ela estava grávida de sete meses e acabou perdendo o bebê, após ter sido  atingida três vezes na barriga durante uma ação da Polícia Militar.

Procurada, a Polícia Civil informou que os militares envolvidos na ação foram ouvidos, assim como as testemunhas. Não houve detalhes sobre o depoimento dado pelos policiais.

O Estado de saúde de Jucilene é grave, mas estável. Ela está no hospital há quatro dias. O bebê que carregava seria o terceiro filho do seu casamento com Ângelo Esquivel Oliveira, 24. O trauma não para por aí: o filho mais novo do casal, uma criança de 2 anos, estava no colo da mãe quando ela foi alvejada. A criança não teve ferimentos, mas ficou suja com o sangue dela após os disparos.

O bebê que estava em sua barriga foi sepultado pela família na última quinta-feira. O pai afirma que segue sem entender o que aconteceu na ação.

“Todos nós estamos chocados. Não conseguimos entender. Até agora ninguém da polícia veio nos procurar para dar uma satisfação. A família não se conforma. Nosso sentimento é de muita dor. Meu filho era muito esperado”, disse. 

Ângelo é servente de pedreiro. A família não tem como arcar com despesas de advogados e por isso procurou a Defensoria Pública do estado para formalizar uma denúncia contra os policiais envolvidos no caso.

Relembre o caso Na segunda, Jucilene nem teve tempo de correr. Por volta das 16h30, ela foi atingida por três tiros, um deles na barriga, que atingiu o útero e matou seu bebê. A jovem sofreu lesões no rim, estômago e no baço, além de ter quebrado um braço.   Jucilene estava na porta de casa ao lado da sogra e de seus outros dois filhos, de 3 e 5 anos. O mais novo estava sentado no colo da mãe quando ocorreram os disparos. Ele não foi atingido por muito pouco, mas ficou sujo com o sangue da mãe. Mesmo baleada, Jucilene ainda encontrou forças para pegar os dois filhos no colo e levá-los para dentro de casa. Só depois ela caiu e pediu ajuda. O policial militar, que segundo testemunhas foi o autor de todos os disparos que atingiram a gestante, prestou os primeiros socorros e levou a vítima até o Hospital do Subúrbio. Ângelo disse que os policiais perseguiam um homem que se escondeu no beco onde estavam a mulher, a mãe e os filhos dele. Ele contou que os policiais viram que a rua estava cheia e mesmo assim efetuaram os disparos. Caseira O casal Ângelo e Jucilene é evangélico e tinha se casado há oito meses, apesar de já terem outros dois filhos. Essa terceira gravidez era planejada e muito aguardada por todos os familiares. Jucilene é conhecida por ser uma mulher tranquila, caseira e muito ligada à família. Durante a pandemia, ela evitava até sair para a casa da mãe por medo do coronavírus. "Estou desacreditada de tudo. Isso está se tornando banalidade. Eu entendo que a bandidagem está grande e que eles não recebem a polícia com flores. Mas os policiais precisam ter treinamento. Eles não podem sair atirando à esmo num bairro em plena luz do dia", desabafa a mãe da jovem, Eliene Assis de Santana, de 42 anos. Eliene tem problemas de hipertensão e ao chegar no hospital para visitar a filha, precisou ser atendida também pois passou mal. Ela chegou a conversar com o policial autor dos disparos e ele contou que também é pai e que está colocando a cara à tapa para tentar salvar a vida de Jucilene. Eliene cobrou alguma atitude do governador Rui Costa e o secretário de Segurança Ricardo Mandarino. "Quantas filhas, mães e crianças inocentes vão precisar morrer antes que alguém resolva esse problema? A gente vê acontecendo isso diariamente. Famílias sendo esfaceladas por conta de ações policiais", cobra.Protesto Por conta da ação, familiares, amigos e moradores da região realizaram um protesto na manhã desta terça-feira (18) cobrando justiça. O grupo fechou o trânsito da BA-528. (Foto: Marina Silva / CORREIO) Posicionamento da Polícia Militar Em nota, a Polícia Militar da Bahia informou que uma equipe da 19ª CIPM estava na Rua Adilson Ferreira, em Paripe, na tarde de segunda-feira (17), quando, de acordo com os policiais, se depararam com suspeitos que atiraram contra a guarnição. As testemunhas ouvidas pelo CORREIO, no entanto, negam que houve um confronto entre policiais e bandidos e que apenas as autoridades efetuaram disparos. A PM ainda informa que uma mulher grávida foi encontrada ferida e, em seguida, levada pelos policias para o Hospital do Subúrbio. A nota encerra dizendo que o caso será apurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde a ocorrência foi registrada. "A partir do resultado da perícia técnica, a PM adotará as medidas legais cabíveis", diz a corporação.