Grupo Civil precisou de solidez e persistência para atravessar décadas

Fundado em 1961, grupo tem história contada na série Quarentões de Sucesso

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 27 de maio de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O ano era 1961, Salvador era uma cidade muito diferente da dos dias atuais. Menor e mais sôfrega por mudanças, a capital se preparava para ganhar mais uma universidade: a Católica.  Naquela época, a criançada gostava mesmo era de beber os refrigerantes Fratelli Vita: o guaraná ou os sabores de limão, pêra e maçã. Os bailes de Carnaval aconteciam em clubes privados como o Fantoches ou o Cruz Vermelha. Os encontros eram marcados no edifício da Fundação Politécnica, pois não havia shoppings centeres. Foi nesse cenário que, em 26 de setembro, nascia a Construtora Civil e Industrial da Bahia, tema de hoje da série Quarentões de sucesso.

De acordo com o fundador do grupo, o engenheiro Eduardo Valente, na época, ele havia se desligado da Odebrecht para dirigir uma construtora de grande conceito. “Entretanto,  o propósito não foi alcançado. Então, decidi iniciar uma nova construtora com um colega de turma que trabalhava numa indústria de chocolate em Salvador”, conta.

As atividades foram se expandindo e, vinte anos depois, eles também lançavam a Civil Industrial e Comercial e a Civil Participações, formando, assim, o Grupo Civil. Para Eduardo, isso só foi possível porque a consolidação das atuações da Civil trouxe expertise no seguimento da construção.

“Atualmente, o Grupo Civil reúne a Civil Construtora, a Civil Empreendimentos e a Civil Industrial, que inclui a Mineração de Agregados e a Fábrica de Pré-moldados”, enumera, ressaltando que a busca da excelência e das melhores soluções em tecnologia construtiva marca as ações do grupo. A CIVIL Mineração é a primeira empresa da CIVIL Industrial e foi implantada em 1979 para atender principalmente à CIVIL Construtora (Foto: Divulgação) O segredo é a qualidade

Com uma postura parecida, o vice-presidente Rafael Valente diz que sempre buscam olhar adiante para encontrar novos posicionamentos no mercado. “Acho que o segredo é que sempre buscamos trabalhar com qualidade, profundidade técnica e ética”, ressalta. 

Essa constante busca talvez explique o crescimento do grupo diante de um cenário econômico tão pouco favorável.“Ao longo deste mais de meio século, passamos por diversas crises econômicas e foi necessário ter solidez, segurança e flexibilidade para se adaptar e sobreviver”, completa Eduardo Valente. O fundador destaca que apesar das dificuldades, nunca houve vontade de abandonar o negócio, pelo contrário. “Procuramos nos adaptar ao movimento do mercado, em alguns momentos freando o crescimento da equipe para não comprometer a empresa e seu modesto patrimônio”, diz.

A preocupação com a qualidade fez com que o primeiro imóvel com a assinatura da Civil Construtora marcasse a história da construção na Bahia. O edifício Pedra do Sol foi construído sob o pioneirismo no segmento de alto padrão, e se notabilizou por possuir duas largas vagas de garagem por apartamento para possibilitar acomodar o carro mais luxuoso de então:o Galaxy.  O edifício Pedra do Sol foi construído para atender o segmento de alto padrão e tinha como característica ter  duas largas vagas de garagem (foto: Divulgação) As inovações também estavam presentes na implantação da obra de arte de Lênio Braga no jardim do edifício. A iniciativa fez tanto sucesso que colocar obras de arte em empreendimentos do tipo se transformou em lei na cidade de Salvador.

No Pedra da Vitória, o grupo inovou com um guarda-corpo na varanda, onde 50 cm eram de alvenaria e 50 cm vidro, aproveitando melhor a vista da Baía de Todos os Santos, algo inédito na arquitetura da época. Em 1980, o Pedra do Bosque inaugurou o primeiro imóvel de alto luxo na região de São Lázaro. A fachada do prédio foi revestida em pré-moldados de concreto com motivos florais e a forma matriz, em fibra de vidro, teve seu molde em madeira esculpido pelo próprio arquiteto, Enrique Alvarez. 

Práticas sustentáveis para driblar as crises

No início dos anos 1980, o Brasil atravessava uma grave crise econômica. Nesse período, o Grupo Civil lançava o Central Valle, que havia tido o projeto, construção e incorporação da própria construtora, que planejava oferecer 16 unidades empresariais por andar. No entanto, a empresa percebeu que teria dificuldades em vender unidades pequenas e o projeto foi modificado para 4 salões por andar, atingindo um outro perfil de público. Foi o primeiro prédio da Bahia com a fachada revestida em pele de vidro e um empresarial de alto luxo, com as fachadas laterais em mármore “bege bahia”. O projeto colaborou para o desenvolvimento da região do Vale de Nazaré.

Para Eduardo Valente, foi mantendo o foco na qualidade, profundidade técnica, postura ética e parcimônia (sem desperdícios e busca da economia com engenharia) que o grupo conseguiu atravessar as décadas, atuando em importantes ramos da construção e sempre se posicionando com oferta de produtos de alta qualidade. “Nos últimos cinco anos aumentamos a nossa participação no mercado e pretendemos ampliar sempre de forma sustentável”, pontua.

Um bom exemplo dessa atuação foi a construção do edifício Pedra de Brotas, pois num período em que o alto custo dos imóveis inviabilizava vendas e financiamentos, a obra conseguiu se diferenciar pelo planejamento de todas as etapas construtivas: um processo vertical de industrialização permitiu que esquadrias de alumínio e blocos de concreto fossem fabricados no canteiro, uma central de concreto própria foi instalada e as formas permitiram o dobro do reaproveitamento normal. 

O resultado foi um empreendimento com preço tão atrativo que se conseguiu fugir de uma crise que assolava o país e o setor.

Em 1986, a ampliação da fábrica da Antártica, em Camaçari, quintuplicou a capacidade instalada de produção da unidade da cervejaria na Bahia. Na obra, foram empregadas técnicas construtivas inéditas, mas que até hoje são largamente utilizadas para construção de silos de granel, com concretagem ininterrupta.Legado ético 

Segundo Rafael Valente, a proposta é permanecer mantendo os valores e propósitos, ampliando o impacto positivo na sociedade, com soluções exponenciais que beneficie a vida de muitas pessoas. 

“Nos últimos anos, fizemos um trabalho forte de codificação da nossa cultura e estruturação do nosso modelo de negócio, com isso, pretendemos ampliar nossa participação em outros negócios, inicialmente nos ramos de engenharia, mas futuramente podemos seguir novas tendências e abraçar novos mercados. Para ser mais específico, nos chama a atenção os mercados de saúde, educação e energia”, afirma.

Eduardo Valente pontua que o legado do Grupo Civil para a formação dos funcionários e a atuação no mercado estão muito alinhadas com os valores corporativos.

“Sempre desejamos mostrar que a atuação ética pode funcionar nesse país e nesse ramo, contribuindo de forma profunda tecnicamente em nossos serviços e agindo na busca incessante da eliminação dos desperdícios e da melhoria contínua”, diz o fundador, reforçando que esse olhar é o segredo.

Escola para a vida: de aprendiz a diretor técnico O diretor técnico do Grupo Civil, Wellington Moraes, começou na empresa aos 26 anos, recém-saído do curso superior e com uma formação técnica em estradas. Desde então, esteve envolvido em todas as obras do grupo. Para ele, competência e humildade são os pilares que possibilita que se grupo possa comemorar 58 anos de atuação. Ele conta, na entrevista abaixo, sua jornada na organização.

Quando começou a trabalhar na Civil e como foi essa primeira experiência? Em 1992. Ingressei na Civil Construtora na função de Engenheiro de Produção da obra de Ampliação da Fábrica de Refrigerantes da Indústria de Bebidas Antárctica do Nordeste S/A, com tempo de execução de 2 anos. A experiência foi desafiadora, recém-formado pela UFBa, com 26 anos de idade e de cara tinha que encarar a construção de um viaduto. Fiquei morrendo de medo, mas com o  tempo e o acolhimento da equipe técnica da construtora, na época liderada por Eduardo Valente, tirei de letra, até porque já tinha na formação o curso Técnico em Estradas da ETFBa,  hoje IFBa.

Ao longo dos anos, por quantos cargos passou até chegar a função atual? Fale um pouco dessa trajetória. Passei por quatro cargos até chegar no atual, de Diretor Técnico. Fui gerente de Produção, gerente de Obras, gerente de Contratos e também superintendente da Central de Equipamentos. Logo após a conclusão da ampliação da fábrica de refrigerantes da  Antártica, o novo desafio foi liderar as obras indústrias da Civil e, no final de 1994, pegamos uma reforma com construção de prédio novo totalizando 1.658m² sendo executado  em 96 dias para a Associação Cultural Brasil Estados Unidos (ACBEU). Wellington Moraes começou no Grupo Civil como aprendiz e hoje é diretor, sendo um dos funcionários mais antigos em exercício (Foto: Mauro Akin Nassor) Este conteúdo faz parte do projeto Correio 40 anos, que tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio de Vinci Airports, SESI, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae, Santa Casa da Bahia.