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Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2022 às 05:00
Um grupo de protetores de animais protesta pela remoção gradual de 14 cães da estação Mussurunga, em Salvador. Segundo a organização, os animais, que vivem no terminal há pelo menos 15 anos, vêm sendo retirados de lá durante as madrugadas. Entre a sexta (9) e o sábado (10), foram levados quatro deles: Bradock, Gorda, Vermelho e Zico.>
Ainda de acordo com os protetores, os cachorros recebem todos os cuidados necessários, como a devida alimentação e atendimento veterinário, além de terem passado por vermifugação e possuírem carteira de vacinação. O grupo argumenta que os bichos são dóceis e gozam de boa saúde e que, por viverem no local há mais de uma década, têm direito de permanecer em seu território. >
Segundo uma das protetoras, Iêda Paranhos, 56, os cães que podiam causar algum transtorno ao terminal já foram retirados de circulação. “Nós fazíamos a estratégia de retirá-los para adoção rápida ou recolhê-los para esperar a adoção em nossas casas”, explicou ela, que abriga 86 animais, entre cães e gatos. Quem tiver interesse em adotar um dos membros da matilha pode entrar em contato pelo telefone (71) 98144-5135.>
Um ofício pedindo a devolução dos cachorros à estação foi enviado, na sexta-feira, à concessionária CCR Metrô Bahia. Procurada pela reportagem, a CCR assumiu a autoria da ação e informou que os animais “foram resgatados e encaminhados à ONG Doce Lar, onde serão devidamente tratados, vacinados, castrados, alimentados, vermifugados e, após receberem alta, encaminhados para adoção”. >
A concessionária complementou o comunicado dizendo que a medida “tem o objetivo de oferecer tratamento adequado e digno aos animais e, ao mesmo tempo, resguardar a segurança dos nossos clientes e colaboradores”. Além disso, ressaltou que o abandono de animais é crime e reforçou “seu compromisso com ações contínuas de cidadania, cuidado e respeito”. >
No entanto, a advogada Graça Paixão, especialista em Direito Animal, diz que esses cães são animais comunitários, ou seja, embora não tenham um tutor específico e não sejam domiciliados, são assistidos por um coletivo de pessoas. “Os animais são considerados comunitários porque eles vivem naquele território e têm um vínculo afetivo com as pessoas e com o lugar”, explica a advogada. >
Conforme a explicação de Paixão, a retirada dos cachorros vai de encontro à Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), que considera crime “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, sob pena de prisão por três meses a um ano e multa. “Isto é uma forma de maus-tratos: você retirar o animal do local a que ele já está acostumado e levar para outro, desconhecido”, argumenta.>
Falta de políticas públicas Ainda de acordo com a advogada Graça Paixão, a existência de animais em espaços urbanos ou em situação de rua é fruto não só do abandono mas também da falta de políticas públicas voltadas a essa população. “Se temos esses animais vivendo nas ruas e não temos uma política pública, precisamos aprender a viver de forma correta com esses animais”, defende a especialista em Direito Animal. >
Apesar de Salvador não contar com serviço municipal de resgate de animais em situação de abandono ou maus-tratos, há ONGs que realizam esse trabalho, como o Abrigo Animais Aumigos, que atende por meio do perfil @abrigoanimaisaumigos no Instagram e pelo telefone (71) 4104-0116. >
São direitos dos animais comunitários ou em situação de rua: >
- Viverem livres em seu território, sem serem importunados; >
- Terem suas necessidades básicas — alimentação, água e saúde — atendidas. >
- Serem tratados com dignidade e livre de crueldade; >
- Serem cuidados por seus protetores locais; >
- Serem inseridos em uma família, mediante adoção responsável. >