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Da Redação
Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 12:50
- Atualizado há 2 anos
O Coletivo de Entidades Negras (CEN), instituição do movimento negro brasileiro, criticou nesta terça-feira (29) a expulsão de dois jovens negros do Salvador Shopping por seguranças do estabelecimento. O grupo disse que a expulsão está relacionada ao preconceito que estrutura a sociedade contra pessoas negras e pede que o caso seja enquadrado como crime de racismo.>
Através de nota, o coletivo informou que "repudia o ato amplamente noticiado, que remonta dores antigas e também recentes vividas por nós, como o assassinato de Alberto Freitas por seguranças do Carrefour".>
Eles também cobraram apuração do caso por órgãos responsáveis e enviarão nota pública ao Centro de Referência de Combate ao Racismo Nelson Mandela, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), para que fique registrada a denúncia como crime de racismo."Devem ser acionados, ainda, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Bahia, para que uma articulação exija do estabelecimento supracitado providências no que diz respeito a localização das vítimas e reparo imediato das violências psíquicas e físicas sofridas por elas e a instalação de um grupo externo que audite práticas racistas na cultura organizacional da empresa, propondo mudanças estruturais na forma de orientação dos funcionários e colaboradores", disse a nota.Vídeo mostra expulsão Os jovens foram retirados à força do Salvador Shopping por seguranças do estabelecimento por volta das 17h55 de segunda-feira (28), no terceiro piso do local. Ambos foram alvos de uma abordagem truculenta. Segundo testemunhas, um deles recebeu um mata-leão e foi arrastado por dois funcionários do centro de compras enquanto gritava por socorro.>
Segundo pessoas presentes no local, os jovens aparentavam ter entre 12 e 16 anos. Os dois foram levados para os corredores internos do shopping pelos seguranças, onde outra funcionária fazia a guarda na porta para impedir a entrada de quem acompanhava a situação.>
Os meninos foram levados para a polícia, um deles foi liberado e outro encaminhado para a delegacia para apuração da ocorrência, segundo o Salvador Shopping.>
Um casal que pôde acompanhar o processo de expulsão dos dois do local disse ter sido informado que o jovem levado pelas autoridades tem uma reclamação de violência no shopping em seu nome. Uma testemunha que não quis se identificar afirmou que o garoto foi levado em uma viatura da Polícia Militar, mas os outros presentes não souberam confirmar a informação.>
“O casal nos contou que os meninos não estavam machucados, que eles estavam bem. Disseram que a abordagem policial manteve distância, conferiram o bolso deles, mas não de forma truculenta. Eles não tinham sinais de violência aparentes”, contou a estudante Júlia Magalhães, 23 anos, que acompanhou o desenrolar dos fatos.>
Um dos meninos reagiu de forma mais dura à abordagem gritando muito e tentando fugir dos seguranças. Ele, inclusive, caiu no chão, conforme mostra um vídeo que circula nas redes sociais.>
Os funcionários responderam com mais brutalidade, afirmaram os presentes, que contaram ainda que o outro jovem estava mais calmo. Ambos tentaram, de alguma forma, não ser levados pelos agentes de segurança.>
Pelo menos seis pessoas esperaram no shopping até o final da expulsão para garantir que os jovens não seriam machucados e cobrar uma resposta do estabelecimento sobre a brutalidade da atuação dos seguranças. O grupo não prestou queixas na polícia nem abriu uma reclamação no Salvador Shopping sobre o caso.“Fiquei preocupada vendo essa situação de violência e racismo, por isso, fiquei esperando com outras pessoas para saber como estavam os meninos. Pedimos para ver eles na sala, mas os seguranças barraram a entrada. Depois de um tempo, um casal foi liberado para acompanhar a entrega dos meninos para a polícia”, relembrou Júlia.Outra testemunha que não quis se identificar contou que o casal não acompanhou a ação por inteiro, só tendo acesso aos jovens mais para o final da retirada forçada. >
Aos presentes, o Salvador Shopping afirmou que a ação era necessária porque os meninos se recusaram a deixar o estabelecimento. Em nota enviada ao CORREIO, o estabelecimento lamentou o ocorrido e disse que a conduta dos colaboradores envolvidos está em desacordo com as orientações e treinamentos periodicamente ministrados à equipe."O fato está sendo apurado internamente para a individualização das responsabilidades e aplicação das sanções cabíveis. Queremos reiterar que, em momento algum, concordamos com o que acontece nas imagens. O centro de compras reforça que vem dialogando com todos os órgãos competentes sobre o tema", concluiu o Salvador Shopping em nota.Para uma das testemunhas, um outro segurança contou que os meninos ameaçavam clientes do shopping enquanto vendiam revistas e outros objetos dentro do centro comercial. “Me disseram que eles abordavam os clientes e xingavam os que não compravam as coisas que eles vendiam. Mas nada justifica a forma como eles agiram”, relatou a testemunha.>
Dois funcionários do shopping que acompanharam a ação relataram que os meninos já tinham sido vistos no local e que outras situações parecidas já tinham ocorrido por lá.>