Habitação e infraestrutura trazem oportunidades

Altas nos índices de desemprego, custo de vida e juros são os desafios para a construção civil

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  • Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O déficit habitacional e na área de infraestrutura são oportunidades para o crescimento da indústria da construção no Brasil, avalia Rafael Valente, vice-presidente do Grupo Civil e diretor de Gestão Sustentável da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA).

Por outro lado, a atividade precisa superar desafios no cenário macroeconômico, que vão da alta nos índices de desemprego – que inibem o mercado consumidor –, aumento na taxa básica de juros e a aceleração nos índices de inflação. 

O engenheiro, que deve assumir em breve a presidência do Grupo Civil, foi o convidado do jornalista Donaldson Gomes, no programa Política & Economia, veiculado no Instagram do CORREIO (@correio24horas). 

Fazendo uma comparação entre o mercado imobiliário brasileiro e o chinês, Rafael Valente lembra que boa parte da população no país asiático já tem pelo menos um imóvel, enquanto aqui existe uma grande demanda por ser atendida ainda. “O déficit habitacional que ainda temos aqui no Brasil gera muitas oportunidades, principalmente na faixa do antigo Minha Casa Minha Vida, que agora mudou para Casa Verde Amarela”, explica. 

Além disso, o vice-presidente do Grupo Civil acrescenta ainda a demanda por infraestrutura que existe no país. Ele lembra que o marco do saneamento foi bastante importante para o setor como um todo, mas ressalta as oportunidades de investimentos que a Civil enxerga através das parcerias público-privadas (PPPs) ou em concessões. Por opção, a empresa não atua em obras públicas, diz Valente. Mas tem buscado aproveitar as oportunidades que surgem com as novas modalidades. 

“A Civil, por opção, não faz obra pública, por diversos fatores”, afirma. “Teve tudo que a gente viu na Lava Jato, mas além disso, é um cliente que, por conta lei, não valoriza tanto o nosso trabalho. Por força da lei, o poder público contrata pelo menor preço. Nem sempre eu terei isso, mas terei a melhor solução”, pondera. “Quando surgem as PPPs e concessões, uma empresa privada vence aquele processo e nos contrata, aí é uma lógica que nós compreendemos”.  Segundo ele, neste formato, a empresa tem conseguido atuar em grandes obras. 

Desafios Valente lembra que a pandemia provocou um cenário de desabastecimento de materiais, ao mesmo tempo em que a demanda por produtos do setor aumentou. “A pandemia fez com que as pessoas ficarem mais tempo em casa e elas olharam mais para os seus lares, buscando ajusta-los”, lembra. Esse movimento levou alguns a procurarem outros lugares para viver, ou a investir em reformar a casa. 

“O aumento da demanda em conjunto com indústrias fechadas ou com produção reduzidas em virtude da pandemia gerou desabastecimento, aumentos de preços e inflação de materiais”, explica. A inflação do setor, medida pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), indicam uma alta de quase 27% em doze meses, atingindo uma máxima histórica. 

Segundo Rafael Valente, em alguns casos, as empresas não conseguem repassar as variações nos custos e acabam tendo que absorver prejuízos. Mas ele lembra ainda que houve casos de materiais que subiram muito acima da inflação. Foi o caso, por exemplo, do aço, que chegou a dobrar de preço. “O grande vilão da inflação na construção foi o aço. A gente teve orçamentos que, aplicando o INCC (inflação da construção), os aumentos eram 40% acima do índice”, conta. 

A boa notícia, diz, é que aparentemente o pior já passou em relação à alta do índice. Por outro lado, completa, o cenário de volatilidade na economia que o país costuma viver em anos eleitorais “chegou mais cedo”.  Todas as incertezas vêm se refletindo em alta da inflação e o “remédio amargo” para a situação é aumentar a taxa de juros. “Aumento de juros é muito ruim para quem quer empreender, é terrível”, diz. 

Segundo ele, o Grupo Civil está mais tranquilo em relação aos impactos dos juros porque aproveitou os anos de 2018 e 2019, quando as taxas eram mais baixas  e realizou diversos investimentos. A fábrica de pré-moldados leves foi duplicada e novos equipamentos foram adquiridos. “Um dado que me orgulha muito, e à Civil como um todo, é que começamos a pandemia com 370 funcionários e hoje temos 650”, conta. 

Ele acrescenta como um fator que ajudou a construção civil como um todo a passar pela pandemia foi o esforço dos poderes públicos estadual e municipal no sentido de garantir a continuidade das atividades com a segurança necessária. “Essas decisões do governo e da prefeitura nos ajudaram muito e sem dúvidas salvaram muitos empregos”, acredita.  Rafael Valente conta que desde 2012 a empresa planejava a chegada dos 60 anos. “Ninguém esperava uma pandemia no meio do caminho, que potencializou os desafios, mas nos fez mais fortes”, destaca.