Hashtag #meudivorcioabusivo: vamos lá?

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2019 às 14:25

- Atualizado há um ano

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Já se passaram alguns anos, mas revisitar aqueles dias ainda me causa raiva, desprezo e outros sentimentos dos quais - dizem - devo me curar. A Vara de Família, amizade. O divórcio e tudo que ele traz (definição de guarda e pensão, regime de visitação de filhos), é das coisas mais violentas que uma mulher pode viver. E em silêncio, porque tudo corre blindado, em segredo de justiça. Um processo no qual "o filho (no caso, a filha) chora e a mãe não vê".

Jamais será bolinho sepultar um amor, principalmente se há filhos nos colos. As emoções são intensas, sabemos. Natural que as partes se exaltem e queiram trazer para a mesa do juiz(a) mágoas que deviam resolver em terapia. Por isso, precisamos estar representados(as) e eu agradeci, muitas vezes, por ter a minha advogada a dizer "respire", "não vem ao caso", "não se exalte". Num limite, quando - no escritório dela - apresentei um fato bombástico, escutei da mulher que me defendia "pense no seu filho lendo isso, no futuro", "lembre que sempre serão as suas palavras". Guardei a minha "carta" na manga e hoje me orgulho de um processo digno, do qual não preciso me envergonhar. Tudo certo. Da minha parte, claro.

Do outro lado, também uma advogada. Uma mulher conhecida por promover casamentos homoafetivos, inclusive. Quando pesquisei e descobri que sentaria diante dela, pensei "que máximo"! Pra mim, estava claríssima a possibilidade de tudo correr no alto nível que a minha advogada propunha. Qual nada! Tive o desprazer de ler a tese, defendida por aquela profissional tarimbada, de que a minha amamentação prolongada (coisa que desejei fazer desde antes de engravidar e todos os meus amigos mais íntimos sabem) era apenas uma artimanha para afastar meu filho do pai. Que ele próprio quisesse defender isso, vá lá. Eu também pensei loucuras naquele momento, destemperada que estava. Mas ver esse discurso legitimado, defendido como verdade? Especialmente por uma mulher? Sim, dói mais. Essa, entre outras desonestidades que agora não vem ao caso. Porque não trato aqui do meu processo, apenas, mas da triste e violenta realidade que quase todas nós vivemos. Isso, descobri mais tarde.

É essa questão que quero levantar: a defesa do homem, nos processos de divórcio/guarda que reproduz, na maior parte das vezes, o machismo mais primitivo e traz todas as suas repercussões violentas. Da atuação de advogados (e advogadas, incrível!) atacando mulheres, muitas vezes em momentos de grande vulnerabilidade. No meu caso, havia uma depressão pós-parto, por exemplo. Situação cada vez mais comum, já que as separações, muitas vezes, são precipitadas justamente pelas demandas do nascimento de filhos. Mais comum ainda é que se vá à justiça estabelecer os termos das relações entre pais e mães que nunca foram casados. Como lidar com isso dentro dos parâmetros da dignidade?

É claro que ambas as partes tem direito a defesa, mas outra certeza é a de que há um modo de trabalhar sem violentar mulheres. Claro que há. Sobretudo, sem alimentar ódios entre aqueles que sempre serão pai e mãe da mesma prole. Há um meio - e aqui falo sobre ética - de não inviabilizar um futuro saudável, a leveza que pode chegar, depois da tempestade. E, sim, esse é um compromisso que precisa ser urgentemente assumido pelos advogados e advogadas que atuam nas varas de famílias. De que maneira podemos exigir isso?

Uma das formas é passar a expor os chavões reproduzidos no silêncio desses processos, ridicularizando, assim, a atuação padrão de boa parte desses profissionais que ainda fundamentam as suas peças em estereótipos bem cansados. No fundo - e basta ler os processos - está tudo sustentado na ideia de que somos todas "desequilibradas", "manipuladoras", "aproveitadoras". Do outro lado, o "pai sem grana que quer apenas conviver com os filhos(as)". O resultado é sempre o mesmo: relações destroçadas. Aos filhos(as), no fim das contas, mães exaustas e pais odiados. Além dos honorários embolsados pelos adogados(as), vamos pensar direitinho: quem ganha com essa postura, afinal?

Relatos? Tenho aos montes. E teremos muitos mais. Inclusive, dando conta da atuação de profissionais que agora surfam na onda do feminismo, respeito e equidade, mas que, entre as quatro paredes do fórum, são outro papo. Não dá pra expor nomes aqui (temos consultoria jurídica para este texto que não sou tão burra assim), mas olha que hashtag ótima é #meudivorcioabusivo. Vamos subir? Vamos levantar essa questão? Trata-se de dignificar esses processos que, na maioria das vezes, ainda são máquinas de moer mães. Exagero? Né não. Entre os relatos que colhi, publico quatro verídicos, abaixo. Todos, com ideias absurdas, mas defendidas em processos, por advogados e advogadas. Você pode publicar o seu, se quiser, nas suas redes sociais. Apenas não divulgue o nome dos(as) profissionais envolvidos(as), mas saiba que a sua história é sua e você pode/deve contar. Vamos juntas? Olha como deve ser, nesses exemplos REAIS:

No #meudivorcioabusivo, o pai disse que eu inventava que amamentava a minha filha (um bebê de nove meses) apenas para afastá-lo do convívio e pediu 15 dias com ele, que mora em outra cidade.

No #meudivorcioabusivo, o genitor no meu filho afirmou que eu podia dar leite de coco no lugar do leite especial receitado pelo pediatra, para baixar o valor da pensão.

No #meudivorcioabusivo, o meu ex defendeu que eu devia levar e trazer o nosso filho para a terapia (ele é autista) de ônibus, pra ser mais barato. Detalhe é que consegui sair no horário de trabalho para fazer isso, o percurso é longo e ele - que trabalha no mesmo prédio e tem carro - jamais se ofereceu para nos levar e trazer.

Durante o #meudivorcioabusivo o meu ex defendeu que eu usava a pensão para "sustentar meus vícios", sendo que eu trabalho e meu único vício é cigarro.