Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Paulo Leandro
Publicado em 19 de janeiro de 2022 às 05:01
- Atualizado há 10 meses
A Copa Africana de Nações vai definindo suas classificadas, visando a segunda fase, sem boa vida para seleções como o Egito do craque Salah, precisando vencer o Sudão hoje a fim de seguir na competição recheada de jogadores de destaque nos campeonatos de países da Europa.
A vida imita o futebol, pois os talentos de epiderme retinta saem de seus lares para alegrar quem suga suas minas de ouro, campos de petróleo, o marfim dos elefantes... O Capital Branco podia ao menos bancar a imunização dos espoliados contra a covid-19, mas qual razão teriam os magnatas para tamanha bondade com a mão de obra africana?
Egito lembra logo as colossais pirâmides, mas para protetores de gato a civilização do Nilo tem outro motivo de admiração: a deusa-gata Bastet, ancestral afirmação do sagrado feminino, entidade respeitada a ponto de serem as felinas embalsamadas para protegerem os faraós por toda a eternidade.
Teria sido em honra a Bastet a organização dos primeiros carnavais, exclusivamente curtidos por multidões de mulheres, em orgias liberadíssimas, nada de roupa ou algo capaz de atrapalhar as fricções, em cortejos nos quais a generosa exibição das genitálias teria o poder de despertar (e alegrar) o deus Rá (o Sol) e quem passasse às duas margens do Grande Rio.
Mesmo hoje, para cultuar Bastet não é difícil, a conexão ocorre quando nos sentimos livres (como são os felinos) de imposições externas, tipo partidos, igrejas, manuais, governos, todo e qualquer artifício de dominação por grupos de poder. Outra chance de sentir a presença de Bastet (ou Bast) é a alegria de viver, pegar uma praia em um dia de sol, pode dar bom!
A ambiguidade, no entanto, caracteriza o perfil da deusa-gata, assim como tem ocorrido com a seleção egípcia, alternando magníficos saltos com alguns arranhões em bagunça tática, assemelhando-se aos bichanos, quando perturbam-se uns aos outros, em altos miados.
O primeiro lugar deste grupo do Egito deve ficar com a Nigéria, país de Ricky e dos soteroafricanos descendentes de escravizados. Já o grupo E tem sido pasto saboroso para zebras: Guiné Equatorial venceu a Argélia, quebrando invencibilidade de 35 jogos do país de Camus e Zidane; Serra Leoa teimou com Costa do Marfim de Mahomed Bamba: 2x2.
A última rodada, amanhã, reserva um duelo de vida ou morte para Costa do Marfim e Argélia, ao se enfrentarem, enquanto as modestíssimas Serra Leoa e, principalmente Guiné Equatorial, fazem o outro jogo, com toda certeza de uma ou outra seguir viva.
No grupo F, a Tunísia também foi vítima do bicho listrado alvinegro, ao perder por 1x0 para o Mali. Amanhã o jogo contra Gâmbia decide vaga, enquanto o Mali pega a Mauritânia sem precisar de mandinga, como era chamada esta região de muçulmanos, habituados a amarrar amuletos ao pescoço, daí a origem da palavra assimilada no português falado no Brasil.
A dona da casa, Camarões, já passou adiante, junto com Burkina Faso (Fa-sô), em mais uma ótima Copa Africana, tão pouco noticiada, afinal são os pretos, né, roubados, escravizados, impedidos, amputados, relegados a escória, mas uma gente de muito asé (força), sem se dar por vencida, apesar da sucção modo on ainda hoje por parte das mui cristãs potências bélicas europeias.
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.