Homem morto na Estação Pirajá comemorou saída da prisão horas antes; veja vídeo

Diego Santos já deveria estar solto há três meses

Publicado em 5 de julho de 2022 às 11:27

- Atualizado há 10 meses

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O pedreiro Diego Santos de Souza, 35 anos, morto durante um ataque na Estação Pirajá na última sexta-feira (1º), logo após deixar o sistema prisional já deveria estar em liberdade há três meses. Ele só conseguiu a liberdade durante um mutirão penal na Cadeia Pública, em Salvador, realizado pela Defensoria Pública.

De acordo com a Defensoria, Há três meses, Diego já havia adquirido o direito de sair da prisão para responder ao processo em liberdade, que corria na 3ª vara de violência doméstica de Salvador.

Em um vídeo gravado pelo órgão, ele comemora a liberdade. “Eu estava com o alvará na casa [na cadeia pública], só que não foi cumprido. Fiquei esquecido pelo sistema, mas graças a Deus, ao mutirão da Defensoria Pública da Bahia, conseguiram me localizar e me resgatar. Ninguém havia me chamado para dar a minha liberdade”, comentou Diego. Além dele, outras duas pessoas foram liberadas durante o atendimento.

A defensora e coordenadora da Especializada Criminal e de Execução Penal, Fabíola Pacheco, que atendeu Diego, explicou que ele estava tranquilo na ocasião. “Estava alegre com a libertação. Eu ainda dei um sermão, em tom leve, dizendo para ele não ser mais violento com as mulheres, e ele disse: ‘Não, doutora, vou cuidar de meu filho. Eu sei que estava errado”, conta.

Ainda segundo a defensora, ele não demonstrava medo e se mostrou arrependido do crime. 

Repúdio Em nota publicada nas redes sociais, a Defensoria lamenta a morte do assistido e também a situação das três mulheres e três homens feridos no atentado. Também criticou a forma como as pessoas estavam se referindo ao egresso do sistema penal. Informa que Diego não possuía antecedentes outros, que cumpria prisão provisória, e que ainda estava resguardado pelo princípio de presunção da inocência, participando do devido processo legal da ação.

“A gente vive um Tribunal de Exceção nas redes sociais. Em um minuto eles já conheceram o caso, já investigaram, já denunciaram e já até estabeleceram pena de morte”, critica Fabíola Pacheco.

“O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo e toda medida que promova uma reintegração e desinstitucionalização deve ser implementada e incentivada. O sistema prisional estigmatiza e prejudica em muito a reinserção do preso à sociedade. Todo preso, como cidadão, lhe tem assegurado assistência jurídica, educação, segurança e alimentação, entre outros direitos, e a Defensoria Pública repudia os comentários depreciativos contra Diego. Esperamos o respeito à sua memória”, diz a nota da DPE/BA.

Ataque Segundo testemunhas relataram aos policiais, dois homens entraram na Estação Pirajá a pé e foram em direção a Diego, que saiu correndo ao avistar a dupla. Durante a fuga, os criminosos começaram a atirar e, além de matar o ex-detento, feriram outras sete pessoas que passavam pelo local. Segundo o perito médico da Polícia Civil Marcos Mousinho, "foram efetuados oito disparos, e a arma não era de grosso calibre".

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, entre os feridos, três homens e três mulheres foram socorridos por populares para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Pirajá/Santo Inácio. Todos estão internados na unidade de emergência e o estado de saúde é considerado estável. Há ainda uma outra vítima que foi levada para a UPA de São Caetano e liberada em seguida. Um dos atingidos trabalha como segurança pela CCR Metrô. Segundo a Polícia Civil, quatro atingidos eram dois homens de 25 e 50 anos e duas mulheres de 57 e 59. 

O caso chocou quem estava no local. "Foi do nada, achei que fosse bomba, só ouvi os gritos 'é tiro, é tiro, corre', mas eu vou correr pra onde? Não sei quantos homens foram, mas sei que foram atrás de um homem, mataram ele, mas acabaram atingindo outros sete, até um segurança ficou ferido. A gente pensa que tá seguro, rodeado de segurança, mas a gente não ta seguro nem em casa mais", disse uma testemunha que preferiu não se identificar.