Homenagens à Iemanjá podem ser feitas ao longo dos 64 km de orla de Salvador

Autoridades pedem que população não se aglomere para depositar oferendas

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Esse Dois de Fevereiro não será ‘dia de festa no mar’ pelo segundo ano consecutivo por conta da pandemia, mas isso não significa que a cidade com a maior orla do Brasil deixará de homenagear Iemanjá no dia dedicado a orixá. A praia do Rio Vermelho, tradicional ponto de encontro dos devotos, está bloqueada para evitar aglomeração e a transmissão da covid-19, mas a cidade oferece dezenas de outras praias onde as flores e os presentes podem ser depositados para a Rainha do Mar. Ao todo, os domínios de Janaína – um dos muitos nomes da deusa africana - em Salvador se estendem por 64 km de praias. É só escolher a de preferência e honrar a tradição.

A Guarda Civil Municipal terá cinco viaturas para monitorar a região do Rio Vermelho e impedir aglomerações. “O objetivo é que aconteça apenas a parte religiosa, com as homenagens e entrega do presente, nos moldes do ano passado, sem os festejos. A praia do Rio Vermelho vai estar fechada, mas vale lembrar que todo o restante do litoral de Salvador vai poder ser acessado. Quem quiser fazer a manifestação religiosa em outros locais, vai poder fazer e a prefeitura incentiva isso. A cidade tem 64 km de praia, incluindo as ilhas, então é bastante espaço para todo mundo”, destaca o inspetor da GCM, Marcelo Silva.  No Rio Vermelho, acesso à praia está bloqueado (Foto: Paula Fróes/CORREIO) De acordo com a prefeitura, a festa foi cancelada novamente este ano por conta do aumento do número de casos de covid-19 e das taxas de ocupação de leitos de UTI na cidade. No Rio Vermelho, onde tradicionalmente acontece a festa há décadas, a Colônia de Pesca Z1 abriga a Casa de Iemanjá. Mas, as homenagens à orixá não precisam, necessariamente, ser feitas apenas neste local.

É isso o que afirma a doutora em Antropologia Cristiane Sobrinho, autora do laudo que tornou a Festa de Iemanjá Patrimônio Cultural Imaterial de Salvador. “É uma tradição que acontece em vários locais. Tem o presente de Salinas da Margarida, o da Ribeira, o de Itapuã. A questão do Rio Vermelho é que a entrega de oferendas foi iniciada entre 1922 e 1923 pela Colônia de Pesca do Z1, a primeira da Bahia, que fica no Rio Vermelho. Tudo começou com os pescadores entregando o presente e, depois, entra o candomblé”, explica. 

Segundo a antropóloga, não existe no calendário do candomblé o marco do dia 2 como sendo o Dia de Iemanjá. Portanto, além dos presentes poderem ser entregues em outras praias fora do Rio Vermelho, também podem ser entregues em outras datas. “Dia 2 é o dia em que os pescadores oferecem o presente e muitas pessoas de candomblé também fazem suas oferendas por conta da energia e simbolismo do dia. Mas Iemanjá e os orixás em si estão em todos os cantos, nos rodeando, o fundamental desse momento de oferta é a fé. Independentemente de onde e quando seja, Iemanjá vai aceitar o presente”, ressalta. 

Outro local de tradição para a entrega de oferendas é Itapuã. O presidente da Colônia de Pesca Z-6, Arivaldo Santana, conta que os presentes serão depositados a partir das 9h de hoje, sem aglomeração. “Com a pandemia, ficamos só com a entrega dos presentes e vai ser assim esse ano também”, reforça. 

O Dique do Tororó também entra na tradição, mas de uma maneira um pouco diferente. Antes de saudar Iemanjá, rainha das águas salgadas, os devotos saudam Oxum, a rainha das águas doces. A homenagem é feita tradicionalmente no Dique do Tororó, na madrugada do dia 1º. O responsável pelo presente de Oxum é o Pai Ducho de Ogum. Ele conta que, este ano, a homenagem seguiu o mesmo modelo do ano anterior, de forma restrita. Uma carreata saiu do Terreiro Ilê Axé Awa Ngy às 23h até o Dique.  Presente de Iemanjá foi antecipado na Gamboa (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Homenagens antecipadas

No último domingo (30), devotos anteciparam as homenagens a Iemanjá em pelo menos dois pontos de Salvador: na Praia da Gamboa, um cortejo percorreu as escadarias até a entrega dos presentes no mar que banha a comunidade. Já no Rio Vermelho, os fiéis deixaram flores, acenderam velas e espalharam perfume na colônia de pescadores.

Na comunidade Solar do Unhão, ao lado do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), na Avenida Lafayete Coutinho (Contorno), as homenagens a Iemanjá começaram com um café da manhã. Os devotos chegaram cedo para fazer saudações, levar presentes, pedidos e agradecimentos. No Rio Vermelho, apesar dos tapumes que já impediam a visão parcial da praia, fiéis foram à Casinha de Iemanjá para agradecer, pedir e depositar seus presentes.

O que pode e o que não pode no Rio Vermelho?O acesso à praia está proibido Tapumes começaram a ser instalados no Rio Vermelho ainda no sábado (29) para impedir o acesso de pessoas à praia. De acordo com o decreto municipal, a praia estará totalmente bloqueada, da madrugada do dia 1º até às 6h do dia 3, entre o restaurante Sukiyaki e a Colônia de Pescadores Z1. A entrega de presentes será restrita Os devotos da rainha das águas salgadas tiveram até terça-feira (01) para deixar seus presentes na Casinha de Iemanjá. Nesta quarta (2), pescadores farão a entrega de tudo junto com o presente principal, que não ficará exposto para a população e será levado diretamente ao mar, sem qualquer permanência na Colônia de Pescadores, para evitar aglomerações.Nada de som e comércio informal Está proibida a realização de qualquer ação de emissão sonora em todo o trecho da Avenida Oceânica entre o restaurante Sukiyaki e a Vila Caramuru, assim como qualquer comércio informal (ambulantes). A fiscalização ficará a cargo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop).Trânsito liberado O trânsito estará liberado normalmente na Avenida Oceânica e equipes da Transalvador estarão no Rio Vermelho para evitar impedimentos da fluidez do tráfego. Bares e restaurantes podem funcionar normalmente O funcionamento de bares e restaurantes está liberado, diferente do ano passado, em horário normal. A restrição é que será permitido somente som ambiente, ou seja, a atividade sonora não pode ultrapassar o volume das vozes dos clientes. A proibição vai da meia noite do dia 1º até às 6h do dia 3, também do restaurante Sukiyaki à Vila Caramuru. Também será exigido o cumprimento dos protocolos sanitários, como a cobrança do cartão de vacinação, juntamente com documento de identidade, além do uso de máscara para circulação no estabelecimento e disponibilização de álcool em gel.