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Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2018 às 05:37
- Atualizado há 2 anos
Em um ano, a quantidade de homens que realizam afazeres domésticos na Bahia passou de 66,2% para 73,3%. Mas, apesar da maior dedicação deles em relação aos deveres do lar, a participação masculina segue distante da feminina em casa. Entre 2016 e 2017, a quantidade de mulheres que declararam fazer alguma atividade doméstica nas residências baianas passou de 90,3% para 91,6%. >
Entretanto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o aumento da frequência entre os homens não significou mais horas dedicadas por eles aos cuidados com a casa e outras pessoas do domicílio. Ao contrário: a diferença no tempo dedicado por mulheres e homens aos afazeres domésticos teve, na Bahia, o maior aumento do país: de 11,1 horas para 12,1 horas a mais para elas.>
Somando ao trabalho fora de casa os afazeres domésticos e cuidados com pessoas (moradores da mesma casa ou parentes que vivem em outras casas), mulheres baianas trabalham, em média, 4,5 horas a mais que os homens por semana. Este resultado coloca a Bahia como o estado que tem a quarta maior diferença, perdendo apenas para Sergipe (5,8h), Rio Grande do Norte (5,4h) e Piauí (4,9h). A média nacional é de 3,1h. Em 2016, a diferença era 2,9h. Tipos de afazeres Além da desigualdade na frequência de realização de afazeres domésticos e no tempo dedicado a eles, homens e mulheres diferem ainda no tipo de tarefas mais realizadas por cada um. Na Bahia, os afazeres mais relatados pelas mulheres são “preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar louça” e “cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos”.>
Já os homens citaram como mais comuns atividades como “cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados, etc.)” e “fazer compras ou pesquisar preços de bens para o domicílio”.>
É mais ou menos o que ocorre na casa de Jânia Deise Silva, de 27 anos, que mora em Vitória da Conquista, Sudoeste baiano. Atualmente de licença-maternidade, ela tem ficado em casa com a filha de 4 meses e o filho de 5 anos. O marido, Lúcio, por conta do trabalho, passa a semana mais em outras cidades do que em casa.>
“Mas, quando ele está aqui, sempre dividimos as tarefas, seja com os filhos ou com os afazeres da casa. Só que quando terminar a licença- maternidade é que vou ter de voltar para Jequié, e vou ter de contratar uma pessoa por um período para ficar com os meninos”, ela contou.>
Mais tempo em casa Na casa do eletrotécnico Tiago Ribeiro dos Santos, 33, também morador de Vitória da Conquista, ele e a esposa já pensaram em contratar alguém para ficar com a filha, de 3 anos, mas a sogra dele está realizando o serviço, por enquanto. “Eu ajudo muito minha esposa. Temos uma rotina diária. Ela trabalha fora e nós dividimos os afazeres do lar. Cuidamos da menina e dividimos as atividades”, explica Tiago.>
Contratar alguém para fazer os serviços domésticos é algo que, devido à crise econômica nacional, tem sido difícil de ser feito e, por isso, as pessoas, sobretudo as mulheres, estão se dedicando mais aos serviços domésticos, avalia Alessandra Scalioni, analista de Trabalho e Rendimento do IBGE.>
“Os domicílios estão com renda média menor, e a renda do trabalho das pessoas ocupadas também diminuiu, conforme pesquisas que já divulgamos. Então, as pessoas que tinham babás ou domésticas dispensaram essas pessoas e passaram a dividir melhor as tarefas domésticas”, ela disse, se referindo ao cenário nacional.>
Renda menor Em 2017, a renda do trabalhador brasileiro caiu, em média 2%, para R$ 2.178. Alessandra Brito, do IBGE, lembra que a crise afetou particularmente o trabalhador com carteira assinada e que o recuo do desemprego no fim do ano se deu pelo aumento dos trabalhadores por conta própria.>
“Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento”, comentou Alessandra Brito, ressaltando que o fechamento de vagas foi mais intenso em setores de predominância masculina.>
De acordo com o instituto, cresceu de 26,9% para 31,5% o número de brasileiros que dedicam parte de seu tempo a cuidar de outros moradores no domicílio ou de parentes não moradores, um aumento de 8,3 milhões de pessoas.>
Os dados indicam que o aumento ocorreu com maior intensidade entre as pessoas ocupadas (de 28,2% para 33,7%) e no cuidado de crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos (de 48,1% para 49,7%). Entre as atividades, o aumento foi maior em ler, jogar e brincar e monitorar ou fazer companhia dentro de casa – tarefas onde a diferença entre a participação masculina e feminina é menor. >