Hospital de transição reduz custo de internação em até 75%

Fundador da Clínica Florence foi convidado de primeiro programa Política & Economia de 2022

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  • Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A intensa busca por leitos durante a pandemia da covid-19 está escancarou uma demanda na estrutura dos serviços de saúde no Brasil: a dos hospitais de transição – espaços para pacientes que ainda demandam cuidados, mas não precisam estar em leitos de UTIs tradicionais. Exemplo claro do aumento na demanda é que em apenas um ano, 2021, a baiana Clínica Florence, única instituição do tipo no Norte/Nordeste, registrou quase 40% todos os atendimentos que realizou desde a sua abertura, em 2017.  

A proposta de atuação dos hospitais de transição é trazer eficiência em um segmento onde há muito desperdício, destaca Lucas Andrade, idealizador e diretor executivo da Clínica Florence. “No modelo tradicional, a cada três reais que se gasta, um deles não ajuda ninguém a viver mais ou a viver melhor”, destaca. “Poucas indústrias têm tanto desperdício quanto a saúde. É uma área que carece de soluções que lhe deem mais produtividade e lhe permita fazer mais com menos recursos”.  

Segundo ele, cada paciente que deixa uma UTI para um leito em um hospital de transição representa uma redução de 75% em custos. “Além dessa economia, o mais importante é que conseguimos entregar algo mais adequado, que tem mais valor para o paciente, família, fonte pagadora – o convênio – e também para o médico que acompanha”, afirmou o médico, que foi entrevistado pelo jornalista Donaldson Gomes ontem, no programa Política & Economia, veiculado no Instagram do CORREIO (@correio24horas). 

Em dezembro, a Florence inaugurou uma unidade em Recife, a segunda do grupo. Desde 2017, já foram realizados investimentos que somam R$ 60 milhões. A ideia dos investidores é ter uma unidade em cada capital nordestina, além de uma em Brasília. 

O hospital de transição de Salvador nasceu com 37 leitos e, mesmo antes da pandemia, já tinha demanda por expansão, conta Lucas Andrade. “Nós já tínhamos demanda de expansão, começamos a fazer isso antes da pandemia, mas ela trouxe uma demanda muito grande”, conta. “A quantidade de pacientes que nós recebemos saindo direto da UTI para nossa reabilitação foi equivalente ao acréscimo de 13 leitos ao sistema de saúde de Salvador”, quantifica. 

“A gente operou por sete meses com fila e nos tornamos referência nacional no tema, a ponto do (Hospital Albert) Einstein conversar com a gente para saber como estávamos tratando o pessoal de covid”, lembra. “Foi um período muito árduo, mas também muito gratificante porque fomos extremamente úteis na vida de muita gente, que pôde voltar para casa e tocar a vida”, diz. 

Como médico, Lucas Andrade conta ter trabalhado durante muito tempo em UTIs e diz que percebia que muitos pacientes que eram tratados nos espaços poderiam estar fora dali, recebendo cuidados de reabilitação mais apropriados, em um ambiente “menos hostil”. Junto a isso, ele perdeu a avó em casa. “Eu conseguia fazer um contraponto muito grande disso com o que via na UTI e surgiu a ideia de criar um lugar com a segurança do hospital com elementos que a gente encontra em casa, ao lado das pessoas que amamos”, conta. Pesquisando o mercado, descobriu que a ideia dele já existia e era muito comum em outros sistemas de saúde. 

Novidade no Brasil Apesar de bastante comuns em outros países, os hospitais de transição são relativamente novos no Brasil. As unidades atendem dois perfis de pacientes, explica Lucas Andrade. Um deles é o de pacientes que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida e precisam de cuidados paliativos. “São pacientes que não precisam necessariamente estar dentro de um hospital convencional e podem estar em lugar como a Florence, com mais flexibilidade, presença da família”, explica. 

O segundo perfil é o de pacientes que precisam de reabilitação, caso daqueles que enfrentaram a forma grave da covid. “Tivemos muitos casos de pessoas que passaram por procedimentos muito sérios, como traqueostomia e foram transferidos para a clínica para um programa intensivo de reabilitação”, explica. 

“Somos um hospital de transição, que realiza um cuidado intensivo em reabilitação, em comunicação com a família, alinhamento de expectativas e planejamento de cuidados”, explica. “A gente não tem a estrutura de um hospital tradicional, com emergência, mas contamos com uma equipe médica dedicada 24 horas por dia, sete dias por semana”, destaca. 

Outra diferença em relação a um hospital tradicional é que um familiar pode, por exemplo, acompanhar o paciente na cozinha para uma refeição, ou o paciente pode receber a visita de um animal de estimação, ou ainda de um neto recém-nascido, exemplifica. “Nossa proposta é de um cuidado humanizado. A ideia é estar no lugar certo, na hora certa e com um custo certo para o sistema”, diz.