IBGE: comércio baiano cresce em unidades e trabalhadores, mas perde receita bruta

Bahia e Rio Grande do Norte tiveram a maior queda de participação na receita do comércio no Nordeste

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 30 de julho de 2021 às 05:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O comércio baiano cresceu em 2019, após ter enfrentado um período de queda na passagem de 2017 para 2018. É o que aponta a Pesquisa Anual de Comércio (PAC) de 2019, divulgada nesta quinta-feira (29) pelo IBGE. O número de estabelecimentos comerciais na Bahia subiu 1,6% (de 88.381 para 89.817), colocando o estado como líder do Norte-Nordeste nesse indicador. Além disso, o número de trabalhadores empregados nas unidades cresceu 2,5% (de 464.150 para 475.563), representando o segundo maior aumento absoluto do país. Apesar do crescimento, o estado teve queda de 2,2% na receita bruta e voltou a perder participação no valor gerado pelo setor no Nordeste.   Em número de unidades comerciais, a Bahia foi na contramão do país. Entre 2018 e 2019, no Brasil como um todo, o número de unidades locais de empresas caiu pelo sexto ano consecutivo (-3,0%), passando de 1.647.239 para 1.597.424, o que significou menos 49.815 estabelecimentos. O crescimento absoluto da Bahia em unidades comerciais foi o quarto maior do país, abaixo apenas do apresentado em Goiás, Espírito Santo e Distrito Federal. Em termos percentuais, o crescimento baiano foi o sexto maior do país, no período.    Vale lembrar que, mesmo com o resultado positivo, em 2019, o setor empresarial comercial baiano ainda estava 12,2% menor do que em 2014, quando havia 102.255 unidades comerciais no estado. O saldo negativo nesse período ficou em menos 12.438 estabelecimentos ativos no estado.   Em relação ao número de trabalhadores no comércio, que também teve aumento, a Bahia apresentou o segundo melhor crescimento do país no período, ficando atrás apenas do Espírito Santo (+32.216 empregados). Em termos percentuais, o estado apresentou o sétimo maior crescimento. O movimento também foi contrário ao do Brasil como um todo. Após dois anos de avanços, o quantitativo recuou no país em 0,4%, de 10.209.433 para 10.167.017.  Comércio varejista   Entre 2018 e 2019, dentre as três grandes divisões do comércio (varejo, atacado e vendas de veículos, peças e motocicletas), o varejo sustentou sozinho o aumento do número de estabelecimentos comerciais e do número de trabalhadores, além da queda na receita do comércio baiano. O ramo é o mais pulverizado, representando o setor de combustível, farmácia, vestuário e alimentação, por exemplo.    O total de unidades comerciais do varejo no estado passou de 72.772 para 75.783, entre 2018 e 2019, ou seja, mais 3.011 estabelecimentos em um ano (+4,1%). Com o crescimento, em 2019 o comércio varejista concentrava 84,4% de todos os estabelecimentos comerciais baianos.    O aumento no número de estabelecimentos varejistas foi determinante para o incremento no pessoal ocupado no comércio como um todo. Entre 2018 e 2019, o número de trabalhadores do varejo baiano cresceu de 365.677 para 377.814,o que representou mais 12.137 pessoas ocupadas (+3,3%). O varejo também é o maior empregador do comércio na Bahia, concentrando 79,4% do total de ocupados no setor.    Apesar de liderar nos indicadores positivos do comércio baiano, o varejo também foi quem puxou a perda de receita bruta de revenda, entre 2018 e 2019, com uma queda de 4,9% (de R$ 88,230 bilhões para R$ 83,950 bilhões). Mesmo com a queda da receita, o varejo, por ser a divisão mais representativa do comércio nos demais indicadores, também manteve a maior fatia da receita bruta de revenda na Bahia em 2019, com quase metade do valor total (48,7%).    “A gente tem muita informalidade no comércio varejista e precisamos combater isso. Também temos falta de mão de obra qualificada, muito aquém do que a gente necessita. Formação e formalização são as palavras-chave. A Bahia é um estado enorme territorialmente e isso dificulta, mas também tem muito potencial frente ao cenário nacional”, avalia o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Guilherme Dietze.   Contraponto negativo   Entre 2018 e 2019, a Bahia foi um dos dois únicos estados brasileiros com queda de 2,2% na receita bruta de revenda do comércio, pulando de R$ 176,169 bilhões para R$ 172,353 bilhões (menos R$ 3,815 bilhões). O Amapá também recuou, mas em 1,5%. Foi apenas a segunda vez desde o início da nova série histórica da PAC, em 2007, que o comércio baiano viu sua receita bruta cair. Antes, isso só havia ocorrido na passagem de 2015 para 2016 (-3,8%), em plena crise econômica. 

“É importante lembrar que 2019 foi um ano difícil para a economia. A gente estava começando a se recuperar da crise de 2015 para 2016. O cenário era complicado e a Bahia foi um dos que não tinham conseguido ainda se recuperar de uma forma mais expressiva”, pontua Dietze. 

Num movimento contrário, a receita das unidades locais comerciais cresceu no Brasil em 7,7%, de R$ 4,028 trilhões, em 2018, para R$ 4,336 trilhões em 2019, com altas em 25 das 27 unidades da Federação. Apesar da queda, a Bahia se manteve com a sétima maior receita bruta de revenda do comércio do país. São Paulo (R$ 1,3 trilhão), Minas Gerais (R$ 415,1 bilhões) e Paraná (R$ 336,4 bilhões) lideravam o ranking.   Para o assessor econômico da Fecomércio-BA, a produtividade do comércio baiano ainda é abaixo do esperado e ainda é preciso mostrar serviço para se recuperar frente a outros estados, inclusive, do Nordeste. “O que explica o crescimento de alguns estados é investimento, seja do setor público ou do setor privado. Maranhão, Pernambuco e Paraíba, por exemplo, são estados que tiveram investimento público que pode ter refletido em maior movimentação da economia local”, destaca.   O IBGE também divulgou o cumulativo entre 2010 e 2019, apontando que a Bahia e o Rio Grande do Norte, empatados, tiveram a maior queda (0,7%) de participação na receita gerada pelo comércio no Nordeste, mas a Bahia ainda se manteve como o estado com maior representatividade no setor comercial da região, ampliando a sua participação no número de unidades locais e na população ocupada.   Apesar das ressalvas, em relação a 2010, a participação da Bahia no total de estabelecimentos comerciais do Nordeste saltou de 23,9% para 31,6%. Além disso, o estado reunia, em 2019, 27,6% dos trabalhadores do setor na região, frente a 26,2% em 2010. Em termos nominais, a receita bruta de revenda do comércio baiano mais que dobrou nesse período, passando de R$ 83,9 bilhões para R$172,4 bilhões entre 2010 e 2019 (+105,5%).    Dietze lembra que as pesquisas se baseiam no estado como um todo, mas a Bahia carrega grande desigualdade em diversos aspectos e, com o comércio, não é diferente. “A Bahia é um estado muito grande e o interior é extremamente pobre, com renda média muito baixa. É difícil evoluir com o comércio em regiões com essas características. O que acontece é a concentração na região metropolitana e litoral, explorando também o turismo e serviço”, diz. 

Para o assessor econômico, a pesquisa do IBGE de 2020 deve apresentar quedas significativas geradas pela pandemia, mas, em 2021, o cenário é de recuperação. “Nossa pesquisa mensal de faturamento apontou uma queda no ano passado de 7% e a pesquisa do IBGE deve mostrar isso também. Já em 2021, nós estamos vendo uma recuperação das vendas, da empregabilidade e a perspectiva é de um cenário melhor do que o de 2020, que foi realmente bastante negativo porque o comércio em geral sofreu muito durante a pandemia”, finaliza Dietze.   *Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro