Ibovespa fecha em alta de 9,69%, aos 69.729,30 pontos

Bolsa brasileira acompanha desempenho no mercado internacional

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  • Da Redação

Publicado em 24 de março de 2020 às 21:31

- Atualizado há um ano

Em linha com o exterior, com os ganhos no índice blue chip de Nova York (Dow Jones) acima de 11%, o Ibovespa teve um dia de recuperação, com os investidores encontrando algum ânimo para compras em meio aos sinais, aqui, de que a assistência a Estados e municípios, o plano Mansueto, será aprovada com celeridade pelo Congresso e, fora do Brasil, a bem-vinda progressão de estímulos à economia global. Nos EUA, o presidente Donald Trump reiterou nesta terça-feira, 24, que a economia americana não deve ficar paralisada por muito tempo, no seu entender, ruína pior do que a propagação do coronavírus.

Ontem, na Casa Branca, Trump já havia sinalizado a possibilidade de rever as medidas de isolamento social ao final dos primeiros 15 dias de quarentena imposta a grande parte da população. Tendo atingido alta na casa de 12,53% na máxima do dia, o Ibovespa fechou nesta terça-feira com ganho de 9,69%, aos 69.729,30 pontos, tendo oscilado entre mínima de 63.604,42 pontos e máxima de 71.535,44 pontos. O giro financeiro totalizou R$ 25,6 bilhões, assim como ontem mais próximo à normalidade após ter se intensificado depois do carnaval, quando vinha oscilando habitualmente entre R$ 30 bi e R$ 40 bilhões. No mês, o Ibovespa cede agora 33,06% e, no ano, 39,70%.

Para dar fôlego extra à recuperação observada na sessão, a B3 expandiu, a partir das 12h50, os limites de oscilação diária para os contratos futuros de Ibovespa e Mini de Ibovespa, de 10% para 15%. Mas o índice à vista acabou se afastando um pouco das máximas do dia. Na ponta positiva do Ibovespa, BTG fechou em alta de 24,82%, seguido por Magazine Luiza (+21,42%), B2W (+20,86%) e CCR (+19,76%). Do lado negativo, destaque para RaiaDrogasil (-5,81%). Favorecidas por avanço do petróleo e do minério de ferro na sessão, Petrobras PN subiu 15,22% e a ON, 15,92%, enquanto Vale ON fechou em alta de 10,38%.

"Tivemos hoje um repique, um respiro após uma correção muito profunda, com os governos levando adiante pacotes bilionários para amenizar o efeito da crise e, no limite, evitar quebradeira de empresas. Os governos terão que continuar monitorando de perto até que a economia volte. Não dá pra dizer que já chegamos ao fundo do poço", diz Pedro Galdi, analista da Mirae, que considera mais provável uma retomada em forma de U do que de V.

Um ponto destacado por analistas é o de que, enquanto na Itália, assim como observado anteriormente na China, a curva do coronavírus dá sinais iniciais de que o pior momento pode estar ficando para trás, no Brasil a evolução da doença ainda não ganhou a aceleração vista no exterior. "É preciso achatar a curva da doença, para que o problema não seja ainda pior, mas em algum momento, ao final desses primeiros 15 dias, a economia precisará começar a voltar, senão será o caos", diz Galdi.

Contudo, a experiência mostra que conter a doença não é tarefa fácil: o número de mortes na Itália em decorrência do Covid-19 voltou a crescer, a 743 nas últimas 24 horas, após dois dias seguidos de queda nos números. Agora, são 6.820 vítimas fatais no país europeu.

Nesse contexto, a margem de recuperação do Ibovespa segue bem limitada, tendo mostrado hesitação hoje após ter tocado a marca de 71,5 mil na máxima do dia, reconquistando então nível do início da semana passada - na segunda-feira, dia 16, o índice fechou aos 71.168,05 pontos, em queda de 13,92%, avançando no dia seguinte para 74.617,24 pontos (+4,85%).

"Na parte da tarde, os day traders (operadores de volatilidade) entraram um pouco mais cedo do que de costume e colocaram um pixuleco (pequeno ganho) no bolso, enquanto Nova York também perdia força naquele momento", diz um operador. "Aqui, o mercado continua a ser movido pelo que acontece lá fora, nossas feridas ainda estão abertas", acrescenta. "O Trump indicou que a preferência dele é pela economia. Tanto nos EUA como na Europa, estão testando bem mais (para o coronavírus) do que aqui: a curva da doença lá está mais avançada e, daqui a pouco, eles vão para o verão, enquanto estamos indo para o inverno", observa o operador.

Dessa forma, a preocupação maior dos investidores é quanto à capacidade de sobrevivência das empresas, a resiliência do caixa a um período prolongado de exceção, no qual a atividade econômica tem sido praticamente cancelada. "A volatilidade vai persistir, não tenha dúvida, estamos ainda muito longe de alguma clareza sobre o que vem por aí", acrescenta a fonte.

Com a recuperação observada hoje, o Ibovespa passa a acumular, em duas sessões, ganho de 3,97% na semana, após ter colhido perdas nas cinco semanas anteriores, refletindo a escalada de temores em torno de coronavírus que se impôs com especial intensidade a partir da Quarta-Feira de Cinzas (26 de fevereiro), quando o Ibovespa cedeu 7%, iniciando uma espiral negativa.

Dólar

O dólar operou o dia todo em queda, com o mercado cambial brasileiro acompanhando o exterior. A terça-feira foi marcada por alta forte das bolsas, no mercado brasileiro, na Europa e nos Estados Unidos, em razão das crescentes medidas extraordinárias tomadas pelos governos para tentar limitar os efeitos da pandemia na atividade econômica. Em Washington, a perspectiva de aprovação ainda hoje de um pacote fiscal trilionário também ajudou a estimular a busca por ativos de risco. Com o clima um pouco mais favorável, o Banco Central interrompeu a sequência diária de leilões de dólares e hoje não fez intervenção no mercado - o real terminou o dia, no geral, em linha com outros emergentes. O dólar à vista fechou em baixa de 1,03%, a R$ 5,0820.

No mercado doméstico, as mesas de câmbio monitoraram as declarações do Congresso e do governo sobre as medidas para contornar os efeitos da pandemia, mas o maior efeito hoje nas cotações do dólar aqui foi externo. No mercado internacional, a moeda americana caiu ante divisas fortes e emergentes, com destaque para o México, onde recuou 2%.

A economista-chefe em Chicago da corretora Stifel, Lindsey Piegza, ressalta que os investidores estão impacientes com o Congresso americano, que ontem não conseguiu pela segunda vez aprovar o pacote fiscal de Donald Trump, e a expectativa é que isso ocorra o mais rápido possível, possivelmente ainda hoje. Ela observa que a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de anunciar compras de ativos, sem limite de valor e sem prazo para acabar, mostra que a instituição e outros formuladores de políticas passaram a adotar a abordagem de "fazer o que for preciso". Com isso, conseguiram ao menos momentaneamente tranquilizar os mercados.

Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, no curto prazo é preciso a aprovação do pacote fiscal nos EUA, assim como uma visão mais clara da disseminação do vírus na Itália. Para ele, ainda é cedo para afirmar que estamos diante de um ponto de inflexão ou inversão de tendência e uma maior tranquilidade dos mercados viria do anúncio de alguma vacina ou de um processo de curva na Covid-19.

A forte volatilidade no mercado financeiro mundial por conta da crise gerada pelo coronavírus já fez os investidores internacionais retirarem US$ 78,7 bilhões dos mercados de ações e renda fixa dos emergentes, em meio à busca de "portos seguros", de acordo com os dados mais recentes do Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 450 maiores bancos do mundo, com sede em Washington. Esta fuga de capital já é equivalente a tudo que esses países receberam em aportes em 2019, que somou US$ 78,8 bilhões.

Juros

A melhora do apetite pelo risco nos mercados internacionais ajudou a curva de juros a desinclinar comparando as pontas curta e longa, mas as taxas que caíram com mais força foram as da parte intermediária. O varejo restrito de janeiro veio mais fraco do que apontava a mediana das estimativas e, até por ser referente ao período pré-coronavírus, corroborou as apostas de queda da Selic em maio. Enquanto isso, a expectativa de aprovação pelo Senado dos Estados Unidos do pacote trilionário proposto pelo governo Trump para o combate ao coronavírus estimulou o "risk on," favorecendo ativos de economias emergentes.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular em 3,68%, de 3,771% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 encerrou na mínima de 4,99% (5,594% ontem no ajuste), pela primeira vez abaixo dos 5% desde o dia 17, véspera da decisão do Copom. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,08%, de 9,484% ontem.

O exterior deu hoje um desafogo para a curva, amparado nas apostas na aprovação do pacote de Trump, que no fim do dia ainda reforçou os ânimos após afirmar que é preciso "salvar as empresas por causa do desemprego". Porém, a percepção é de que o alívio não é consistente. As preocupações com o cenário fiscal, após o aumento dos gastos em função da epidemia, seguem no pano de fundo, assim como o pessimismo com a agenda de reformas. "O cenário fiscal pós-crise nos próximos anos segue desafiador, mas hoje os ativos de risco vão bem", avaliou o estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii. Essa cautela explica o fato de a curva longa não ter devolvido hoje todo o prêmio acumulado na sessão de ontem, marcada por expressivo ganho de inclinação.

Além disso, afirma, com as condições técnicas do mercado muito abaladas, os movimentos têm sido erráticos e de grande amplitude "Num dia corrige muito e no outro, recupera parte", disse.

Os vencimentos até o miolo permaneceram regidos pelas perspectivas monetárias de curto prazo. As vendas do varejo restrito, com queda de 1% em janeiro ante dezembro, mais do que apontava a mediana (-0,4%) das previsões, decepcionaram, ainda que janeiro seja considerado um mês fraco para as vendas porque as famílias priorizam o orçamento para o pagamento de impostos de começo do ano, como IPVA e IPTU. "É um dado muito ruim porque não tem nada ainda do coronavírus", observou Marcela Kawauti, da economista-chefe do SPC Brasil.

Segundo o banco Haitong, a precificação da curva para o Copom de maio hoje à tarde era de -33 pontos-base,ou 70% de possibilidade de corte de 25 pontos-base e 30% de chance de redução de 50 pontos.