Idosa morre e deixa mais de 30 cães sem lar em Mar Grande

Feira de adoção acontecerá no dia 11 de julho, para que todos os animais ganhem uma nova casa

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 3 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Há 12 anos, os caminhos das professoras Luci Correia, 53 anos, e Maria Lúcia Valverde, mais conhecida como Irmã Lucinha, se cruzaram pela primeira vez, em Mar Grande, na Ilha de Itaparica. Luci lembra como se fosse ontem: “Estava em uma clínica veterinária com meus cães durante um mutirão de castração, e a vi chegando com os dela. Ela tinha perdido um de seus animais e então fui conversar com ela. Desde então, trocamos números e sempre mantivemos o contato”.

Essa união surgiu pelo grande amor aos bichinhos. Grande mesmo. Luci tem 56 cães e mais de 80 gatos em sua casa, enquanto Irmã Lucinha tinha pouco mais de 30 cães. As duas realmente só se separaram depois do falecimento de Lucinha, aos 69 anos, no dia 20 de junho, devido a um câncer de mama que entrou em metástase.

Depois da morte da dona, 36 cães ficaram abandonados, sem ninguém em casa, e Luci então levou o caso para as redes sociais:“Ela não tinha filhos ou marido, a vida dela eram os ‘filhos de quatro patas’. Como poucas pessoas se mobilizaram, tomei a frente, como protetora dos animais, de cuidar dos cães dela”, conta.Ela é dona do Grupo Arco Íris de proteção a animais da Ilha de Itaparica, e sua gravação viralizou nas redes sociais. Em algumas semanas, pouco mais da metade dos cachorros foram adotados, todos sem raça definida.

Mas, ainda faltam mais de dez que, segundo Luci, “são seres com emoções, tristeza, felicidade, saudade, que precisam de sensibilidade e de um lar”, e por isso ela resolveu montar uma feira de adoção em Mar Grande. Para ter uma divulgação reforçada nas redes sociais e na cidade, o evento foi marcado para o dia 11 de julho.  Um banner foi impresso com as informações e será exposto em alguns pontos da cidade, para chamar atenção dos moradores (Foro: Reprodução) Ele vai acontecer no endereço onde Irmã Lucinha morava, na Rua Parque das Mangueiras, 188, Jaburu. O local fica na orla de Mar Grande. Luci contará com a ajuda de uma equipe de amigos de Lucinha. “Até criei um grupo no whatsapp para me comunicar com todos. Mas, ele tem um fim, o grupo termina quando o último cãozinho for adotado”, explicou. O contato para adotar e conhecer os cachorros é pelo celular de Luci: (71) 99147-9337. 

“Na feira terá uma ficha. Eu e minha equipe vamos pegar as informações da pessoa e entender se ela tem condições de receber o animal. Vou até a casa dela para ver o espaço e saber se a adoção não é só pelo calor da emoção”, afirmou a professora, agora aposentada. Ela completa que os novos tutores dos animais terão que cuidar do vermífugo e alguma vacina que ainda falte aos cães. Ela lembra também que, para as fêmeas ainda não castradas, ela bancará o procedimento.

Dura realidade O ato de coragem de resgatar um animal em situação de rua tem as suas consequências. Além de disponibilizar um espaço, o tempo, amor e carinho, é preciso desembolsar uma boa quantia para cuidar desses gatos e cachorros. Luci explica que, tanto ela quanto Irmã Lucinha viviam de grandes favores de veterinários, que podem fazer procedimentos mais baratos, e das doações de quem quer ajudar a causa. Uma vez por dia os cães são alimentados por Luci, que vai até a casa de Lucinha (Foto: Divulgação) O bom coração de Lucinha fez com que ela se tornasse referência em Mar Grande, a ponto das pessoas passarem na porta de sua casa e abandonarem cães. “Ela, agora no fim da vida, com muitas dores pelo tratamento, me ligava às vezes pedindo ajuda, que tinham deixado mais uma caixa na porta de sua casa com mais cinco cachorros”, conta Luci. 

“Não só as pessoas comuns, mas também as autoridades públicas precisam olhar para esses animais. Lucinha sempre ajudou muito a comunidade e era conhecida em Mar Grande, ela se foi quase como uma indigente”, exclamou. Enquanto todos os cães não forem adotados, a missão de Luci continuará, para que, como ela mesma disse, ajude a “descansar o espírito de minha amiga”. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela