Iemanjá 'nutella': o 2 de fevereiro de quem fugiu da muvuca e foi para festas fechadas

Trocando o mar por piscina, essa galera preferiu ter tudo do bom e do melhor

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  • Gabriel Moura

Publicado em 2 de fevereiro de 2020 às 22:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gabriel Moura / CORREIO

Enquanto a maioria do povo brigava por cada metro quadrado nas areias e ruas do Rio Vermelho para homenagear Iemanjá e entregar sua oferenda, um outro pessoal viu mais vantagem em adotar uma estratégia alternativa nesse 2 de fevereiro. Fugindo da muvuca, eles preferiram passar o dia sagrado em outro território sob jurisdição da Rainha das Águas: a piscina de alguma das festas privadas que ocorreram nos arredores do 'circuito oficial'.

'Mas isso aí é Iemanjá nutella', apontaria um devoto raiz, pegando carona na gíria do 'internetês' que significa algo como “gourmet”. Correta ou não, a definição do tradicionalista não atinge os que frequentam esses espaços e estão mais interessados em passar a data com tudo do bom e do melhor, como é o caso da empresária Ana Maísa, 45, que nem devota de Iemanjá é.

“Como sou católica, para mim acaba sendo uma ocasião a mais para curtir e encontrar os amigos. Eu moro perto aqui do Rio Vermelho, então, venho para curtir essa data há muitos anos e, como lá embaixo tem um sol muito forte e gente demais, prefiro ficar em festas privadas pois dá para aproveitar mais, comendo e bebendo melhor”, conta.

A festa foi no Pestana e recebeu o nome de Iemanjá Vip. A celebração tinha um número limitado de 500 participantes e quem se dispôs a abrir a carteira pôde aproveitar a piscina do local, além de um serviço all-inclusive, com feijoada e bebidas. 

Curtindo a trilha sonora embalada por Cheiro de Amor e Batifun, aproveitou a ocasião para tirar o traje de banho do armário e botar a marquinha em dia. E se cansasse do sol? Era só relaxar no sofá de alguns dos locais climatizados. Para fechar com chave de ouro, uma bela vista do mar e da orla do Rio Vermelho – sendo possível observar, enquanto apreciava uma cervejinha, a multidão que lotava a região.

Convergências O aposentado Antônio Ruiz, 63 anos, resolveu se aposentar também da muvuca, com o argumento de que não tem mais aquele pique para enfrentar a multidão.

“Infelizmente, a idade chega e a disposição vai embora. Fora que, quando eu ia para a rua antes, tinha muito menos gente. A festa se transformou em um carnaval praticamente e não tem quem aguente toda aquela gente amontoada”, lembra ele, que esteve na Enxaguada de Iemanjá, realizada na noite desse dia 2 na Área Verde do Othon. Ao lado de baianas, Brown não deixou ninguém parado na Enxaguada (Foto: Divulgação / Lucas Leawry) Já tradicional, a festa comandada pelo cacique Carlinhos Brown, teve como outras atrações Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Timbalada e Margareth Menezes. Por ocorrer de noite, ela é uma oportunidade para quem passou a manhã inteira nas ruas do Rio Vermelho, mas não quer ir para casa. É o caso da diretora de negócios e carioca Rafaela Furtado, 48, que veio de Miami só para aproveitar o dia de seu orixá.

“Como eu faço aniversário dia 2 de fevereiro, sempre tive essa ligação especial com Iemanjá e todo ano faço essa comemoração dupla, seja no Rio ou em Miami. Mas sempre tive o sonho de passar esse dia aqui em Salvador e então meu amigo Carlinhos Brown me convidou e aceitei na hora. E, após passar por todo o ritual, desde a alvorada às oferendas, afirmo com tranquilidade que a festa e a energia daqui são muito melhores que nas outras cidades que costumo celebrar essa data”, decreta.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier