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Da Redação
Publicado em 8 de março de 2019 às 18:06
- Atualizado há 2 anos
O carnaval passou e é hora de recolher o lixo deixado pelos foliões. No entanto, um local costuma passar despercebido: o fundo do mar. O exemplo é a festa local, mas o alerta é global e válido em qualquer tempo. Estudos recentes estimam entre 8 e 25 milhões de toneladas a entrada anual de resíduos sólidos nos oceanos do planeta. No Brasil, o número se aproxima de 2 milhões de toneladas no mesmo período.>
O lixo encontrado no fundo dos mares do litoral de Salvador e região metropolitana é preocupação e objeto de estudos no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), sintonizado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ODS - agenda2030.com.br, da ONU, mais especificamente o ODS 14 - Vida na Água - Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos.>
Fruto dessas ações é a parceria com o projeto Fundo da Folia, um grupo voluntário que atua há quase uma década realizando limpeza subaquática nas praias da capital baiana. A iniciativa nasceu em 2010, com a observação de que o lixo gerado no Carnaval era recolhido das ruas e das praias do circuito da folia, mas não do fundo do mar. A partir de então, as ações se intensificaram e o grupo foi crescendo. Hoje, as limpezas são realizadas semanalmente, com a ajuda voluntária de surfistas, mergulhadores, pesquisadores, estudantes e interessados em contribuir com a causa.>
Coleção Com a participação nas ações de limpeza do projeto Fundo da Folia, pesquisadores do grupo Paranoá vêm coletando e analisando os diversos tipos de lixo e catalogando esses materiais para criação de uma coleção didática do lixo marinho. Parte da coleção está sendo exposta no Museu Náutico da Bahia, em uma parceria com o curso de Oceanografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), desde o ano passado, onde permanece pelos próximos meses.>
Hoje, o trabalho é um projeto de iniciação científica, desenvolvido no campus do IF Baiano em Catu. “A intenção é identificar cada polímero (lixo plástico) para uma coleção de referência que, daqui a cem anos, caso haja algum problema de contaminação, por exemplo, na Baía de Todos os Santos e alguém falar: 'Ah, mas ninguém produz mais isso hoje.', então, temos na coleção uma identificação científica de um produto que foi descartado na baía há cinquenta, cem anos atrás”, explica o orientador do projeto, professor e pesquisador do IF Baiano, José Rodrigues, que também coordena a implantação da Rede Brasileira de Coleções Didáticas e Científicas do Lixo Marinho (Re-COLIXO).>
Consciência>
Os materiais coletados do fundo do mar evidenciam o impacto ambiental do excesso de lixo nos oceanos. “Não é um problema novo. A academia estuda isso há mais de 30 anos e só agora a sociedade está tomando ciência da catástrofe”, afirma o pesquisador do IF Baiano, José Rodrigues.>
Hoje, é frequente no noticiário os mais diversos casos de animais marinhos vítimas de acidentes causados pelos resíduos perdidos nos oceanos. Este é apenas um dos impactos decorrentes do problema. O pesquisador aponta também o efeito na cadeia alimentar das espécies. “Hoje a gente tem estudos mostrando a presença de lixo no trato intestinal até dos zooplânctons, pequenos organismos que vivem dispersos na coluna d’água. Esses zooplânctons, junto com os fitoplânctons são a base da cadeia trófica dos oceanos. Todos os outros animais estão acima deles e então, esses pequenos organismos vão ser comidos, com o plástico, pelo peixe um pouco maior”. Em seguida, a espécie pode servir de alimento aos predadores de topo, os grandes mamíferos, tubarões, aves, etc, e no meio do caminho, passa pelas espécies mais comerciais como, por exemplo, os atuns e salmões.>
O próximo destino do plástico é de fácil dedução. Nós, seres humanos, somos consumidores das espécies comerciais marinhas. “Nós estamos ingerindo plástico”, destaca Rodrigues. “O que não sabemos ainda é o que esse plástico vai fazer no nosso corpo. Estudos recentes já confirmaram a presença de plástico nas fezes humanas. Isso quer dizer que o plástico está chegando. Mas, chega só por causa do peixe? Não. Na água mineral da garrafinha plástica também vêm resíduos daquilo que, hoje, começamos a estudar – mas precisa-se de equipamentos mais sofisticados – que é o nanoplástico. O animal come o plástico por que ele confunde o saco (plástico) com seu alimento. O ser humano não confunde o saco com o alimento dele, mas o alimento do ser humano pode ser um peixe que confundiu”, complementa.>
Parque Marinho Em outra vertente, mais uma ação vem se desenvolvendo, com a participação do docente e pesquisador do IF Baiano, José Rodrigues, como consultor no processo em tramitação para criação do Parque Natural Municipal Marinho da Barra, uma unidade de proteção integral. A ideia é implantar uma unidade de proteção integral que promova atividades de turismo sustentável, ou seja, em que são vedadas práticas que envolvam poluição ambiental ou retirada do recursos naturais.>
Em audiência pública, realizada em novembro de 2018 e promovida pela Secretaria de Cidade Sustentável e Inovação (Secis), a criação do Parque Natural Municipal Marinho da Barra obteve aval da sociedade. Pioneiro em Salvador, a unidade vai conservar, além do ecossistema marinho, o patrimônio cultural subaquático formado por três naufrágios entre o Farol da Barra e o Forte de Santa Maria: o Bretagne (1903), Germânia (1876) e o Maraldi (1875) e promover lazer contemplativo e um espaço para realização de pesquisas científicas.>
*Com informações do IF Baianao>