Índice de isolamento social na Bahia é de 44%; ideal seria 70%

Apenas 16 cidades tem índice superior a 50%; destas, só duas chegaram a 60%

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 22 de maio de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/ CORREIO

Com 11.941 casos confirmados de coronavírus, a Bahia amarga um índice de isolamento social de 43,7%, abaixo do ideal de 70% e do mínimo recomendado pelas autoridades sanitárias: 50%. Só 16 cidades do estado conseguiram ter mais da metade da sua população em casa e apenas Jaguaripe e Cairu atingiram, aproximadamente, o índice de 60%. Veja a lista completa das 16 cidades no final do texto.  

Os dados são da empresa InLoco, que estima o percentual da população que está respeitando as recomendações de isolamento. O Governo do Estado tem acesso a esses dados através de um convênio firmado entre a empresa e a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).  

De acordo com o levantamento, a Bahia está em 12º no ranking do isolamento no Brasil entre os 26 estados e o Distrito Federal. No Nordeste, por sua vez, a posição preocupa. O estado está em sétimo lugar entre os nove da região, só melhor que Piauí (43,1%) e Rio Grande do Norte (40,9%). 

Para calcular o índice, a InLoco utiliza um serviço de geolocalização dos dispositivos móveis. “Não há a identificação individual de nenhum usuário, uma vez que os dados são consolidados em clusters (grupos de usuários não identificados) e nenhum dado sensível (como etnia, religião, etc.) é coletado”, garantiu o especialista em produção de informações da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Rodrigo Cerqueira.  “Temos um compromisso firmado pela In Loco em preservar a privacidade dos usuários, respeitando o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados”, completou Rodrigo.  Esses índices são utilizados nos diversos estudos feitos pela SEI, Sesab e Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação acerca das ações de combate à pandemia. “Além disso, as autoridades municipais passam a saber sobre a situação do isolamento social, visando uma maior efetividade das políticas públicas voltadas ao combate da doença”, disse Rodrigo. 

Somente a cidade de Catolândia, no extremo-oeste da Bahia, não teve o seu índice de isolamento calculado pela InLoco. "A empresa trabalha com 60 milhões de usuários em todo o país. Eles não compreendem a totalidade da população brasileira e precisam de um critério que leva o município a entrar na base ou não, que é justamente o número mínimo de usuários cadastrados no sistema. Catolãndia não atendeu aos critérios mínimos amostrais para que a métrica fosse calculada e por isso ficou de fora do índice", explicou o especialista da SEI.

A arma é parar 

Para a neurocientista Claudia Feitosa-Santana, defensora do auto-isolamento, que concedeu uma entrevista ao CORREIO no início da pandemia sobre a importância de ficar em casa, disse que a arma continua sendo parar. “O que a gente falou anteriormente continua sendo verdade. Eu não sei de onde vem esse número de 70% da população ficar em casa. Para mim, o ideal mesmo é que só saia para a rua quem é essencial, pois quanto menos gente na rua, menor vai ser a taxa de contaminação”, defendeu.  

Claudia citou o exemplo de Taiwan como um país que lida bem com a pandemia ao aplicar o isolamento social. “Com quase 24 milhões de habitantes, Taiwan tem apenas 441 casos confirmados e sete mortes. Desde janeiro, eles estão vivendo com isolamento, com distanciamento, com uma série de regras rígidas”, destacou.  

Já a Bahia possui nove milhões a menos de habitantes do que Taiwan e quase 30 vezes mais casos do que o país asiático localizado ao leste da China, onde surgiu o coronavírus.  “As pessoas que ainda não entenderam o perigo do vírus. Ele é invisível, não emite som e não tem cheiro. Para entender algo com essas características, é preciso uma estratégia de comunicação e educação científica que façam as pessoas compreenderem a importância de ficar em casa”, disse a cientista Claudia Feitosa-Santana.  Em Salvador, cidade baiana com mais casos e óbitos decorrentes do coronavírus, o índice de isolamento registrado foi de 48,6%, abaixo do mínimo recomendado. “Logo no início da pandemia, nós chegamos a alcançar um índice de isolamento de 70% em Salvador. Mas com o tempo as pessoas começaram a voltar para as ruas, talvez pela velocidade do aumento de casos aqui não estivesse como em outros locais. O resultado a gente vê agora, com o aumento gradual de casos e óbitos na cidade”, disse a médica infectologista da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Adielma Nizarala. 

Ela defende que o trabalho realizado pelo poder público deve ser de conscientização da população sobre a importância das medidas de isolamento social. “Para isso, precisamos contar com o bom senso de todos. As pessoas parecem que ainda não se deram conta do perigo de ficar circulando sem um motivo essencial”, completou.   

Pelo interior 

Mais bem colocadas do que Salvador, 16 cidades baianas atingiram um índice de isolamento social acima de 50%, o mínimo recomendado. Um desses municípios é Cairu, cujo índice é de exatos 59,7%. Dona de Morro de São Paulo, terceiro destino turístico mais visitado do estado, a cidade recebia milhares de pessoas de diferentes lugares do mundo durante o ano todo.  

Agora, há no local determinações que restringem o convívio social e circulação de turistas nas ilhas. Entre as medidas, estão a interdição de praias, quadras, campos, piscinas de hotéis e clubes; suspensão de eventos culturais, esportivos e religiosos, bem como de passeios turísticos; e, impedimento de novos check-ins em locais de hospedagem, assim como aluguel de casas de temporada.  Imagem da cidade de Cairu vazia (Foto: Divulgação) Semana passada, o dono de uma lancha e o proprietário de uma pousada na cidade foram multados, por transportar e hospedar turistas de forma clandestina. O grupo de pessoas chegou a bordo da embarcação através da Praia da Gamboa, localidade vizinha a Morro de São Paulo, um dos principais destinos turísticos do estado. Eles foram flagrados por moradores, que denunciaram a situação à prefeitura. 

Mesmo sendo a segunda cidade com maior índice de isolamento, Cairu tem 12 casos de coronavírus e um óbito. Em nota, a secretaria de saúde da cidade informou que o local não possui transmissão comunitária e que não é possível confirmar como se deu a contaminação das mesmas, mas confirma que todos os casos positivos no município tiveram contato próximo entre si.  

A equipe de Vigilância Epidemiológica está realizando o monitoramento de todos os casos confirmados, que estão orientados a permanecerem em quarentena e a realizarem todos as medidas de segurança sanitária. “É importante que as pessoas fiquem em casa e respeitem as medidas de isolamento social. Elas são fundamentais para que o município e os profissionais de saúde possam trabalhar na prevenção e controle do número de casos”, reforçou a Secretária de Saúde, Italuana Guimarães. 

Por outro lado, os piores resultados registrados por municípios na Bahia foram de municípios que apresentaram índices inferiores de isolamento social abaixo de 30%. Tratam-se das cidades de Feira da Mata (26,2%), Tabocas do Brejo Velho (28,8%), Gavião (29,3%) e Ibotirama (29,5%). Só essa última cidade tem um caso confirmado da covid-19.  

Procurados, o prefeito de Feira da Mata, Aparecido Alves (PP), disse que o resultado se deve ao relaxamento das medidas de restrição de circulação que houve na cidade no início de maio. “Abrimos academias e bares, por exemplo. Mas essa semana, já na segunda-feira (18), fechamos tudo novamente, só deixando o essencial, como supermercados, açougue e farmácias”, disse.  

Já o prefeito de Gavião, Raul Soares (PSD), acredita que a chegada de pessoas de São Paulo e do Rio de Janeiro na cidade tenha contribuído para esse baixo isolamento. “Todo dia chega pelo menos um carro particular ou van trazendo pessoas de fora, que ficaram desempregadas. Nós fazemos o controle de quem chega e orientamos essas pessoas a ficarem em casa, isolados”, disse. Com quase cinco mil habitantes, Gavião possui mais de 200 visitantes cadastrados pela prefeitura, segundo Raul Soares.  “O que eu recomendaria para essas cidades pequenas, que não tem nenhum caso, é fechar as entradas da cidade para não ter importação do vírus. Faz mais sentido esses municípios fazerem um cordão sanitário do que esperar que os visitantes fiquem em casa, em contato com os familiares e vizinhos”, defendeu a neurocientista Claudia Feitosa-Santana. O CORREIO não conseguiu retorno dos prefeitos de Ibotirama e Tabocas do Brejo Velho, até o fechamento dessa reportagem.

Confira a lista das 16 cidades baianas com índice de isolamento social acima de 50%:  Jaguaripe (59,9%)  Cairu (59,7%)  Ouriçangas (56,2%)  Jandaíra (54,8%)  Cansanção (53,9%)  Itanagra (52,4%)  Conde (52%)  Maraú (52%)  Cachoeira (51,5%)  Apuarema (51%)  Nilo Peçanha (50,9%)  Novo Triunfo (50,7%)  Itaparica (50,5%)  Salinas da Margarida (50,5%)  Caraíbas (50,4%)  Maragogipe (50,1%)