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Donaldson Gomes
Publicado em 7 de junho de 2019 às 05:28
- Atualizado há 2 anos
O retrato é de 2017, entretanto o cenário de lá para cá permanece inalterado. A indústria baiana está regredindo, tal qual Benjamin Button, aquele do filme do caso curioso. Após os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mostrarem a menor participação do setor na economia em dez anos, ontem foi a vez da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2017 mostrar o encolhimento da atividade industrial na comparação com os outros estados da região Nordeste e mesmo com a média nacional. >
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Em dez anos, entre 2008 e 2017, a participação da indústria baiana na região Nordeste caiu de 52,6% para 40%. Em apenas um ano, entre 2016 e 2017, a atividade encolheu 2,6 pontos percentuais na comparação regional, passando de 42,6% para 40%. O estado manteve a sétima posição na participação do PIB industrial nacional, apesar da queda de 4,4% para 4% no resultado, entre 2016 e 2017. O valor adicionado pela atividade ao PIB apresentou uma retração de R$ 1,6 bilhão, em relação ao ano anterior. Foi o pior resultado em em termos absolutos e o sexto pior em termos percentuais. >
Mesmo com os resultados ruins, o estado manteve também a posição de liderança no total da atividade industrial na região Nordeste. Entre 2016 e 2017, quem mais ganhou participação na região foram os estados de Pernambuco – de 18,7% para 20,3%– e o Ceará, que passou de 14,3% para 15,0%.>
Comparando com 2008, quando a Bahia respondia por mais da metade do valor gerado pela indústria nordestina (52,6%), Pernambuco também lidera no ganho de participação, passando de 11,9% para 20,3%, e o Ceará apresenta o segundo maior aumento, passando de 11,6% para 15,0%.>
O lado bom Apesar de serem insuficientes para reverter a trajetória dos últimos anos, o ano de 2017 trouxe algum alento para a indústria. As unidades industriais em atividade no estado voltaram a apresentar saldo positivo no total de pessoas ocupadas, após três anos seguidos em queda. A indústria baiana fechou 2017 com 215.035 empregados, 1.375 a mais que em 2016 (+0,6%).>
Embora tenha sido um aumento tímido e longe de recuperar os 32.301 empregos perdidos pelo setor entre 2014 e 2016, o movimento foi na contramão da média nacional e representou o melhor resultado para esse indicador entre os nove estados da região Nordeste.>
No Brasil como um todo, o número de trabalhadores nas empresas industriais seguiu caindo, de 7.262.609 em 2016 para 7.213.944 em 2017, com saldo negativo de menos 48.665 empregados (-0,7%), de um ano para o outro. Houve retração do emprego na indústria em 16 dos 27 estados brasileiros nesse período.>
De 2016 para 2017, os maiores aumentos absolutos no número de trabalhadores no setor ocorreram no Paraná (+7.883), em Goiás (+5.587) e Minas Gerais (+4.357), enquanto os saldos mais negativos foram verificados em São Paulo (-35.461), no Rio de Janeiro (-17.035) e no Rio Grande do Norte (-5.590).>
A Bahia teve o oitavo maior aumento, tanto em números absolutos quanto em termos percentuais. >
Onde empregou O crescimento do emprego industrial na Bahia, entre 2016 e 2017, foi fortemente puxado pela indústria de transformação, onde o número de pessoas ocupadas passou de 202.072 para 203.340, representando mais 1.268 empregados (+0,6%) no período. Das 24 atividades de transformação investigadas na Bahia, dez tiveram saldo positivo no número de trabalhadores.>
Os três principais destaques ficaram com a fabricação de produtos alimentícios, que teve o maior aumento absoluto no número de pessoas trabalhando (de 38.913 em 2016 para 41.822 em 2017, mais 2.909, ou +7,5%). Em seguida surge a preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (de 27.955 para 29.264, mais 1.309 empregados ou +4,7%); e por fim, a fabricação de móveis, que passou de 5.295 postos para 6.227 pessoas trabalhando.>
O maior desempenho em atividades industriais com maior geração de empregos – como o setor de alimentos – e a queda em setores com maior impacto na dinâmica econômica, como os setores de petróleo e químico, ajudam a entender por que a atividade perdeu participação, apesar do aumento no número de empregos e de unidades industriais. >
“É um aumento pequeno, mas importante porque acontece após três anos de quedas. Só não teve um impacto maior no resultado da indústria porque a atividade é muito concentrada em setores que não foram bem, como o de petróleo e a indústria química”, explica Mariana Viveiros, analista de disseminação da informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).>
A analista do IBGE lembra que no período do estudo não houve registros de um grande número de fechamentos de unidades nas áreas de petróleo e na indústria química no estado. Para ela, o que explica a retração das atividades seria um volume menor de produção. “Precisamos lembrar que em 2017 a conjuntura era marcada por uma crise institucional no setor do petróleo, com problemas políticos e de gestão”, lembra.>
SDE aposta em uma retomada este ano>
O anúncio recente da Petrobras, de que vai oferecer ao mercado em breve 22 áreas de produção de petróleo em campos maduros na Bahia, é a aposta do vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico, João Leão, para a volta do crescimento da indústria de petróleo na Bahia. O setor de petróleo, ao lado do químico, liderou a retração da atividade industrial na Bahia em 2017, de acordo com a Pesquisa Industrial Anual (PIA), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). >
“A retração nestes dois segmentos ocorreu devido à conjuntura econômica do país e ao fechamento temporário da Fafen e à redução de produção na Rlam. Entretanto, o governo da Bahia está confiante em virtude do anúncio feito pela Petrobras, essa semana, de que oferecerá ao mercado 22 áreas de campos maduros, de óleo e gás, em dois polos baianos: Recôncavo e Ventura”, disse em nota enviada pela assessoria de imprensa. >
“Queremos colocar as áreas produtoras para funcionar, o que não pode é ficar parado, pois se os poços estiverem em funcionamento, eles vão gerar empregos, riquezas e renda para nosso povo e para a Bahia”, afirma.>
Sobre o aumento no número de empregos, Leão destaca o seguinte: “O crescimento do emprego no setor da indústria aqui na Bahia se dá pela retomada da atividade em alguns setores, destacando-se alimentos, calçados de couro e móveis, atrelado ao aumento no número de unidades fabris”.>
Entre 2016 e 2017, o total de unidades industriais na Bahia também aumentou, passando de 5.933 para 5.963, com 30 fábricas a mais, o que representou um crescimento de 0,5%. Foi a terceira maior expansão, em termos absolutos, dentre os estados brasileiros, menor apenas que as verificadas em Santa Catarina (mais 92 unidades fabris em um ano) e Alagoas (+37).>
Petróleo e química concentram queda>
A queda do valor agregado de transformação (VTI) da Bahia, que mede o que a atividade industrial acrescenta ao PIB, foi concentrada nos dois segmentos com maior participação na estrutura de valor da indústria baiana.>
O setor de petróleo, que responde por 20% do valor gerado pela indústria baiana, viu seu VTI cair 18,9% entre 2016 e 2017, passando de R$ 13,2 bilhões para R$ 10,7 bilhões (menos R$ 2,5 bilhões). Já a fabricação de produtos químicos, segunda atividade mais importante, responsável por 15,6% do valor gerado, apresentou um recuo de R$ 9,1 bilhões para R$ 7,3 bilhões, entre 2016 e 2017, que representou uma queda de 19,6%.>
O especialista em políticas públicas da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Luiz Mário Vieira, explica que as dificuldades vividas pela indústria se devem às dificuldades para a retomada nas atividades que têm um peso importante na formação do VTI. “Aqueles segmentos que eram importantes em 2017 e que são importantes agora ainda não apresentaram uma mudança de trajetória”, avalia Vieira. >
Para o economista, um sinal claro de que o cenário atual é parecido com o de 2017 foi a participação da indústria no PIB do primeiro trimestre deste ano. “Foi a pior participação da indústria nos últimos dez anos”, lembra. Segundo Luiz Mário Vieira, o cenário causa preocupação porque a atividade industrial é importante para uma retomada consistente do crescimento econômico. >
No cenário nacional, a indústria gerou R$ 1,2 trilhão de valor da transformação industrial em 2017. O resultado foi consequência de um valor bruto da produção de R$ 2,7 trilhões, menos os custos de R$ 1,5 trilhão das operações industriais. >
A indústria de transformação foi responsável por 91,3% da riqueza gerada em 2017. Em 2017, a indústria brasileira registrou faturamento bruto total de R$ 3,9 trilhões, sendo 82,5% relativo à receita bruta da venda de produtos e serviços industriais. Em dez anos, houve queda de 1,8 ponto percentual na participação dessa modalidade de receita, puxada pela indústria de transformação.>