Inquérito aponta que tiro que matou menina em Porto de Galinhas partiu de policial

Policial militar, cujo nome não foi divulgado, foi indiciado por homicídio doloso

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Publicado em 29 de julho de 2022 às 19:11

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Um policial militar lotado no Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi o responsável pelo tiro que matou a menina Heloysa Gabrielle, de 6 anos, na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco, em 30 de março de 2022.

As informações sobre o resultado do inquérito policial foram divulgadas, nesta sexta-feira (29), pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares e o Projeto Oxé – Atendimento Jurídico e Psicossocial para vítimas de Racismo, que prestam apoio jurídico à família de Heloysa.

Heloysa foi morta com um tiro no peito no momento em que ocorria uma perseguição policial. Na ocasião, os policiais envolvidos alegaram que houve uma troca de tiros - o que foi negado por testemunhas.

Uma reprodução simulada apontou que os tiros disparados partiram apenas da viatura - e não do suspeito que estava na moto (como disse a polícia). O inquérito ainda apontou que houve indícios de fraude processual praticada pelos policiais militares. 

A Polícia Civil, responsável pelo inquérito policial, não quis divulgar o resultado das investigações - apesar da promessa de transparência feita pelo secretário de Defesa Social, Humberto Freire, na época em que ocorreu a morte da menina.

O delegado Ícaro Schneider, responsável pela investigação, também foi procurado. Mas informou que não falava com a imprensa.

O policial militar, cujo nome não foi divulgado, foi indiciado pelo crime de homicídio doloso (por ter assumido o risco de atirar, mesmo sabendo da possibilidade de ocorrer uma morte).

O inquérito policial foi encaminhado nessa quinta-feira (28) para análise do Ministério Público. "A Promotoria de Justiça Criminal de Ipojuca confirma o recebimento do inquérito policial. Os autos serão analisados no prazo estabelecido no Código de Processo Penal, com a apresentação da manifestação ministerial no momento oportuno", informa nota do MP.

Relembre o caso

Policiais militares do Bope relataram, na época, que estavam perseguindo dois suspeitos que estavam em uma moto e que teria ocorrido uma troca de tiros. Foi nesse momento em que a menina acabou atingida pelo tiro.

Nas imagens de câmeras de segurança, divulgadas pela imprensa, só é visto um único homem seguindo de moto.

A versão de testemunhas diverge do relato dos policiais envolvidos na ação. Elas contaram que não houve troca de tiros e que apenas os policiais atiraram.

A morte de Heloysa resultou em protestos, fechamento do comércio e medo em Porto de Galinhas. Foi preciso reforço de centenas de policiais para que a situação na praia ficasse mais tranquila.

Em 26 de maio deste ano, outro fato chamou a atenção. Policiais do Bope mataram o suspeito que estaria sendo perseguido no momento da morte de Heloysa.

De acordo com a versão apresentada pela Polícia Militar, Manoel Aurélio do Nascimento Filho e mais dois homens estavam em um carro e iriam realizar um atentado contra um detento do Presídio de Igarassu, que seria liberado. Por isso, uma equipe do Bope teria ido ao local para evitar o crime. Na suposta troca de tiros, o suspeito foi morto.

A conduta dos policiais militares, nas duas ações, também está sendo investigada pela Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), mas ainda não houve uma conclusão.