Inquérito do caso de homem morto por idoso no Dois de Julho está perto de ser concluído

Defesa espera reconhecimento de homicídio doloso, quando há intenção de matar

Publicado em 8 de setembro de 2021 às 20:58

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Conduzido pela 3ª Divisão de Homicídios da Polícia Civil, o inquérito sobre a morte de Welton Lopes Costa, de 34 anos, atingido por disparo de arma de fogo, em frente a um bar no Largo Dois de Julho, está perto de uma conclusão.

O caso aconteceu no dia 22 de agosto, quando Welton discutia com a esposa e foi baleado por um idoso de 98 anos, identificado como Tzeu, que acreditou presenciar uma cena de agressão e retirada à força.

Sobre as investigações, Alberto Mariano, advogado responsável pelo caso, revelou que o delegado Oscar Vieira de Araújo Neto, titular da unidade, contou que elas estariam bem adiantadas. “O delegado já ouviu várias pessoas e só está aguardando algumas oitivas [ato de ouvir testemunhas] que faltam para encerrar”, disse.

Em nota, a Polícia Civil confirma que o inquérito já avançou bastante. “Continuamos a apuração, com a realização de novas oitivas, enquanto aguardamos o resultado de laudos do Departamento de Polícia Técnica”, informou.

A defesa da vítima ainda destaca que as investigações correm dentro do prazo. A expectativa é que, com a conclusão, o delegado reconheça que houve intenção de matar por parte do idoso. “O que a gente espera é exatamente isso, que o senhor que matou seja denunciado por homicídio doloso, até porque, as oitivas que tem lá deixam claro, realmente, que o senhor matou aquela pessoa. Em nenhum momento houve qualquer tipo de discussão ou briga entre a vítima e o idoso”, afirmou o advogado.

Mariano pontua ainda que, após a tipificação do crime, feita pelo delegado, o caso será enviado ao Ministério Público para, possivelmente, oferecer denúncia à Justiça. Contudo, se aceito, o processo poderá correr enquanto o acusado responde em liberdade.

“Se ele [Tzeu] estiver hoje com bom comportamento, não estiver tentando fugir, destruindo provas ou intimidando testemunhas, é complicado que um juiz decrete a prisão preventiva. Somado com a idade dele”, conta Mariano. “Neste caso específico, considerando que ele está solto e poderá responder o processo em liberdade, eu acho difícil [que ele seja preso], mas depende do entendimento do delegado de polícia e do promotor, caso ele conclua que houve realmente um homicídio doloso. Tudo é possível", conclui.

Dor imensa

Com o avanço das investigações, a família da vítima se une pelo sentimento de justiça. O irmão mais novo da vítima, Welbert Lopes, 33, diz que a família espera que o acusado seja condenado e preso.

“Ele destruiu nossa família, ele pegou o melhor de nós e tirou, matou sem nenhuma justificativa. Não tem como explicar o que ele fez, espero realmente que ele seja condenado e preso”, desabafa. “Tudo o que a gente faz no dia a dia lembra meu irmão, ele faz uma falta grande para todos nós.”

Welbert conta que a família está completamente abalada. Eles costumavam fazer tudo juntos, moravam todos - a mãe e os três filhos adultos, com suas respectivas famílias - em um mesmo prédio, mas agora, com o luto, todos foram tomados pela tristeza e desânimo.

“Ele foi e a gente parece que foi junto, porque a gente perdeu a vontade de tudo, de tudo mesmo. A gente só está aqui sendo movimentado por interesse de tentar juntar uns aos outros”, explica. “Eu estou aqui porque minha mãe precisa de mim e minha mãe está aqui porque precisamos dela.” 

O filho de 14 anos de Welton Lopes, que presenciou a morte do pai, é um dos mais afetados pela perda. O tio Welbert explica que o menino quer visitar a avó no prédio em que todos moram, localizado no bairro Dois de Julho, mas tem medo de passar por onde tudo aconteceu. 

“Eu falei com meu sobrinho hoje. Ele quer vir ver a avó, mas a cabeça dele fica a mil assim, de ver o pai caído. Às vezes, também vem na minha mente a imagem do meu irmão olhando para o nada, para o vazio, tentando respirar e não conseguindo”, revelou. 

Sem chão, Welbert diz que perdeu um irmão e um amigo, e que essa dor imensa jamais irá passar.

Relembre o caso

Um homem de 34 anos foi morto a tiros na tarde do domingo (22) no Largo Dois de Julho, em Salvador. Welton Lopes Costa foi baleado durante uma discussão com um idoso de 98 anos. Um vídeo feito por uma testemunha flagrou o momento do crime. Outro registro mostra o momento em que o irmão da vítima e outras pessoas impedem o idoso de sair do local.

"Por que o senhor fez isso com meu irmão? É um pai de família, trabalhador. Você vai ficar aqui. Você está preso em flagrante", diz o irmão de Welton nas imagens. O filho de 14 anos e a esposa da vítima também presenciaram o crime - ela também ficou ferida.

Segundo moradores, Welton comprou um carro novo ontem e estava celebrando. Todos os envolvidos moram na região. A esposa dele, Jennifer, que trabalha em uma padaria da região, demorou para voltar para casa e ele acabou indo até o local para buscá-la porque os dois filhos estavam com fome. Na volta para casa, os dois começaram a brigar.

O suspeito, um idoso identificado como Tzeu, que é policial militar aposentado, segundo os moradores, estava bebendo em uma churrascaria próxima desde cedo. Ele viu a discussão e se aproximou. O vídeo mostra que ele seguiu o casal, mas foi ignorado pelos dois. O idoso é conhecido como uma pessoa temperamental e agressiva pelos moradores da região, que dizem que é normal ele andar armado. As imagens não mostram nenhum tipo de agressão - a cena sai de foco, mas logo é possível ouvir os disparos.

Testemunhas contam que ouviram ele dizer: "Olha para cá, seu filho da puta!". Welton chega a virar - momento em que o idoso atira três vezes. Dois tiros atingiram Welton no peito e o terceiro atingiu Jennifer no pé. O filho adolescente, que tinha acompanhado o pai, se afastou ao notar a presença de Tzeu, justamente por saber do histórico dele, mas voltou a ouvir a confusão e viu o pai ser baleado. Welton chegou a ser socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. Jennifer foi levada para a mesma unidade.

Logo depois do crime, o idoso é dominado pelos moradores. Levado para a delegacia, ele alegou que agiu para se defender após ser agredido no braço, de acordo com as testemunhas. Também contou que Welton estava agredindo a mulher, o que não aparece nas imagens. Os moradores dizem que a lesão no braço dele foi do momento após o crime, quando parte das pessoas tentou linchar o idoso e outra parte impediu.

Em nota, a Polícia Civil diz que o caso é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS). O idoso foi ouvido e liberado, mas continua sendo investigado, informa a instituição. A arma, um revólver calibre 32, foi apreendida e imagens de câmeras de segurança serão analisadas. O suspeito poderá ser indiciado por homicídio e tentativa de homicídio.